Economia

Argentina afeta indústria do RS, que tende a demitir

Redação Folha Vitória

Porto Alegre - O presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), Heitor José Müller, afirmou na tarde desta sexta-feira, 18, que o setor industrial deve intensificar a demissão de empregados a partir do próximo mês, influenciado pelo desaquecimento da economia e pela crise vivida pela Argentina. "O pessoal já está segurando desde abril, maio, junho, julho, esperando terminar a Copa do Mundo para ver se (o Mundial) estava influenciando negativamente. Mas até agora realmente (não está melhorando)", disse em entrevista coletiva na capital gaúcha.

Segundo ele, o otimismo do empresariado local está em baixa, os investimentos estão praticamente parados e os novos projetos podem ser "contados na ponta dos dedos". Os indicadores recentes mostram que o emprego industrial já está recuando no Rio Grande do Sul em taxas acima da média nacional.

De acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, em junho foram eliminados 4.866 empregos no Rio Grande do Sul, o equivalente a uma redução de 0,18% em relação ao estoque de assalariados com carteira assinada do mês anterior. A indústria de transformação registrou o maior saldo negativo, de 3.533 postos.

Müller disse que o Estado é especialmente vulnerável à crise argentina, por causa da proximidade geográfica e do extenso comércio com o país vizinho, hoje enfraquecido. "As exportações já vêm diminuindo nos últimos anos", explicou. Segundo ele, a dificuldade do governo argentino em fechar um acordo com os credores que não aceitaram a reestruturação da dívida soberana - o que coloca o país próximo de um calote - prejudica ainda mais a situação das indústrias gaúchas.

"Isso aumentou (a vulnerabilidade), e se houver um default total da Argentina nós teremos um problema maior ainda", afirmou. Müller conta que há cerca de três meses recomendou que as empresas não se expusessem demais ao mercado argentino e procurassem outros parceiros comerciais. "Se ocorrer de fato o problema que está se avizinhando (default), muita gente aqui não vai receber. Consequentemente, vai diminuir a produção e o emprego industrial", avaliou.

O presidente da Fiergs criticou a estagnação nas negociações para um acordo bilateral entre Mercosul e União Europeia. "Não está saindo por imposição da Argentina, que não quer. Como as decisões (no Mercosul) são tomadas por unanimidade, não está saindo", falou. "Além de todos os problemas que a Argentina nos causa no comércio bilateral, está nos causando problemas também na busca por novos mercados."

Ele acredita que um agravamento da situação econômica argentina atingiria principalmente os segmentos de móveis, couros e calçados e máquinas e implementos agrícolas, que destinam boa parte da produção à nação vizinha. Müller será empossado hoje à noite para seu segundo mandato à frente da Fiergs. A cerimônia terá a presença da presidente Dilma Rousseff, além do governador gaúcho, Tarso Genro, e outras autoridades.

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