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Mad Max, de George Miller, brilha em Cannes

Redação Folha Vitória

São Paulo - Pela manhã, o repórter foi ver Mad Max - Estrada da Fúria só para conferir como a ópera apocalíptica de George Miller ficaria na tela gigantesca do palais. Afinal, o filme de George Miller já fora visto em esplêndidas condições de imagem e som durante a junket em Los Angeles. A ideia era ver um pedaço de Estrada da Fúria - para conferir - e correr para a sessão de imprensa do novo Philippe Garrel, que abriu a Quinzena dos Realizadores. Foi preciso recuperar o Garrel, L’Ombre des Femmes/A Sombra das Mulheres, depois. Não houve jeito de desgrudar o olho da tela que exibia Mad Max. O filme foi aplaudido em cena aberta. Desconfie de quem diz que é insosso.

Em entrevista por telefone para o repórter, Miller contou que sempre teve esse filme na cabeça, mas só nos últimos 12 anos resolveu levar as ideias para o papel - e, claro, a tela. Havia uma guerreira em Mad Max 2, mas não se assemelhava em nada a Imperator Furiosa. Estrada da Fúria faz jus ao título, mas poderia se chamar A Ascensão de Furiosa. É a personagem de Charlize Theron. Andrógina, ela adota uma atitude masculina para fugir à sorte das mulheres no futuro apocalíptico que Miller retrata. As mulheres são propriedade do Immortant Joe, que, por possuir a água, reina no devastado reino do futuro. As mulheres são procriadoras. Fornecem leite para os guerreiros e filhos para o chefe.

Charlize se insurge e foge com cinco das mulheres do Immortant. Depois de medir forças com Max, ela faz dele seu aliado - e coadjuvante na missão de levar as mulheres à proteção das Terras Verdes. É uma utopia, e na ficção de Estrada da Fúria a guerreira vai voltar à cidadela do Immortant. Furiosa e Max quase não falam, não compartilham interesse romântico. Em Cannes, Charlize repetiu o que havia dito em Los Angeles - "Era o que havia de mais interessante no roteiro. Esse homem (disse, referindo-se a George Miller) é uma lenda. Fez Mad Max e Happy Feet. Mais de 30 anos depois, voltou ao universo apocalíptico de Max, mas não para se repetir. Criou essa guerreira que é uma das personagens mais fortes e difíceis que já fiz. Furiosa quase não fala. Age. É muito difícil revelar o interior só por olhares e gestos."

No filme, ela bate e arrebenta como macho. Em Cannes, voltou a ser uma das mais belas - e desejadas - mulheres do mundo. Contratualmente, deve ser obrigada a usar o perfume do qual é garota-propaganda. J’Adore. A fragrância delicada a acompanha. Charlize, mais macho que Tom Hardy, que faz Mad Max? "Creio que George (Miller) ama as mulheres. Sempre foi sua ideia fazer delas o motor de Estrada da Fúria. De certa forma, somos a esperança nesse futuro que não existe. O advogado inglês Christopher Vicenzi, um grande humanista, diz que ainda existe pobreza no mundo porque nós (mulheres) não estamos no poder. George compartilha de sua visão. É o lado mais político de Estrada da Fúria."

Como foi filmar na Namíbia? "Os próprios nativos reconhecem que se trata de um dos lugares mais infernais do mundo. Ouvi de um deles que é o único lugar de onde Deus se ausentou. Ficamos meses naquele deserto, com ocasionais viagens à civilização. E George ama o realismo. Filmamos em carros de verdade, que capotavam. Saltávamos amarrados por fios, que depois foram apagados na pós-produção." Furiosa, tão selvagem, tem alguma coisa a ver com suas personagens anteriores? "Tudo. Só me transformei uma vez, e ganhei o Oscar pelo papel em Monster - Desejo Assassino. Mas em vários outros filmes, interpreto mulheres sombrias, disfuncionais. Acostumei-me a ser sobrevivente no mundo masculino. Ou vocês pensam que é fácil ver os outros duvidarem de seu talento só porque é bonita? É a maldição que atinge muitas mulheres. Se somos belas, não podemos ser competentes."

Por mais que tenha gostado de fazer Imperator Furiosa, é reticente a aparecer numa eventual sequência. "George sabia disso quando me procurou, e contratou. Ele próprio demorou muito tempo para viabilizar o projeto. Estrada da Fúria virou uma coisa visceral para ele. Como criador, o respeito e admiro. Ele criou um personagem que está no imaginário de todo o mundo. Estrada da Fúria retrata uma visão que ele teve. Se formos continuar fazendo Furiosa 2, 3... Duvido que reencontremos a mesma intensidade. Serão operações caça-níqueis. Estou fora." Assim como Furiosa, Nicholas Hoult é a alma de Estrada da Fúria. Tem a única cena de ternura do filme como o Warboy, o terrorista que desiste do Valhalla por amor. Banal? "Acho lindo, e Nicholas é muito talentoso." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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