Economia

'BNDES não tem tanto cheque para passar para a viúva', diz Rabello

Rabello lembrou que já estão sendo devolvidos R$ 180 bilhões, desde o ano passado, de mais de R$ 400 bilhões que foram emprestados pela União desde 2009, como parte dos esforços para combater a crise global

São Paulo - O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) não tem mais tantos recursos para devolver à União, segundo o presidente da instituição, Paulo Rabello de Castro. As devoluções já realizadas correspondem à parcela mais polêmica repassada pelo Tesouro e novas operações precisam ser escalonadas no tempo. "O BNDES não tem tanto cheque para passar para a viúva", disse, durante apresentação na Câmara de Comércio Árabe Brasileira.

Rabello lembrou que já estão sendo devolvidos R$ 180 bilhões, desde o ano passado, de mais de R$ 400 bilhões que foram emprestados pela União desde 2009, como parte dos esforços para combater a crise global.

Ele salientou que a contribuição do banco para reduzir o déficit primário tem sido a de compartilhar dividendos, que chegaram a somar 90%, limitando a estratégia de reter os lucros para realizar novos investimentos, como as empresas costumam fazer. "O máximo que podemos participar, nesse esforço para usar o cobertor público é usar a sobra de caixa, que advém da mega recessão de 2015, 2016, e 2017, em que nossos recebimentos têm sido momentaneamente maiores que os desembolsos", afirmou.

Rabello lembrou que a primeira tranche de cerca de R$ 220 bilhões fez parte de um movimento como o de muitos países para enfrentar a recessão que se observava em 2009. "Foi bem feita do ponto de vista financeiro (...) Há uma mitologia crucificante de tudo que foi feito, como se tudo tivesse que ser ostracizado, mas havia política pública". Ele lembrou, porém, que os bons resultados observados fizeram com que o governo passado "repetisse a dose" entre 2012 e 2014", num movimento avaliado por ele como mais polêmico. "A segunda parte, mais polêmica, foi devolvida, ficou a inicial que foi a combinada no G-20 para sair da crise", disse.

O presidente do BNDES reforçou que há dificuldade do banco de devolver todos os recursos emprestados, porque serviram de base para mais de 2 milhões de operações. "A história de pedir cheque de fora é a mesma coisa que fizesse regurgitar 2 milhões de operações. Não existe, é desvario", disse.

Ele lembrou que a capitalização feita incluiu um empréstimo "quase perpétuo", com títulos de longuíssimo (prazo). "Só que o emprestador desistiu. Ok, mas o banco tem de ter tempo para fazer uma substituição de fontes", disse. Rabello defendeu que a União deveria pegar a parcela restante de empréstimo escalonado no tempo, na medida em que o BNDES consiga realizar novas captações.

Juro real

O presidente do BNDES defendeu nesta quarta-feira a queda da taxa de juros real da economia. "A única coisa que ainda não tem caído no Brasil é o juro real, o que cai é o juro nominal", disse, durante apresentação no evento em São Paulo. Ele destacou que no País, apesar da queda da inflação, nem a taxa de juros de longo prazo caiu. "Continua rígida nos 7%, esqueceu-se de cair", comentou.

Segundo Rabello de Castro, um país de juro alto não tem direito a futuro. "No juro alto, tudo fica pequeno no futuro, existe incentivo a só ter presente, e presente é carnaval, é um grande fevereiro."

Ele defendeu que a austeridade é um fator diferente da manutenção de uma taxa de juros mais alta. "Juro alto é altamente desmoralizante, juro alto é a instalação da pornografia econômica no Brasil", disse. "Queremos mais moralidade, comecemos pelos juros", acrescentou.

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