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Claudette Soares e Alaíde Costa, as vozes da Bossa

Redação Folha Vitória

Amigas há décadas, as cantoras Claudette Soares, de 80 anos, e Alaíde Costa, de 82, carregam, ainda frescas, as memórias de um período importante da música brasileira: o início e a consolidação da Bossa Nova. E as duas se reúnem no palco do Teatro Itália, nesta sexta-feira, 23, para festejar os 60 anos do movimento e interpretar canções que projetaram suas carreiras. Com direção e roteiro de Thiago Marques Luiz, o show, inédito, será gravado ao vivo e lançado em CD pela Kuarup.

Donas de vozes e personalidades bem distintas, a tímida Alaíde e a expansiva Claudette têm seus estilos diversos ressaltados no repertório do show pensado por Marques Luiz: a Bossa mais romântica e melódica fica por conta de Alaíde, enquanto a vertente sambalanço estará na interpretação de Claudette. Alternando momentos em dupla e sozinhas, acompanhadas pelo trio formado por Giba Estebez (piano), Nahame Casseb (bateria) e Renato Loyola (baixo acústico), elas cantarão Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Carlos Lyra, Johnny Alf, entre outros expoentes, incluindo, claro, clássicos como Dindi e Felicidade. "Tem uma música que gravei em inglês, que é Oba-Lá-Lá, do João Gilberto, mas que agora vou fazer em português", comemora Claudette. Já Alaíde revisita, logo na abertura do show, um de seus sucessos, Onde Está Você. "Acho que sempre fui a mais romântica da Bossa", acredita Alaíde.

Mais do que cantoras de Bossa Nova, elas foram responsáveis por levar o movimento para São Paulo. As duas nasceram no Rio. Claudette chegou primeiro à capital paulista, aconselhada pelo jornalista e compositor Ronaldo Bôscoli. "Ele me mandou vir para São Paulo. Imagina eu, pequenininha. Olha o medo! São Paulo ainda não conhecia o que acontecia no Rio, o grande movimento da Bossa", conta Claudette. "Minha mãe e meu pai quase me mataram, mas eu tinha uma pessoa que era uma retaguarda, o Pedrinho Mattar, era um grande pianista. O Ronaldo disse para ele: ‘Toma conta dela’."

Logo depois de se instalar na então nova cidade, Claudette chamou a amiga para morar também em São Paulo. "Ela morreu de medo. E ela veio", diverte-se Claudette. "Ela começou a me convidar para vir. Aproveitei também que estava namorando um paulistano - me casei com ele, inclusive - e vim", conta Alaíde. "A Bossa está completando 60 anos, mas já éramos amigas antes, a gente cantava naqueles programas de calouro", completa ela.

O começo em terras paulistanas foi difícil, recorda-se Alaíde - cuja voz suave chamou atenção de um certo João Gilberto quando ela morava no Rio. "As pessoas não aceitavam muito, era meio que complicado, mas, no final, deu tudo certo." Mas elas tinham dificuldade para conseguir fazer shows na cidade? "Apresentações, a gente tinha. As pessoas estranhavam muito o que eu escolhia para cantar, mas nunca deixei me abater por isso. Sempre procurei fazer aquilo que acreditava."

Elas moram em São Paulo até hoje, onde ainda levam adiante a carreira artística. E Claudette ainda agradece ao conselho que recebeu de Bôscoli: "Ele foi um anjo da guarda na minha vida. Disse: ‘Claudette, aqui (no Rio) tem muita cantora de Bossa, você vai ser mais uma. São Paulo é um país, você vai criar uma história’. E é verdade. Olha eu contando essa história."

60 ANOS DE BOSSA NOVA

Teatro Itália. Avenida Ipiranga, 344, Edifício Itália, tel. 3255 1979. Nesta sexta, 23, às 21 horas.

Ingresso: R$ 80.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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