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Geração Alfa: conheça negócios capixabas que só existem graças à Internet e à tecnologia

"Zapzap", "memes", textão e curtidas? Empreendedores capixabas enxergaram o outro lado da internet e estão gerando emprego com negócios digitais. Põe seus óculos de realidade virtual e vem ver!

Francine Leite

Redação Folha Vitória
Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal
Amigos conectados: Mario Fernandes, Renato Antunes, Rodrigo Miranda e Tomás Scopel abriram negócios digitais mesmo sem experiência no ramo.

Não, você não precisa de um óculos de realidade virtual (não por enquanto). Isso foi apenas uma brincadeira para você entrar no clima e perceber que a transformação digital está diante dos nossos olhos, e que ela não se resume a uma foto com um filtro maneiro no Facebook. Empreendedores do Espírito Santo têm criado soluções online em vários segmentos do mercado.

Especialistas ouvidos pelo Folha Vitória afirmam que o empreendedorismo digital não é mais uma tendência e, sim, uma realidade.

O meio digital não tinha quase nada a ver com a profissão que Tomás Scopel, de 26 anos, estava aprendendo: ele estudava engenharia mecânica quando, junto a três amigos, teve a ideia de abrir um negócio de entrega de bebidas. Até então nenhuma novidade, né? Foi aí que entrou a vivência do estudante com a tecnologia. "Eu cresci com a internet, vivia com o celular na mão. Então resolvi criar uma maneira mais fácil de entregas", explica o co-fundador da Shipp, o aplicativo de delivery criado pelos quatro amigos de Vitória. 

Entenda o que é inovação em 1 minuto

Inspirada em novas maneiras de fazer negócios, como a Uber fez na mobilidade urbana, a plataforma capixaba funciona como um ponto de encontro virtual entre empresários, entregadores e clientes. De onde estiver, a pessoa solicita o produto pelo aplicativo. Um entregador é acionado e enquanto segue até o estabelecimento, o produto é preparado do jeito que o cliente pediu. Tudo isso sem fazer sequer uma ligação. Confortável, não?

Falando em conforto, o meio de transporte não foi uma limitação para Julimar Cazotto. Estudante e microempreendedor, ficar parado não é uma opção para o jovem, de 26 anos, que pegou a bicicleta estacionada no canto da garagem e começou a pedalar e trabalhar por Vitória.

Ele é um dos 1,3 mil entregadores cadastrados na plataforma, no Espírito Santo. Trabalha cinco vezes por semana. De bike, faz mais de 10 entregas por dia, cada "corrida" vale de R$ 6 a R$ 12. Basta estar disponível no aplicativo para surgir uma oportunidade de ganhar um extra.

"Um dia eu estava em casa, em Goiabeiras, liguei o app, e surgiu um chamado para a Enseada do Suá. Busquei o lanche do cliente em Jardim da Penha e em 15 minutos estava na casa da pessoa entregando o jantar", conta Julimar, que agora tem mais uma rentável e saudável profissão.

Foto: Francine Leite/Rede Vitória
Parceiros, sem contrato assinado: Tomás, Rafael e Julimar trabalham juntos, mesmo sem nenhum vínculo empregatício.  

"Tem gente que chega aqui de bicicleta alugada (aquelas das estações espalhadas pela cidade) e faz entrega o dia todo. Aos domingos, já vi uma fila de motoboys na porta da loja."

Quem conta é Rafael Carone, de 30 anos, sócio de uma hamburgueria em Jardim da Penha, Vitória. Ele abriu o negócio há cerca de um ano e, por três meses, chegou a ter entregadores fixos, prática comum para a maioria dos estabelecimentos que presta o serviço de delivery.

Rafael diz que funcionava, mas às vezes, o transporte demorava e o lanche chegava frio para o cliente que morasse mais longe. Há seis meses, a hamburgueria faz entregas exclusivamente pelo aplicativo. Os donos pagam um valor mensal para serem parceiros da plataforma e o retorno vem na agilidade das entregas, sejam elas de bike ou de moto - são cerca de 150 por noite aos finais de semana. 

Foto: Divulgação/Zaitt
Loja autônoma na Praia do Canto: sem atendentes, clientes só precisam de um celular para entrar

Hoje, o aplicativo de logística reúne desde comida, bebidas, sapatos, roupas, livros, remédios e até produtos de pet shop. O app é compatível às plataformas Android e iOS. O usuário cadastrado pode navegar de loja em loja e escolher seus produtos a partir de fotos ou listas dos cerca de 200 estabelecimentos conveniados.

Poder pedir absolutamente o que quiser é a novidade da vez: "A pessoa pode estar precisando de um pão ou um chapéu de praia, da loja que preferir, que nossos entregadores vão lá, retiram e entregam da mesma forma", explica Tomás.

Tudo isso em um ano de funcionamento. O aplicativo desenvolvido em apenas seis meses, já chegou a regiões do Rio de Janeiro e São Paulo. Em dezembro, a empresa, que também tem uma loja autônoma, abrirá um escritório na maior cidade da América Latina, São Paulo. 

Assista ao depoimento de Tomás Scopel:


Tecnologia x Emprego

Não é difícil ver pessoas com a cabeça abaixada e o celular na mão por aí. Quase 80% dos brasileiros com mais de 10 anos de idade têm um smartphone: são 139 milhões de pessoas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

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Menos da metade das micro e pequenas empresas está na internet

Mais de 90% acessa a internet por meio do aparelho móvel. Nas empresas, o uso também é alto. De acordo com uma pesquisa feita pelo Sebrae, 44% das mais de 200 micro e pequenas empresas ouvidas no Espírito Santo usam a internet principalmente pelo celular.

Em contrapartida, 55% dos estabelecimentos capixabas não têm uma página na internet. Nas redes sociais, os números mudam um pouco: 43% estão presentes no Facebook e usam o Whatsapp. 

Enquanto isso, especialistas acreditam que estamos vivendo a "geração alfa" do desenvolvimento. Socialmente, essa geração é definida pelo australiano Mark McCrindle para designar crianças que nasceram a partir de 2010. É uma geração que tem acesso à informação e à educação como nunca antes. Economicamente, empresas e negócios nascidos nesta época têm muito mais capacidade de resolver problemas, inclusive online

Co-fundador de uma plataforma que reúne quase 2 milhões de freelancers em toda a América Latina, Guillermo Bracciaforte, um dos maiores embaixadores da inovação na América do Sul, analisa o mercado ao redor. Para o empreendedor argentino, os latinos estão um pouco atrasados em relação aos países mais desenvolvidos, mas a mudança está acontecendo rápido.

O Brasil está na pole position, mas tem muito caminho pela frente. "Estamos na 4ª Revolução Industrial, e a maior dificuldade é contratar mão de obra qualificada e disposta a trabalhar de formas diferentes", diz Bracciaforte.

Veja a opinião do especialista:

Tinder do emprego

O aplicativo de relacionamentos que fez todo o mundo paquerar pelo celular a partir de 2012 também rendeu muito "match" no Espírito Santo. Não apenas por casais formados na plataforma, mas pelas ideias trazidas pelo "modo Tinder" de encontrar o par ideal.  

A neuropsicóloga capixaba, Fernanda Sabra, de 38 anos, tomou posse dessa filosofia para gerar empregos. Num Brasil com mais de 13 milhões de desempregados, Fernanda criou a Accerta, um "cardápio" online de trabalhadores para micro e pequenas empresas. Recém-lançado, o site é uma ponte virtual entre o empregador - que, pequeno, precisa de poucos, mas eficazes funcionários - e as pessoas que estão em busca de uma oportunidade.

Foto: Divulgação
Currículo de papel está com os dias contados.

A ideia veio há cerca de quatro anos, depois de experiências na área de recursos humanos em grandes recrutadoras de Belo Horizonte, Minas Gerais. "Eu via pessoas ocupando cargos sem capacidade suficiente para as demandas - prejudicando a operação, e empregadores com dificuldade de encontrar o profissional ideal apenas com currículos de papel e sem capital para contratar uma recrutadora", relembra a psicóloga, que também é consultora de negócios de inovação. 

O site veio para ocupar esse espaço. O trabalhador pode se inscrever gratuitamente e, na plataforma, além de orientação para construir o currículo de forma mais eficaz, tem acesso a treinamentos e cursos online. Empresas pagam R$ 29 por mês para acessar a lista de candidatos e, se o acesso for uma procura pontual, custa R$ 89. Aí, pronto: o usuário navega entre as opções, curte o que lhe interessa e só espera o match. A plataforma ainda está na versão beta, e tem tudo para dar certo: é uma startup.

Veja como funciona:

ES de startup

Os modelos de negócio baseados nessa filosofia têm se multiplicado no Espírito Santo. Desde fintechs, como o PicPay, a soluções para o agronegócio, empreendedores capixabas já estão sendo reconhecidos Brasil afora por desbravarem o mundo das startups e das soluções digitais para demandas simples do cotidiano.

Por definição mais contemporânea, uma startup é uma empresa emergente que tem como objetivo desenvolver um modelo de negócio rentável em condições de extrema incerteza, ao redor de um produto, serviço, processo ou plataforma.

O Estado tem 62 startups, segundo mapeamento feito pela Ecossistema Capixaba e a TecVitória, apoiadoras das pequenas e inovadoras empresas que nascem na Grande Vitória. Um número que tende a aumentar.

Nos últimos oito meses de trabalho, o analista de atendimentos a startups no Sebrae-ES, Arnaldo Barbosa, já conheceu 35 capixabas que querem investir nesse tipo de negócio.  "As ideias têm em comum o alto potencial inovador, com capacidade de mudar paradigmas atuais e com chances de crescimento a pouco custo.  Algumas já estão iniciando a operação, e devem estar em pleno funcionamento no ano que vem", conclui.

Plugue-se

Numa era de transformação e disruptividade, a tecnologia é considerada o coração dos novos negócios. Estar no meio digital é essencial para a sobrevivência de qualquer empreendimento. Para estimular o debate, o Sebrae-ES promove, entre os dias 19 a 30 de novembro, o Plugue-se. Uma série de palestras com especialistas no meio empresarial e tecnológico, que irão esclarecer dúvidas e apontar soluções para as micro e pequenas empresas capixabas.

O evento é aberto ao público. Para participar é só acessar o site  e se inscrever. Também existe a opção de acompanhar as palestras online.






 

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