Publicado em: 29/11/2021 às 08:30:03

Jorge Oliveira é CEO da ArcelorMittal Aços Planos América do Sul. Engenheiro metalúrgico, formado pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Rio de Janeiro, participou de capacitações para liderança como o STC Executivo na Kellog School of Management (EUA), fez pós-graduação em Gestão de Negócios pela Fundação Dom Cabral e o Insead, da França. 

Começou a carreira na ArcelorMittal Tubarão como trainee, assumindo várias gerências, até 2014, quando assumiu a vice-presidência de Operações do segmento de Aços Planos América do Sul. Em 2019, aceitou o desafio do grupo de liderar como CEO a planta do Alabama, nos Estados Unidos, retornando neste ano como CEO do Segmento de Aços Planos na América do Sul, cargo que ocupa atualmente.

A ArcelorMittal Tubarão (ES) é uma produtora de aço de renome internacional, especializada em aços planos – placas e bobinas laminadas a quente, com capacidade instalada para produzir 7,5 milhões de toneladas ao ano. Esses produtos são utilizados em indústrias de diversos setores, como automobilístico, eletrodomésticos, naval, tubos, construção civil, implementos agrícolas, entre outros.

A empresa está instalada numa área de 13,5 milhões de metros quadrados, sendo 52% de área verde. Dispõe de infraestrutura completa, que lhe proporciona condições privilegiadas tanto para a produção quanto para o abastecimento de seus clientes no Brasil e no exterior. A empresa é uma das líderes entre as fornecedoras de aço da alta qualidade e ocupa posição de vanguarda como promotora do desenvolvimento sustentável, atuando pioneiramente em ações de gestão ambiental e relações com a comunidade.

 

Você foi eleito líder no seu segmento de atuação por votação popular. A que atribui sua vitória? Por que as pessoas o elegeram líder?

Costumo enaltecer, nas minhas falas e entrevistas, a importância das pessoas na condução e na gestão de qualquer negócio. São os empregados, o nosso capital humano e nosso mais importante ativo que fazem com que uma empresa cresça, se desenvolva, se destaque no mercado. Digo isso porque, na verdade, eu, sozinho, não ganhei nada. Quem ganhou esse reconhecimento foi toda a nossa grande e afinada equipe que, no nosso dia a dia, entrega o seu tempo, a sua dedicação e a sua excelência. Se hoje somos reconhecidos pela liderança em maiores empresas é porque temos o suporte de um grande time de profissionais engajados, comprometidos e focados em fazer, diariamente, o melhor trabalho.

 

Qual seu conceito de liderança?

Liderar é dirigir pessoas, saber atraí-las, inspirá-las e influenciá-las, motivando-as a entregarem sempre o melhor de si em busca dos melhores resultados, sempre tendo o respeito ao próximo como fundamento básico. Ou seja, implica um processo que vai muito além de você mesmo, pois envolve as outras pessoas. Não há como ser um bom líder sem boas pessoas para serem lideradas. É uma relação indissociável. No final, a liderar nada mais é do que manter um relacionamento com seus seguidores marcado por respeito, aprendizado, confiança, transparência, troca de experiências e, principalmente, reciprocidade. Ninguém faz nem conquista nada sozinho. E isso vale também para a liderança.

 

Por que é importante ter uma liderança positiva e como praticá-la?

Comandar, inspirar e estimular seus liderados é apenas uma parte da missão de ser líder. Para que esse processo realmente aconteça de forma positiva para todos e alcance os resultados desejados, é preciso que essa liderança valorize os pontos fortes dos colaboradores e incentive o desenvolvimento de suas competências e habilidades. Em outras palavras, é preciso que haja respeito. Ele é o princípio de tudo. Quando se respeita o outro, se desenvolve confiança gerando transparência, ficando mais fácil engajar, melhorar desempenho, aumentar eficiência. O resto flui. A positividade, a inspiração, a colaboração são consequências desse processo.

 

Na sua avaliação, como é possível encontrar o equilíbrio e desenvolver uma liderança mais humana, capaz de engajar pessoas?

Acredito que o caminho de liderar para engajar pessoas passa obrigatoriamente pela valorização do respeito. E quando falo em engajar não falo de motivações temporárias, mas de um compromisso profundamente enraizado em cada profissional em relação ao seu trabalho, a sua empresa, a sua equipe, aos seus colegas, aos seus clientes. O engajamento só acontece de fato quando as pessoas sentem que elas e o seu trabalho são respeitados pela empresa onde atuam.

 

Quais comportamentos e habilidades precisam estar mais desenvolvidos no líder?

Há uma série de comportamentos e competências que precisam ser observados por quem deseja se tornar um líder. Para citar alguns, posso mencionar, por exemplo, a habilidade de se comunicar, construindo uma experiência positiva para os seus subordinados. Ser coerente, transparente e liderar pelo exemplo também são atitudes essenciais, assim como promover uma cultura de desenvolvimento, de inovação e de melhoria contínua. Mostrar que sempre podemos ser melhores. São muitas as habilidades que podem e devem ser trabalhadas por um líder, mas, para não deixar de citar uma que considero valiosa, hoje, mais do que nunca, devemos abraçar as diferenças, não padronizar as pessoas e incentivar, ao máximo, a colaboração e a integração entre profissionais de perfis diferentes.

 

Qual o papel do líder para a garantia da diversidade na companhia?

Sem receio de ser repetitivo, volto a destacar a importância e a necessidade da valorização ao respeito. Vivemos um momento de grandes transformações nas organizações e nas relações humanas. E uma das lições que temos aprendido é sobre a importância da construção coletiva. As melhores soluções têm sido promovidas a várias mãos, em conjunto, e, como os problemas e demandas estão cada vez mais complexos, as soluções precisam ser mais criativas e multidisciplinares. Cabe ao líder ter essa percepção e se esforçar para ser reflexo de um bom profissional e um bom ser humano para seus liderados.

 

A quais outras pautas e temas o líder precisa estar atento nos dias atuais?

Ser líder é uma jornada de aprendizado, é estar atento todos os dias a si mesmo e aos que estão a sua volta. Por isso, temos que estar sempre disponíveis a aprender, inovar e, ainda, ter equilíbrio emocional e autoconsciência para administrar e gerenciar crises e reveses da melhor forma possível. Também precisamos praticar a empatia, ter a capacidade de nos colocar no lugar do outro para, somente assim, conseguirmos comandar a organização considerando a equipe em primeiro lugar.

 

Quais foram seus maiores desafios e conquistas até hoje enquanto líder?

Ao longo da minha carreira, passei por grandes desafios e muitas oportunidades. Um dos episódios mais recentes e que me marcou bastante foi a crise hídrica pelo qual passamos em 2014, quando eu ainda estava no Brasil. Foi um período difícil, pois tivemos que tomar decisões rápidas e importantes, incluindo reduzir o consumo de água na empresa. E posso dizer, com muito orgulho, que o engajamento do nosso pessoal foi fundamental. Mobilizamos os nossos empregados na busca de soluções e fomos positivamente surpreendidos com quase 300 sugestões de ações, e, muitas delas, culminaram em importantes projetos voltados à redução do consumo de água em nossos processos até hoje. Foram situações como essa que reforçaram, em mim, o papel das pessoas como essenciais em qualquer processo. Máquinas, tecnologias e equipamentos são importantes, claro, mas são elas, as pessoas, que fazem tudo mover, mudar e evoluir.

 

Qual é, para você, o futuro da liderança? Que habilidades precisa ter o líder do futuro?

Acho que passa muito pela inovação. O líder do futuro precisará investir cada vez mais na cultura da inovação e da criatividade, que já são diferenciais competitivos para todos os setores produtivos. Também saber descentralizar decisões, gerenciar conflitos, promover a autonomia das suas equipes, estar em aprendizado e evolução constante. Tudo isso, mas sobretudo estar atento ao capital humano da empresa que sempre foi e continuará sendo o maior valor de qualquer organização e precisa ser respeitado sempre.