Após 100 dias do vencimento, Andrade renegocia dívida de US$ 345 milhões
A proposta teve adesão de 97% dos credores e prevê a expansão do vencimento de 2018 para 2021, segundo comunicado enviado aos detentores dos títulos
Depois de quase cem dias de atraso, a Andrade Gutierrez conseguiu fechar um acordo para renegociar US$ 345 milhões (R$ 1,28 bilhão) em dívidas com investidores estrangeiros. A proposta teve adesão de 97% dos credores e prevê a expansão do vencimento de 2018 para 2021, segundo comunicado enviado aos detentores dos títulos. A oferta ficará aberta para novas adesões até 15 de agosto.
A renegociação está dividida em dois grupos. Um deles, que representa 19% dos títulos antigos, optou por alongar o vencimento dos papéis para 2021. Os demais 81% terão uma parte em dinheiro e o restante em 2021. De acordo com a oferta, os investidores desse grupo receberão US$ 136,54 para cada US$ 1 mil em títulos detidos. No total, serão pagos agora US$ 37 milhões (R$ 138 milhões), que sairão do caixa da empresa.
Para fechar o acordo, a Andrade deu como garantia ações que detém da CCR - empresa de concessões públicas - e elevou os juros pagos nos títulos, de 4% para 11% ao ano. A renegociação foi concluída na sexta-feira, após meses de conversas. A dívida da empreiteira, envolvida na Operação Lava Jato, venceu em 31 de abril, sete dias depois de o Tribunal de Contas da União (TCU) bloquear R$ 508 milhões da empresa por suposto superfaturamento no contrato de obras civis da usina nuclear de Angra 3.
A decisão dificultou as negociações que já estavam em andamento. Desde então, a empresa tentou várias alternativas. Uma delas foi negociar com a gestora Pimco um crédito para pagar a dívida vencida e outras que estavam por vencer com bancos públicos e privados. Mas a operação não foi adiante, segundo fontes, por causa das garantias apresentadas. Com o envolvimento da CCR na Operação Lava Jato, principal ativo da Andrade, o valor de mercado da empresa caiu e comprometeu as garantias.
A ideia inicial era fazer uma nova emissão de títulos de US$ 540 milhões (R$ 2 bilhões) para rolar a dívida vencida e dar fôlego novo à empreiteira. Para isso, o conselho de administração aprovou em maio a operação e deu garantia pessoal dos acionistas e garantias reais da companhia para tornar a operação viável.
Por causa da demora no fechamento do acordo, a agência de classificação de risco Moodys rebaixou o rating da construtora para C - a pior nota da escala. A agência entendeu que os recursos em caixa não eram suficientes para cobrir a dívida. Até setembro, último dado disponível, a empreiteira tinha R$ 665 milhões em caixa. A Moodys calcula que, pelo menos, parte desse montante tenha sido consumido "devido ao fluxo de caixa negativo da empresa da ordem de R$ 250 milhões por trimestre".
Mas, com o acordo fechado na sexta-feira, a empresa terá um pouco mais de fôlego pela frente. Um dos principais riscos do calote era a vulnerabilidade do grupo ao pedido de antecipação do pagamento de outras dívidas a vencer.
Obras
Com o escândalo de corrupção e a grave crise fiscal do Brasil, a carteira de obras da empreiteira, que chegou a ser a segunda maior do País, despencou. Antes da Lava Jato, a empresa tinha algo em torno de R$ 30 bilhões em contratos; atualmente esse número está na casa de R$ 11 bilhões. Além da dificuldade em conquistar novas obras, a construtora teve de queimar caixa, aportar capital e vender ativos para honrar compromissos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.