Entretenimento e Cultura

Mães dormem na fila para comprar ingressos do BTS para filhas

Banda sul coreana que se apresentará no Brasil em 25 e 26 de maio no Brasil atraiu multidão para frente do Allianz Parque

Foto: Reprodução

Apesar do BTS ser uma boy band e ter um público majoritariamente adolescente, a fila formada na frente do Allianz Parque para a compra de ingressos do show extra da banda em São Paulo, em 26 de maio, tem um perfil etário bem diferente. No local, mulheres na faixa dos 40 anos dividem o protagonismo com os jovens fãs conhecidos como "army".

Apesar de inusitado, não tem nada de errado nisso e nem se tratam de mulheres que se confundiram com o início das vendas dos ingressos dos shows do Paul McCartney (em 26 e 27 de março). Elas estão ali é pelo BTS mesmo. E mais importante: pelas filhas, irmãs mais novas, sobrinhas e até netas.

BTS: fãs usam memes mostrando desespero para ver show extra

As quatro primeiras da fila se encaixam perfeitamente nesse perfil. Mães de adolescentes, elas abandonaram temporariamente os trabalhos e a rotina de donas de casa para acampar numa praça próxima ao estádio e garantir a aquisição dos bilhetes.

Frustradas com a tentativa de tentar adquirir os ingressos para o primeiro show, que foram vendidos rapidamente e com certo tumulto na última segunda-feira (11), elas não desistiram de realizar os sonhos das filhas. Por conta disso, toparam ficarmais quatro dias acampadas, enfrentando calor e as tempestadades de fim de verão que são comuns em São Paulo. E, no fim, com a influência familiar, elas também acabaram virando fãs e vibraram com a posição privilegiada na fila.

"Viemos comprar para as filhas. A minha é fanática. Sou mãe de army, mas sou army também. Sei as músicas, as coreografias e irei no show vestida a caráter. Cheguei no domingo (10). Na segunda, os ingressos acabaram faltando dez pessoas na minha frente", comentou Fabricia Vidal.

Renata Santos, que comprou ingresso para a filha de 7 anos, diz que estava ali por acaso. A intenção era comprar ingressos para o show de Shawn Mendes, mas como a filha também gosta da banda de k-pop, ela resolveu ficar. "Estou aqui pela Estela, minha filha de 7 anos. Nós viemos com o objetivo de comprar ingressos para o Shawn Mendes e eu acabei ficando para comprar para o BTS também. E na segunda-feira a fila acabou em mim. Fiquei para o show extra", revela.

Sandra Francisco deixou os dois filhos adolescentes sozinhos em casa para encarar a odisseia da compra dos ingressos do BTS. Segundo a mãe army, eles tiveram que aprender a se virar para que ela cumprisse a promessa de garantir a ida para o show extra. "Eles estão em casas sozinhos e continuam indo para escola. Pedem comida por telefone e lanche na padaria enquanto estou aqui por eles".

Colaboração, compreensão e treta

Para conseguir o objetivo de comprar os ingressos em posições privilegiadas, os fãs se organizam de forma espontânea. Na praça localizada em frente ao estádio, 15 barracas de acampamento são montadas e frequentadas por até 60 pessoas cada. On integrantes se revezam e se ajudam. Com esse esquema colaborativo, eles garantem não só o ingresso, como um bom lugar no show, já que o acampamento é mantido até o dia da apresentação.

"Eu fiquei conhecida como mãe Army, porque briguei contra invasão de cambistas e idosos que eram usados para compra de ingressos em fila prioritária. Só estamos aqui porque houve ajuda mútua. Quem podia ficar direto, ficava. Quem tinha que trabalhar, intercalava a presença", explica Debora Bruno.

A enfermeira Graziele Gomes veio de Itajaí, em Santa Catarina, para adquirir ingressos para ela e para a sobrinha de 14 anos (que foi quem apresentou a banda para a tia). Ela passou a semana acampada também e voltará dois dias antes do show para tentar um bom lugar no estádio. "Vim para São Paulo para comprar ingresso, pois sabia que pela internet seria muito concorrido. Não consegui comprar para o primeiro dia pela fila e pela internet e não obtive sucesso, como esperado. Acampei em revezamento com um pessoal que também não conseguiu comprar. Nos conhecemos aqui mesmo. Só confiamos um no outro porque o nosso objetivo é o mesmo", explica Thais, garantindo que dormir na fila é seguro.

Há quem se considere uma profissional de filas. É o caso da estudante Thais Santos. Autointitulada "sem teto voluntária", ela conta que marca presença em todas as filas de shows de k-pop no Brasil desde 2015. Dessa maneira, passa muitos dias longe de casa durante o ano. "Chegamos no dia 19 de fevereiro, ao meio-dia, logo após o anúncio. Ficaremos acampadas até o dia dos shows que acontecerão aqui. Volto para casa de sexta-feira apenas. Mas tomamos banho na casa de uma amiga aqui perto. Passo bastante tempo do ano dormindo na rua para garantir a 'grade' dos shows, o que, além da proximidade, gera um certo conforto. Somos profissionais da grade", confirma.

Há também quem encontra no k-pop uma forma de unir o útil ao agradável - ou, no caso, realizar os sonhos das filhas, enquanto aproveita para lucrar com o estilo. É o caso da comerciante Dirlene Santana, que vende artigos do gênero sul coreano desde 2014. Com o lucro, ela e as filhas viajam até para o exterior onde acompanham shows que não passam pelo Brasil. "Lucro com o estilo e esse lucro também volta para as bandas. Tenho duas filhas adolescentes que viajam comigo para ver shows. O interessante é que muita gente me conhece aqui, pois são minhas clientes", conta.

Pontos moeda