Economia

Brasil está desde julho sem crédito no exterior

Agora rebaixado para a categoria de grau especulativo, o País vê como mais difícil uma recuperação da credibilidade no mercado internacional

Redação Folha Vitória
O rebaixamento da nota brasileira promovido pelas agências de risco reforçou o mau humor da economia mundial  Foto: Divulgação

São Paulo - Os efeitos da perda do selo de bom pagador pelo Brasil por duas agências de classificação de risco devem se prolongar ao longo dos anos. Agora rebaixado para a categoria de grau especulativo, o País vê como mais difícil uma recuperação da credibilidade no mercado internacional.

A sequência da perda do grau de investimento pelas agências Standard and Poor’s e Fitch afeta a economia em várias frentes. A decisão traz uma piora nas expectativas com o aumento do risco de a terceira agência, a Moody’s, também tirar o selo de bom pagador do Brasil; o fluxo dos investimentos no País tende a diminuir; e a vida das empresas vai ficar mais difícil.

"O crescimento brasileiro já seria mais baixo, mas o rebaixamento do País é mais uma restrição para a economia sair do buraco", afirma José Roberto Mendonça de Barros, sócio da consultoria MB Associados.

O rebaixamento da nota brasileira promovido pelas agências de risco reforçou o mau humor da economia mundial com o País. Desde julho, as empresas brasileiras e instituições financeiras não fizeram nenhuma emissão no exterior.

Os dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) mostram que as captações no exterior somaram apenas US$ 8,059 bilhões entre janeiro e novembro. No mesmo período do ano passado, foram US$ 45,485 bilhões.

"Se as empresas e o governo desejam fazer alguma captação externa, elas têm de saber que o seu nível de risco considerado é de um país junk (lixo)", diz Silvio Campos Neto, economista da consultoria Tendências.

Em agosto, depois de a equipe econômica apresentar um orçamento deficitário para este ano, num cenário de deterioração fiscal, o risco País começou a subir com mais firmeza. Era um claro sinal de que a perda do grau de investimento estava próxima.

Atualmente, o CDS (Credit Default Swap, seguro contra o calote de um País) de 5 anos está no patamar de 450 pontos, nível que não é compatível com o rating do País. Como comparação, o patamar do CDS brasileiro está bem acima do colombiano (250 pontos).

"Entre as economias relevantes, poucas têm um prêmio de risco nesse patamar", diz Campos Neto. "Pode até haver exagero na alta do CDS, mas o mercado lida com a incerteza porque ninguém sabe o nosso fundo do poço."

Na sexta-feira, quando a presidente Dilma Rousseff anunciou a substituição de Joaquim Levy por Nelson Barbosa no cargo de ministro da Fazenda, o mercado voltou a dar sinais de desconfiança com os rumos do País e com o ajuste fiscal em curso - o dólar fechou a R$ 3,96, no maior valor desde 30 de setembro.

A queda de patamar da economia vai se refletir no menor ingresso de recursos no País. Um relatório do banco Santander mostra que somente o investimento direto estrangeiro (em produção) deve recuar para a casa dos US$ 50 bilhões, abaixo dos US$ 73 bilhões de média apurada desde 2008 - quando o País foi considerado grau de investimento pelas agências.

Boa parte dos fundos de pensão só investe em países que tem grau de investimento em no mínimo duas agências.

O Brasil é um País de baixa poupança interna e depende dos recursos internacionais para conseguir um crescimento econômico razoável. "Um acesso mais restrito ao capital externo restringe o investimento e o crescimento", diz Tatiana Pinheiro, economista do Santander. Para o banco, com a redução esperada para o investimento estrangeiro, o crescimento potencial do País ficou limitado a 2% ao ano no médio prazo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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