A realidade da CRISE brasileira e o volei – direto do baú das boas ideias

Hoje, conversando com uma amigo empresário aqui da Grande Vitória resolvi remexer no baú das boas recordações para discutir a questão da crise que estamos vivenciando tanto no modelo de governo como também, e mais cruel, no ambiente econômico. Busquei na minha biblioteca virtual um artigo escrito a partir de um belo livro do Professor Vianna que iremos republicar aqui no blog com algumas considerações próximas a um processo mínimo de atualização de dados pois o conteúdo permanece o mesmo, depois de tantos anos, como pode ser constatado.

GAF_2016.04.02_12h39m09s_005_Marco Aurélio Vianna – Fundação Getulio Vargas, professor, conferencista e escritor (com títulos pela Qualitymark Editora) percorreu todo o Brasil com suas teses e estudos focados no desenvolvimento e eficácia da gestão como base para o crescimento das organizações e principalmente na árdua tarefa de vencer as crises que teimam em nos atingir. Vianna faleceu em 2014 deixando um legado de 39 livros publicados.

Na época em que o livro foi escrito (“Que crise é esta? Atributos de uma Empresa Triunfadora” – 1993) não se falava outra coisa que não fosse a tal crise – FHC estava  como ministro de Itamar Franco trabalhando no projeto do Plano Real como base para o domínio da hiperinflação que assolava o país.

Vianna, de forma magistral, usou o projeto do Volei brasileiro para mostrar alguns caminhos que poderiam servir de inspiração para nossas organizações. Nossa ideia aqui, buscando no baú das grandes e boas ideias é fazer um comparativo com a realidade de 2016.

Vamos ao texto: “Tudo começa no ano de 1975, quando um verdadeiro triunfador, o advogado Carlos Arthur Nuzman, ex-jogador da própria seleção brasileira, assume a presidência da Confederação Brasileira de Vôlei, com planos muito acima do comportamento médio anterior. Sua obsessão era literalmente levar o vôlei brasileiro ao triunfo absoluto. Sua meta específica: tornar-se campeão olímpico e campeão mundial sete anos depois, respectivamente no Campeonato Mundial de 1982 em Buenos Aires e nos Jogos Olímpicos de 1984 em Los Angeles. É sempre importante lembrar que em 1976 o vôlei masculino brasileiro ocupava a 12ª posição no ranking mundial atrás de, entre outros, Japão, EUA, URSS, Cuba, Itália, Tchecoslovaquia, Iugoslávia, Hungria, Coreia. É, também, importante lembrar que nossos concorrentes não tinham na atividade daquela época uma atuação esportiva comum. Países com URSS, Cuba e todos os demais da Cortina de Ferro defendiam uma ideologia e até um modelo político, além de dependerem do sucesso nas quadras para conquistar feitos materiais únicos. Por exemplo, na década de 70, um campeão olímpico soviético ganharia como prêmio um automóvel em um ano, o que faria que ele deixasse de esperar quase 20 anos na fila pelo mesmo automóvel.GAF_2016.04.02_12h02m48s_001_

O time do Japão, campeão mundial e olímpico pela primeira vez na década de 70, criava uma escola de eficiência e evidentemente não gostaria de abrir mão de suas conquistas recentes. Os Estados Unidos, que até então relegavam o voleibol a esporte inferior, passavam a colocá-lo em patamar prioritário e, também, jogavam, com grande intensidade, na obsessão pela vitória. Dessa maneira não se tinha um padrão de concorrência normal. Certamente uma análise utilizando a metodologia tradicional de Planejamento Estratégico teria concluído que a CBV jamais atingiria seu sonho. A análise de suas fraquezas impediria qualquer ação mais heterodoxa. No entanto, foi exatamente quebrando paradigmas que o visionário Nuzman conseguiu completar seu projeto.

INDICADORES DE DESEMPENHO

A primeira constatação feita pelo então recém-contratado técnico – o líder Bebeto de Freitas – foi a óbvia conclusão de que o time brasileiro era muito mais baixo do que seus concorrentes. Enquanto o time soviético tinha a média de 1,98, nosso time atingia o índice de 1,84. Na década de 70, cortadores titulares de uma seleção tinham algo em torno de 1,70. A segunda constatação era a de que nosso time pulava pouco. Enquanto um Joel Despaigne pulava 1,15, nosso time na média pulava 0,70cm. Por isso, brincando com muito carinho, costumo dizer que nossos bloqueadores naquela época levavam binóculo para conseguir ver um OVNI (Objeto Voador Não Identificado) passando a mais de 70 centímetros de distância. É evidente que o OVNI era a bola cortada por nossos adversários.

ESTRATÉGIA

A primeira mudança séria de paradigma consistiu na estratégia de convocação dos atletas. No modelo anterior eram convocados os 20 melhores jogadores de vôlei do Brasil, independentemente de sua altura. A partir da nova exigência, passava a prevalecer a altura em conjunto com a capacitação como atributos mais importantes.

Em seguida, na segunda mudança de orientação, lidava-se com um projeto mais complexo que dependia de uma readequação do condicionamento físico. Certamente, nesta época, não foi feito um memorando na forma mostrada logo a seguir, como uma ordem determGAF_2016.04.02_12h08m16s_003_inante, típica de uma “empresa muito exigente”. Infelizmente, na realidade das empresas brasileiras, tenho sentido que muitas vezes a complexa matéria de produtividade e competitividade tem sido tratada com o grau de leviandade do memorando abaixo. Ao contrário, no time brasileiro foi desenvolvido um sério trabalho, em nível tecnológico de padrão internacional, desenvolvido pelo Dr. Mário D´Angelo, PhD em Medicina Biomecânica e com curso de formação e aperfeiçoamento em centros avançados de vários países do Primeiro Mundo.

DESEMPENHO

Ano a ano, mês a mês, o time conseguiu galgar posições, e sete anos depois, muito próximo do previsto, o Brasil conquista os vice-campeonatos olímpico e mundial, perdendo para os EUA  e a URSS. Oito anos depois, consolidando o trabalho feito naquela época, e trabalhando cada vez mais o sentimento de time, e não o somatório de valores individuais, o Brasil conquista o que parecia impossível: a primeira medalha de ouro de esportes coletivos em uma Olimpíada, em uma façanha que se coloca como dos melhores desempenhos de qualquer campeão olímpico de vôlei. É preciso lembrar que, em sete partidas, perdemos apenas três sets.

LIÇÕES PARA A VIDA EMPRESARIAL

Vale a pena refletir sobre esse exemplo. Os desafios de competitividade que  empresas brasileiras têm hoje talvez sejam problemas pequenos diante dos desafios de nosso vôlei há 15 anos (em relação a 1998, ou seja 1983). O perfil do presidente Nuzman é muito mais uma lição para que empresas possam chegar ao Triunfo do que simplesmente uma visão focada no mundo esportivo:

Visionário – antes e acima de tudo, ele tem a capacidade de jogar no “ponto futuro”, tanto no sentido da percepção das tendências como do autoposicionamento, criando o verdadeiro sentido do self fulfilling prophecy.

Fazer acontecer – na obstinação dotada de assertividade, faz com que as coisas efetivamente aconteçam; em casos extremos com técnicos e jogadores mais complexos, até chegou ao limite de contratar um treinador coreano – Young Wan Sohn – quebrando paradigmas, mas demonstrando sua verdadeira autoridade.

Foca no Positivo – quando perguntado sobre seus problemas, ele rebate de pronto: “Defeitos? Prefiro falar das Qualidades.” Esse é um atributo cada vez mais consolidado nos Líderes Triunfadores, que consiste do desenvolvimento da trilha do positivo.

Lucidez Financeira – quando teve a capacidade de arregimentar recursos financeiros para cobrir suas necessidades, demonstrou que a partir de um serviço com excelência é possível criar as condições para o desenvolvimento. Fica uma reflexão importante dessa sua capacitação: por que antes de Nuzman o vôlei era amadorístico, e depois deixou de ser? Seu sucesso nos patrocínios obtidos foram simplesmente fatores críticos fundamentais de sucesso na rota do time campeão.

Criatividade – quando percebeu que os jogos nas Olimpíadas de Barcelona seriam de manhã – o que era péssimo para os nossos jogadores – , arregimentou todos os recursos possíveis e conseguiu transferi-los para a tarde e a noite, ficando o Brasil como único País que não jogou pela manhã.

Atualização – em nenhum momento, nos mais diversos campos, da informática à medicina, deixou de estabelecer a estratégia de estado-da-arte. Hoje, a Confederação Brasileira de Vôlei pode ser considerada como paradigma de excelência em nível internacional, superando, ou pelo menos igualando-se, a qualquer país de Primeiro Mundo.

Conhecimento de Negócio – por ser um ex-jogador (aliás muito bem-sucedido), ele traz para sua administração o completo domínio dos mais diversos meandros do “negócio voleibol”.

Vontade de Triunfar – atributo fundamental em qualquer atividade que queira proceder ao caminho do desenvolvimento, este combustível principal, aliado à lucidez da montagem estratégica, acaba formando a “dupla irresistível do Triunfo”.

O conteúdo deste belo exemplo de Triunfo é complementado pelo seguinte depoimento do presidente da CBV.

Em termos administrativos, a primeira medida após a avaliação inicial de todo o processo foi a profissionalização de todos os setores da CBV, inclusive das comissões técnicas das seleções brasileiras.

Na área técnica, decidimos pela renovação de atletas em médio prazo, buscando desenvolver parâmetros físicos, técnicos e disciplinares que nos aproximassem do nível internacional. Assim, implantamos, em 1976, o treinamento total, atuando com atletas juvenis durante 10 meses em regime centralizado, GAF_2016.04.02_12h21m37s_004_com duas ou três sessões diárias, de Segunda-feira a Sábado.

Para conseguirmos, a logística necessária para a execução desse projeto, mobilizamos o Governo Federal, transferindo as atividades estudantis de todos os participantes para as cidades-sedes escolhidas, isto é, Rio de Janeiro para o masculino e Belo Horizonte para o feminino. A conseqüência imediata deste trabalho foi observada durante a realização do Campeonato Mundial Juvenil em 1977, quando a seleção feminina sagrou-se quarta colocada e a masculina conquistou a medalha de bronze, tendo o voleibol brasileiro subido ao pódio pela primeira vez na sua história. A conseqüência em médio prazo foi a estruturação da seleção adulta masculina, com a inclusão desses atletas, formando a representação nacional que viria a ser Vice-Campeã Mundial e Medalha de Prata nas Olimpíadas de Los Angeles. Extraído do livro: “Que crise é esta? Atributos de uma Empresa Triunfadora” (VIANNA, Marco Aurélio F.)

CONCLUSÕES E OS DIAS ATUAIS

É sabido por todos nós o que aconteceu após a publicação deste artigo em 2003 até o presente momento.

Dados do wikipedia: Em julho de 2010 a seleção brasileira masculina conquistou o eneacampeonato da Liga Mundial da FIVB (1993, 2001, 2003, 2004, 2005, 2006, 2007, 2009 e 2010), tornando-se a seleção nacional mais bem-sucedida da história do campeonato. Ainda em 2010, a seleção conquistou o tricampeonato mundial de forma consecutiva. Nos últimos anos vem ocupando o primeiro lugar geral do ranking da FIVB. Nas categorias de base (sub-19 e sub-21) ocupa o segundo lugar geral do ranking da FIVB (210 pontos em 2 de setembro de 2013). A seleção brasileira é considerada uma das equipes mais fortes do planeta.

Devemos também refletir sobre o desempenho excepcional de Bernardinho na Seleção pontuado por vários títulos nos últimos anos.

A sede de vitórias continua, e as estratégias e competências também.

Compete a cada um de nós, revermos no campo da Gestão e Resultados no ambiente empresarial nossa capacidade de mudança dos paradigmas para enfrentar uma crise real e importante que tem dizimado milhares de negócios em todo o país. Fica a pergunta: Podemos virar o jogo?

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