Economia

Crise econômica está por trás de dificuldades do mercado de trabalho, diz IBGE

As notícias sobre a crise e sobre a dificuldade de arrumar um emprego provocam um aumento no desalento

Rio - A crise econômica está por trás das dificuldades ainda apresentadas pelo mercado de trabalho brasileiro, ressaltou Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Embora a taxa de desemprego tenha registrado ligeiro recuo na passagem do primeiro para o segundo trimestre do ano, ainda falta trabalho para 26,3 milhões de pessoas em todo o País, segundo os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).

"O Brasil tem hoje 26,3 milhões de pessoas que poderiam estar trabalhando adequadamente, mas não estão. Seria a crise o motivo disso? Sim, com certeza", afirmou Azeredo.

Segundo o pesquisador, as notícias sobre a crise e sobre a dificuldade de arrumar um emprego provocam um aumento no desalento."Isso acaba gerando desalento nas pessoas, que decidem que não vão procurar porque acreditam que não vão encontrar", disse ele.

A crise no mercado de trabalho tem afetado especialmente os trabalhadores do sexo masculino, apontou Azeredo. "O fato de a crise ser muito forte afeta principalmente a população adulta e homens, que normalmente são arrimo de família", explicou.

Com as demissões atingindo mais os homens, aumentou a proporção de mulheres empregadas no mercado de trabalho. Ainda havia mais mulheres (50,8%) do que homens na população desocupada (49,2%) no segundo trimestre de 2017, mas essa diferença já foi de 11 pontos porcentuais, no primeiro trimestre de 2012, quando a pesquisa teve início.

No segundo trimestre de 2017, a taxa de desemprego entre elas permanecia maior, aos 14,9%, enquanto entre homens era de 11,5%.

Queda em SP

Na avaliação de Azeredo, a queda na taxa de desemprego no Estado de São Paulo é bom sinal para o mercado de trabalho brasileiro, porque a região possui o chamado "efeito farol", que antecipa movimentos que ocorrerão em seguida no restante do País. "São Paulo tem efeito farol. Quando acontece em São Paulo, a gente sabe que vai se alastrar por outras regiões", disse.

A taxa de desocupação no Estado de São Paulo recuou de 14,2% no primeiro trimestre para 13,5% no segundo trimestre deste ano, de acordo com dados da Pnad Contínua. Houve abertura de 242 mil vagas em um trimestre, ao mesmo tempo em que o total de desempregados encolheu em 170 mil pessoas.

"É bom sinal, sem dúvida. Reduz a desocupação e aumenta a ocupação, principalmente na indústria. Sabemos que a indústria é um dos grupamentos mais organizados, é um dos que mais tem carteira assinada, é um dos que mexe mais com o setor privado", avaliou Azeredo.

A indústria paulista gerou 152 mil postos de trabalho em apenas um trimestre. Por outro lado, no Rio de Janeiro, houve fechamento de 11 mil vagas no parque industrial.

A taxa de desemprego no Rio de Janeiro aumentou de 14,5% no primeiro trimestre para 15,6% no segundo trimestre de 2017, na contramão do total do País, onde a taxa passou de 13,7% para 13,0% no período.

"Não tem reação de postos de trabalho. Basta ligar na televisão que você vê a situação que o Rio de Janeiro está passando. Não tem aumento na ocupação, mas tem aumento na procura. Não aumentou pouco a desocupação no Rio, aumentou quase 10%. Tem a ver com a crise (fiscal)", apontou Azeredo.

No segundo trimestre, o total de desempregados no Rio de Janeiro cresceu em 114 mil pessoas, uma alta de 9,4% em relação ao primeiro trimestre do ano. O total de ocupados aumentou em nove mil pessoas, mas todas na categoria de trabalhadores por conta própria.

"A situação no Rio só não está pior porque as pessoas estão nesse projeto de dar seu jeito, de se virar", afirmou o coordenador do IBGE.

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