Economia

BC escreve em documento que adotará medidas para cumprir meta em 2017

Redação Folha Vitória

Brasília - Na apresentação do diretor de Política Econômica do Banco Central, Altamir Lopes, sobre boletim regional do Banco Central, o documento traz pela primeira vez o prazo de 2017 como o objetivo de cumprir a meta de inflação. Até então, desde a decisão do Copom de manter os juros em 14,25% ao ano, a instituição tem dito que o foco da política econômica é o "horizonte relevante para a política monetária".

Na apresentação distribuída à imprensa, o slide 42 da apresentação traz a seguinte frase: "O Banco Central adotará as medidas necessárias para o cumprimento dos objetivos do regime de metas e para trazer a inflação à meta de 4,5% ao ano em 2017".

Em entrevista à imprensa, Altamir Lopes enfatizou que a instituição vai trabalhar em 2016 para trazer a inflação mais perto o possível para a meta de 4,5% e vai trabalhar em 2017 para levar a inflação para 4,5%. "O BC considerou mais razoável estender a meta para 2017", disse. Ele rebateu críticas de jornalistas de que o BC não vem entregando taxas no centro da meta nos últimos anos, alegando que a inflação sempre esteve acima de 4,5% na maioria das vezes desde que o regime de metas foi implantado no País, em 1999.

O diretor negou que a instituição tenha jogado a toalha em relação ao cumprimento da meta de inflação de 2016. "O BC não jogou a toalha nunca, claro que não", afirmou. "Me parece forte demais dizer que BC jogou a toalha", continuou.

De acordo com ele, o BC "tem agido" e prova disso é que o ciclo de alta atual é um dos mais fortes da história. "Dizer que o BC foi tímido com alta de 6 pb (pontos-base) da Selic é demais", afirmou, acrescentando que o Copom age em conformidade com cenário que se apresenta.

Altamir Lopes disse também que a expectativa é que os preços administrados passem por processo de desinflação significativo e que se veja um ajuste também profundo do resultado das transações correntes. "Confiamos fielmente no cumprimento da meta de 4,5% em 2017", enfatizou.

Para isso, ele citou que a atividade está em ritmo fraco, com redução de confiança dos agentes, os salários estão mais compatíveis, há melhora de fundamentos e, principalmente, que a inflação está sob controle. Disse também que o ajuste fiscal está em andamento, há um profundo ajuste externo, com contribuição positiva na atividade através de exportações liquidas e substituição de importações.

Em suma, de acordo com ele, há perspectiva de melhora na medida em que se consolida melhora na economia global, os preços estão em perspectiva de forte desinflação, principalmente os administrados. "Nesse cenário, o BC afirma que adotará as medidas necessárias para trazer a inflação a meta de 4,5% em 2017. Essa é a mensagem que eu queria deixar."

'Reprecificação'

Na entrevista, Lopes explicou que não foram as expectativas que levaram à mudança do foco da meta de inflação por parte do BC. "Foi uma reação a esses eventos mais recentes que levaram à reprecificação de ativos, em especial, a política fiscal", disse. Segundo o diretor, foram dois elementos de pressão para mudança de foco da meta para 2017: o realinhamento de preços relativos de forma mais prolongada e intensa do que o previsto e a incerteza fiscal.

Ele argumentou que, mais do que o número das contas púbicas em si, o que mais afeta em relação à fiscal é indefinição de um parâmetro. "A indefinição fiscal atual sobre preços ativos, traz perturbações", resumiu. Ele reafirmou que a definição do colegiado é manter juro por período prolongado sem descartar adoção de medidas.

As expectativas do mercado vão se reorganizar, na avaliação do diretor, dizendo que a perspectiva é a de que a elevação vista recentemente das previsões volte a se estabilizar. "O movimento é temporário."

O diretor enfatizou que o BC leva em conta para atuação da política monetária suas projeções, e não as expectativas do mercado e que, "de forma alguma", vê possibilidade de rompimento do limite superior da banda. Portanto, segundo ele, as duas mensagens seguem válidas: o BC vai buscar uma taxa de 4,5% e vai procurar não romper o teto de 6,5%.

Lopes salientou que a manutenção dos juros por um período suficientemente prolongado tem efeitos cumulativos que ainda estão operando. Segundo ele, a manutenção por um período prolongado tem esse papel de cumprir os objetivos do regime de metas. "Para ficar claro, vai manter a meta", disse.

"Mas, se for necessário, o BC tem medidas e pode adotá-las", continuou. Altamir disse que o BC age independentemente do nível de atividade que se apresente. "Nossa missão, nosso mandato é cumprir meta de inflação", afirmou.

Confiança

O diretor de Política Econômica do Banco Central disse que já há sinais positivos, na margem, da recuperação da confiança de empresas e famílias. Segundo ele, vem ocorrendo na economia brasileira um ajuste do setor externo muito "mais forte e significativo". "A expectativa é que esses ajustes promovam mudanças significativas na economia, mas a materialização das mudanças depende da melhora da confiança de firmas e famílias", comentou.

Para o diretor, setores voltados ao comércio externo devem se beneficiar de forma "significativa" desse processo de ajuste de preços relativos (dólar). Ele acredita que o setor de serviços deve continuar a crescer, mas em ritmo mais moderado do que o visto até agora.

Altamir citou também que as exportações líquidas vêm crescendo e que vão ser o elemento propulsor da economia mais à frente. "O quantum das exportações é que vai dar o tom do ajuste externo, contribuindo de forma expressiva para o PIB (Produto Interno Bruto)", previu. O diretor ressaltou também que o consumo das famílias vem apresentando desempenho fraco e o do governo tem apresentado pequena contração.

Crédito

O diretor do BC enfatizou que a qualidade do crédito no Brasil continua boa, mas que mesmo o financiamento imobiliário "arrefeceu bastante". A despeito desse movimento, de acordo com ele, a qualidade do crédito "continua boa".

Também mencionou que, depois de processo de pressão significativa, o mercado de trabalho passa a apresentar uma distensão também significativa, com a taxa de população ocupada em queda e mais membros da famílias passando a procurar emprego. "Há um crescimento da taxa de desemprego acompanhado da queda expressiva do rendimento real", comparou. Segundo ele, convenções trabalhistas que vinham trazendo reajustes reais positivos, agora já apresentam negativo, com queda verificada em setembro.

Economia global

Altamir Lopes salientou que a economia global tende à recuperação gradual. "O que se observa é um certo rebalanceamento do crescimento das economias globais", disse.

O diretor enfatizou também que a queda dos preços das commodities reflete o comportamento do dólar, do patamar dos estoques em níveis confortáveis e condições climáticas mais favoráveis.

Câmbio

O diretor de Política Econômica do Banco Central destacou também que, no Brasil, se observa um descolamento do real em relação ao dólar mais forte do que o visto em outros locais. Isso está associado, de acordo com ele, a fatores macroeconômicos mais acentuados e também "eventos não econômicos". Essa expressão é usada pelo BC para tratar de denúncias de corrupção e operações de investigações, como a Lava Jato.

No mundo, de acordo com o diretor, a expansão mais forte dos Estados Unidos e a perspectiva favorável dos hedge funds favorecem a alta do dólar no mercado global. "Claro que nas economias emergentes, se acentua essa desvalorização (das moedas locais", comparou o diretor.

Balança

Altamir Lopes avaliou que uma elevação dos juros americanos pelo Federal Reserve pode afetar não apenas a economia brasileira, mas os ativos em vários locais do mundo. "O impacto do Fed pode não ser muito significativo, mas sempre traz alguma volatilidade", vislumbrou. O diretor também disse que o BC deve revisar sua projeção para balança comercial, atualmente em US$ 12 bilhões. "Tudo indica que (a mudança será) para cima."

Ele enfatizou que o setor externo é o grande ajuste pelo qual a economia brasileira passará este ano. Segundo Altamir Lopes, há recuperação expressiva do comércio externo, com queda forte das importações e aumento do quantum das exportações. Ele admitiu que a volta ao mercado externo é um pouco mais demorada, que esse processo leva um pouco mais de tempo e que a reação, portanto, é mais defasada.

"A expectativa é que haja expansão expressiva do mercado para manufaturados", previu. Segundo ele, o ajuste do setor externo não se dá só por meio da balança comercial, mas também em viagens, transportes, remessas de lucros e dividendos. "É um ajuste significativo em um ano", concluiu, salientando que a diminuição do déficit de conta corrente em US$ 40 bilhões em um ano é um ponto muito forte.

Além disso, o diretor lembrou que o financiamento das transações se dará por meio do Investimento Direto no País (IDP). "A despeito de toda a volatilidade, os investimentos continuam ingressando de forma significativa e disseminada", salientou. Essa é uma boa perspectiva, de acordo com ele, para o balanço externo.

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