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'As Damas de Paus' debate o universo feminino

Redação Folha Vitória

São Paulo - Quatro mulheres buscam manter vivas as tradições da família, entre elas, o jogo semanal de cartas. É durante esse momento, porém, que a brincadeira inocente se torna caminho para a discussão sobre o universo feminino, o questionamento a respeito de crenças milenares e também para a revelação de segredos. Eis o ponto de partida de As Damas de Paus, comédia musical escrita e interpreta por Mara Carvalho, em cartaz no Teatro Fernando Torres.

"Eu tinha esse texto escrito há algum tempo, mas não via como montá-lo. Até que, durante uma apresentação do musical infantil A Princesinha, comentei sobre ele com o diretor Thiago Gimenes", conta Mara. "Ele se encantou com o material e começou a compor canções. Logo, descobrimos que As Damas de Paus poderia ser um espetáculo diferente, pois, trata de preconceito, mas a música tem uma grandiosidade que o torna mais poético."

Mara observa que o jogo de cartas é uma forma metafórica para se tratar das

relações humanas. "E não apenas sobre vitórias e derrotas, mas principalmente sobre a convivência com o outro", afirma ela, cujo texto, no entender do diretor Kleber Di Lázzari, transita pelo Teatro do Absurdo de Beckett e Ionesco. "Está entre o cômico e o suspense", acredita. "É um jogo - de cartas, de cena, de compreensão. As regras são claras, mas os curingas podem mudar o rumo deste jogo a qualquer momento. E é aí que a cena brinca consigo mesma, e no melhor estilo Monty Python."

Em cena, Mara divide o palco com Liane Maya, Andrezza Massei e Carol Costa, todas com experiência no teatro musical. E, a partir de seus diálogos, o texto transita do absurdo ao cotidiano. "É o humor que domina o contexto, mas o espetáculo pretende mostrar como é difícil atualmente entender certas atitudes do ser humano", conta Mara. "Hoje em dia, batalha-se tanto pela vida como pela morte."

A atriz e dramaturga lembra que sua fonte de inspiração foi justamente essa dicotomia, essa inabilidade humana em aprender com a experiência de seus antepassados. Na brincadeira que faz a partir do jogo de baralho, as mulheres são as ‘damas’ enquanto o duplo de cada personagem (o lado obscuro) é vivido pelos homens, representados por Artur Berges, Murilo Armacollo, Guilherme Delazari e Pier Marchi. "Kleber costuma dizer que os meninos atuam como curingas que, como no jogo de cartas, assumem o papel das damas", diz Mara. "Assim, eles entram em cena como por mágica e assumem o controle do jogo."

"No texto, há um lugar em que a investigação teatral se faz totalmente necessária", acredita o diretor. "Um lugar que transita, sem preconceitos ou medos, pela multiplicidade humana. Que revela o nosso sublime e nossos pontos frágeis; nossa poesia e escatologias; o masculino e o feminino; o riso e as lágrimas; isso tudo - um pouco dessa imensidão que nos forma."

Ao montar seu trabalho de direção, Di Lázzari se espelhou em mulheres que se tornaram ícones da cultura popular brasileira. "As personagens transitam entre a força e as tradições presentes nas tragédias gregas, o humor cáustico e popular de Dercy Gonçalves, e a graça encantadora de uma Eva Todor."

Mara conta que a produção do espetáculo consumiu três anos de trabalho, entre criar as canções e levantar o financiamento necessário. Mas, desde o início, a ideia era manter o espectador sob suspense, por conta das mudanças mirabolantes da trama. "Meu texto original já trazia reviravoltas e, quando optamos por transformar a peça em um musical, decidimos que as canções serviriam para envolver o espectador, ajudando-o a entender o que se passa em cena."

O tom nonsense é reforçado pela maquiagem, criada por Anderson Bueno. A proposta é lembrar as cores do baralho, mas as atrizes aparecem com um rosto pálido, seguindo a estética do cinema mudo - o branco das faces também auxilia a destacar o clima de loucura e ajuda o público a descobrir o local onde se passa a história. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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