Tombini: efeitos desinflacionários da política monetária devem preponderar
São Paulo - O presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, ressaltou nesta quinta-feira, 7, que o processo de evolução da inflação no ano passado foi mais marcante em função de ajustes de preços relativos, especialmente dos administrados, e da variação do câmbio. "No que diz respeito ao ajuste monetário, a inflação em 2015 foi intensa e negativamente afetada pelo fortalecimento do dólar norte-americano e pelo realinhamento dos preços administrados em relação aos preços livres da nossa economia", ponderou.
Para Tombini, essa mudança nos preços relativos se mostrou "mais prolongada e mais profunda" que a inicialmente prevista, perdurando durante todo o ano de 2015, mas não se limitando a ele. Ele destacou o processo de recomposição de receitas tributárias observado nos níveis federal e estadual no início deste ano, "o que nos levou aos patamares de inflação observados recentemente e repercutiu sobre o horizonte de convergência da inflação para a meta."
Numa conjuntura de forte alteração de preços relativos, combinada com mecanismos inerciais no processo de formação de preços na economia, "o Banco Central vem atuando para conter a propagação desses aumentos para os demais preços da economia, de modo a evitar a transmissão dos níveis mais elevados de inflação corrente para períodos mais distantes", disse.
No entanto, pondera Tombini, enquanto os efeitos da mudança de preços relativos na inflação ocorreram de forma rápida, os resultados da atuação do Banco Central são registrados gradativamente e os efeitos da política monetária sobre a formação de preços demoram mais tempo para se materializar. "Contudo, na nossa visão, de agora em diante, os efeitos desinflacionários da política monetária tendem a preponderar sobre os efeitos de segunda ordem da mudança de preços relativos ocorrida majoritariamente em 2015 e início de 2016", ressaltou.
Para o presidente do BC, após uma inflação mensal elevada em janeiro, causada principalmente por aumentos significativos nos preços de alimentos in natura e de transporte público, o mês de fevereiro representou o início do declínio da inflação acumulada em 12 meses, corroborado pela variação do IPCA-15 de março. Segundo Tombini, nos próximos meses, outros importantes fatores levarão à manutenção da tendência de declínio da inflação.
"Primeiro, espera-se uma maior convergência entre a variação de preços administrados e de preços livres para 2016", apontou Tombini. O presidente do BC disse que vários itens dos preços administrados que pressionaram a inflação de forma significativa em 2015 devem apresentar comportamento moderado este ano. Depois de a maior parte do ajuste ter sido realizada no ano passado, a razão entre os preços administrados e os preços livres está mais alinhada, em patamar próximo ao do final da década passada.
"Segundo, o hiato do produto, mais desinflacionário do que anteriormente previsto, deverá reduzir a pressão sobre os preços em 2016, limitando a propagação da inflação para horizontes mais distantes", ressaltou o presidente do BC. Para ele, o ajuste das condições da economia real tem sido significativo e contribuirá para a redução da inflação. "No mesmo sentido, a distensão no mercado de trabalho tem se intensificado, servindo para conter as pressões de custos na economia.
Tombini destacou que a experiência histórica e a literatura econômica mostram que a transmissão das condições do lado real da economia para os preços ocorre com defasagens, embora de forma cumulativa no tempo. "Por esse motivo, é importante que os desdobramentos da gestão da política monetária sejam avaliados sob uma ótica prospectiva", comentou. "Outro fator que deverá contribuir para uma trajetória declinante da inflação nos próximos meses será um menor impacto do câmbio sobre os preços domésticos em 2016, seja por uma expectativa de menor depreciação comparativamente a 2015, seja porque o coeficiente de repasse cambial tende a ser menor em um ambiente de demanda agregada doméstica mais retraída."