Economia

Inflação cai em meio à melhora nas expectativas de crescimento, diz Ilan

O presidente do Banco Central destacou que, também em função da queda significativa da inflação, a taxa básica de juros, a Selic, passou por um processo de redução

Ele lembrou que, entre os analistas, a projeção para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2017 é de crescimento de 1%

Brasília - O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, disse nesta terça-feira, 19, em Brasília, que a queda da inflação no Brasil ocorre ao mesmo tempo em que há melhora nas expectativas de crescimento. Ele lembrou que, entre os analistas, a projeção para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2017 é de crescimento de 1%.

"A queda da inflação foi acompanhada pela melhora do crescimento", afirmou Ilan Goldfajn, em palestra durante o evento "Correio Debate 2018" organizado pelo jornal Correio Braziliense na capital federal.

O presidente do Banco Central destacou que, também em função da queda significativa da inflação, a taxa básica de juros, a Selic, passou por um processo de redução. Ele lembrou ainda que, como o fim do ano chegou, cabe olhar a situação econômica e fazer uma avaliação sobre o que ocorreu até agora.

"O ano de 2017 foi produtivo para nós, tanto em termos econômicos quanto em termos da agenda do BC e da agenda legislativa", pontuou Ilan. "Em termos macroeconômicos, temos resultados."

Ilan Goldfajn afirmou que, depois de dois anos de recessão, economia brasileira voltou a se recuperar. Segundo ele, a recuperação econômica é "considerável".

Movimento da inflação

O presidente do BC fez ainda um relato sobre o movimento da inflação nos últimos anos. Ele lembrou que, no começo de 2016, a inflação ainda estava em dois dígitos e, no fim do ano passado, em 9%. "A partir do último trimestre do ano passado, a inflação começa a cair e fecha 2016 perto do teto", disse.

Agora, pontuou Ilan, o último número oficial indica inflação de 2,8% em 2017 até novembro. "E tudo indica que, em dezembro, vamos continuar a ter inflação bem baixa."

Razões

De acordo com ele, a razão da queda é a mudança na direção de política econômica, com atuação firme da política monetária. "A postura da política monetária levou, em parte, a essa queda da inflação. O segundo motivo para queda foi o recuo da inflação de alimentos", disse, lembrando que este item apresentou recuo de 5% em 2017 até o momento.

"Nos últimos oito anos, a média da inflação de alimentos foi de 8,5%. Este ano, os preços dos alimentos caíram 5%. Isso significa queda de 2 pontos porcentuais para o IPCA."

Ilan Goldfajn afirmou ainda que, se não for incluído o dado de alimentos na inflação, o índice de preços está em 4,5%, "exatamente na meta". "Acreditamos que a inflação vai continuar baixa, caminhando para perto de 4% em 2018", citou. "Metas de inflação para frente são um pouco menores."

O presidente do BC lembrou ainda que a média de expectativas de analistas é de que a inflação ficará em 4% em 2018 e na meta em 2019 e 2020.

Redução moderada na Selic

Ilan Goldfajn repetiu a mensagem citada na ata da mais recente reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que indicou que "há expectativa de redução moderada adicional (do juro) no ano que vem".Ele reconhece, porém, que há mais riscos no cenário futuro para o trabalho do BC.

"Se tudo correr de acordo, apesar de termos mais incertezas no ano que vem, sinalizamos que há expectativa de redução moderada adicional no ano que vem", comentou o presidente do BC. Na comunicação do BC, a casa cita "como adequada uma nova redução moderada na magnitude de flexibilização monetária".

Ilan Goldfajn citou a comunicação da última reunião que indica que o Comitê deverá acompanhar as projeções de inflação e atividade, entre outros, além dos riscos que estão à volta antes de tomar uma decisão em fevereiro.

Sobre os riscos, Ilan repetiu a mensagem de que um risco à redução do juro é a tramitação da agenda de ajustes estruturais da economia. O presidente do BC citou apenas que a hipótese de não avanço da agenda de reformas aparece como um risco para a economia.

Além disso, notou que o cenário externo pode gerar risco se houver algum fato novo e inesperado. Outro risco é a persistência da inflação baixa por mais tempo que o avaliado pela instituição.

O presidente do BC nota que, diante da queda do juro recente, a taxa real tem girado abaixo de 3% ao ano, novo mínimo histórico. "O juro real ainda é alto, mas está nos valores mínimos históricos", citou, ao lembrar que isso ajuda na retomada da economia.

IBC-Br

Ilan Goldfajn avalia que a recuperação econômica está mais robusta e pulverizada entre os vários setores da economia. Para ele, a atividade se recupera diante da maior demanda na economia e pela safra agrícola.

Explicou também que a queda da inflação tem permitido a recuperação do poder de compra das famílias, o que está diretamente ligado à retomada da atividade nos últimos meses. Os últimos números do Índice de Atividade do Banco Central (IBC-Br), disse o presidente da instituição, sinalizam que essa recuperação está cada vez mais "espalhada e robusta" na economia.

Com a retomada mais vigorosa, até o investimento começa a se recuperar. Esse foi um item bastante destacado por Ilan no discurso. Com essa reação, outros fatores reagem, como o emprego.

Apesar da recuperação, ele reconhece que o mercado de trabalho ainda está longe do ideal. "Desemprego já teve queda importante, mas continua elevado e não há sensação de satisfação como gostaríamos", disse. "Queremos acreditar que parte dessa recuperação é resultado do trabalho do BC.

Poupança

O presidente do Banco Central destacou ainda o acordo fechado na semana passada entre representantes de bancos e poupadores, para pagamento das perdas na caderneta ocorridas nas décadas de 1980 e 1990. Ele lembrou que as discussões entre as partes sobre quem pagaria a conta duraram décadas.

"Mas depois de décadas, vamos reduzir incerteza jurídica", afirmou Ilan.

A incerteza jurídica era vista como um risco para o Sistema Financeiro Nacional (SFN). Isso porque, antes do acordo, não havia, para as instituições financeiras, uma segurança sobre o custo de mais de milhão de ações que tramitam em várias instâncias da Justiça brasileira.

Crédito

O presidente do Banco Central ressaltou as várias iniciativas da casa para tentar reduzir o custo do crédito na economia e aumentar a concorrência entre instituições financeiras. Entre as ações, ele destacou a criação da Taxa de Longo Prazo (TLP), que aumentará a potencia da política monetária.

"Com a TLP, não teremos de subir tanto a taxa (Selic) quando for necessário", disse ele, ao comentar que a nova taxa permitirá ao BNDES emprestar com juros de mercado, o que aumentará o alcance das decisões do Comitê de Política Monetária.

Entre as demais medidas para incentivo ao mercado de crédito, Ilan destacou a iniciativa que reduziu o chamado "custo regulatório" para as pequenas instituições financeiras. Cooperativas de crédito, notou Ilan, agora têm menos obrigações que os grandes bancos.

Outra iniciativa citada pelo presidente do BC fora as ações para redução do juro rotativo do cartão. "O juro do rotativo regular ainda é alto, mas caiu pela metade", disse, ao lembrar que esse é um problema de "décadas".

Reformas

O presidente do Banco Central citou também uma série de objetivos da instituição para o próximo ano. Segundo ele, o BC continuará trabalhando em sua agenda, que já apresentou diversos avanços em 2017. "Devemos fazer o nosso dever de casa, temos que avançar nas reformas", disse.

"Em 2018, vamos criar o Comitê de Estabilidade Financeira, que é uma exigência internacional", afirmou. Farão parte deste comitê instituições como o próprio BC e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM). "Em 2018, também vamos avançar no relacionamento entre o BC e o Tesouro", acrescentou Ilan Goldfajn, lembrando que a proposta a respeito desta relação já passou no Senado e está, atualmente, na Câmara.

Ele citou ainda a lei de resolução bancária (salvamento de bancos), que ainda está em estudo no governo, e o projeto de depósitos voluntários, em tramitação, como exemplos de ações do BC. Outra ação citada foi a adoção da duplicata eletrônica. "Precisamos de documentos que comecem e acabem eletronicamente, que nem passem em papel", disse.

Ilan afirmou ainda que 2017 foi o ano de simplificação dos compulsórios. Em 2018, o BC espera avançar neste assunto. "O que pudermos contribuir para a redução do custo, vamos fazer", comentou, em relação aos compulsórios.

Disse também que o spread caiu no País, recuando "mais para famílias que para empresas". "Temos muito o que trabalhar adiante. O crédito às famílias está positivo há seis meses, mas no crédito para empresas ainda não observamos crescimento", pontuou. "Olhando o mercado de capitais, parece haver alguma substituição das pessoas jurídicas para o mercado de capitais, o que neste momento é bom", acrescentou.

No encerramento de sua participação, Ilan Goldfajn ressaltou que o ano de 2017 foi proveitoso, com "avanços consideráveis". "Cabe alertar que cenários benignos não ficarão para sempre", alertou.

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