Economia

No Nordeste, 29,3% dos domicílios recebiam Bolsa Família em 2016, diz IBGE

Foi a primeira vez que o órgão investigou especificamente as condições dos domicílios que recebem transferências de renda

Rio - Quase um terço (29,3%) dos domicílios localizados no Nordeste recebe Bolsa Família, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) de 2016 divulgados nesta quarta-feira, 29, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foi a primeira vez que o órgão investigou especificamente as condições dos domicílios que recebem transferências de renda.

Do total de 69,2 milhões de domicílios registrados na Pnad Contínua em 2016, 14,3% recebiam o Bolsa Família. Outros 3,4% recebiam o Benefício de Prestação Continuada (BPC), que entra na conta da Previdência.

No Nordeste, além do porcentual mais elevado de lares que recebem Bolsa Família, 5,4% dos domicílios recebiam o BPC. No Norte, 27,2% recebiam o Bolsa Família e 5,3%, o BPC.

Na outra ponta, apenas 5,4% dos lares do Sul recebiam o Bolsa Família. No Sudeste, o porcentual foi de 6,9%, enquanto no Centro-Oeste foi de 9,4%. Já no caso do BPC, o Sudeste tinha 2,3% dos domicílios recebendo o benefício. Os porcentuais foram de 2,1% no Sul e de 3,6% no Centro-Oeste.

A pesquisa aponta também que o rendimento médio domiciliar per capita de lares com Bolsa Família era de R$ 331 em 2016, contra R$ 1.242 para o Brasil como um todo. Já o rendimento médio domiciliar per capita de lares com o BPC foi de R$ 683. "Tem diferenças expressivas na vida de quem recebe Bolsa Família e de quem não recebe", disse Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE.

'Outros rendimentos'

A região Nordeste concentra ainda 44% do total de 15,788 milhões de pessoas que recebem renda classificada como "outros rendimentos", segundo dados da Pnad Contínua de 2016 do IBGE.

O instituto inclui nessa categoria as pessoas que recebiam rendimentos de programas sociais de transferência de renda (como o Benefício de Prestação Continuada e o Bolsa Família), o seguro-desemprego e até aplicações financeiras, informou Cimar Azeredo.

Em seguida ao Nordeste, o Sudeste tem o maior contingente (28,2% do total, ou 4,454 milhões de brasileiros) de pessoas nessa situação de renda. A lista segue com Norte (11,6%), Sul (9,9%) e Centro-Oeste (5,9%).

Na média, o valor do rendimento na categoria "outros rendimentos" ficou em R$ 516 para todo o Brasil em 2016. No Nordeste, esse rendimento médio cai para R$ 347, enquanto no Sudeste ficou em R$ 784. Segundo Azeredo, isso ocorre por causa das rendas de seguro-desemprego e das aplicações financeiras.

Momento político

O coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE negou que a decisão do órgão de não informar dados comparáveis com outros anos sobre o rendimento de todas as fontes em 2016 tenha relação com o momento político. Mais cedo, o IBGE informou que o rendimento médio de todas as fontes ficou em R$ 2.053 em 2016, conforme dados da Pnad Contínua.

Por causa de uma mudança no questionário da pesquisa, não foi possível comparar os dados de 2016 com anos anteriores. Com isso, não é possível medir os efeitos da recessão sobre a renda dos brasileiros nem sobre a desigualdade. O IBGE informou apenas os índices de Gini por Estados e regiões, mas sem comparação com anos anteriores.

Segundo Azeredo, a mudança no questionário estava planejada desde 2015. "O momento político de forma alguma interferiu nesse processo", garantiu o pesquisador do IBGE.

O órgão trabalha agora em estudo para retropolar os dados passados e torná-los comparáveis com os de 2016.

Azeredo prometeu uma divulgação sobre isso ainda no primeiro semestre de 2018. "A quebra existe, mas de certa forma vamos tentar recuperar isso para ter a série completa", disse.

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