Estudo mostra que gatos não são tão eficientes no controle da população de ratos
Criado nos anos 40 o desenho animado Tom e Jerry se transformou, quase que instantaneamente, num grande sucesso em todo o mundo. Até hoje encanta crianças e adultos. A razão de toda a graça reside, justamente, na reversão da expectativa: contrariando o senso comum, Jerry, o camundongo (Mus musculus) sempre leva a melhor sobre Tom, o gato doméstico que se dedica a caçá-lo sem tréguas e sem sucesso. Agora, um estudo feito pela Universidade de Fordham, em Nova York, revela que no fim das contas, William Hannah e Joseph Barbera estavam corretos: gatos não são bom predadores de ratos (Rattus rattus).
Pesquisadores monitoraram a movimentação e o comportamento de gatos e ratos por meio de chips implantados nos animais. O estudo revelou que, como o camundongo Jerry, os ratos sabem evitar os gatos de forma muito inteligente. Ao fim de 79 dias de experimento, apenas dois ratos tinham sido mortos por gatos. A conclusão do trabalho, publicado na "Fronteiras da Ecologia e da Evolução" é que os gatos não são eficientes no controle da população de ratos das grandes cidades. Pior, acabam se tornando uma ameaça para passarinhos e outros pequenos animais urbanos inofensivos.
"Como qualquer outra presa, os ratos superestimam os riscos da predação", explica o principal autor do estudo, Michael H. Parsons, da Universidade de Fordham. "Na presença de gatos, eles ajustam seu comportamento, de forma a se tornarem menos visíveis e passam mais tempo escondidos." Para Parsons, o estudo questiona a ideia de que soltar gatos na cidade para reduzir a população de ratos seria eficiente.
O senso comum tende a pensar em gatos como predadores naturais dos ratos. Mas, segundo os pesquisadores americanos e australianos, os felinos preferem presas menores e indefesas, como passarinhos - o que os transforma em uma ameaça aos ecossistemas urbanos. "Os nova-iorquinos sempre dizem que os ratos da cidade 'não têm medo de nada' porque eles são 'do tamanho dos gatos'", diz Parsons. "Ainda assim, é comum que soltem gatos para controlar essa população que é grande e potencialmente perigosa."
O problema é que não havia dados estatísticos para embasar nenhuma das duas teorias. Uma oportunidade surgiu quando alguns gatos invadiram um centro de reciclagem de lixo em Nova York, onde já viviam dezenas de ratos que estavam sendo estudados pelos cientistas. Quando os gatos chegaram ao centro, os pesquisadores resolveram estudar a interação entre os dois animais - pela primeira vez monitoradas em um ambiente natural, fora do laboratório.
"A gente queria saber se o número de gatos presentes teria influência sobre a população de ratos e vice-versa", explicou Parsons. "Queríamos também descobrir se a presença dos gatos teria algum efeito nos oito comportamentos mais comuns dos ratos ou em seus padrões de movimentação." Para não perder nada, os cientistas instalaram câmeras por todo o centro.
Eles examinaram nada menos que 306 vídeos feitos ao longo de 79 dias. Em todo esse tempo, os pesquisadores registraram apenas duas mortes de rato e uma tentativa infrutífera. Os vídeos revelaram que, na presença dos gatos, os ratos passavam muito mais tempo escondidos.
Tudo bem que Jerry é um rato doméstico (muito menor do que os robustos ratos urbanos), mas, no que diz respeito a estratégias de driblar a vigilância dos gatos, os dois roedores mostram comportamentos semelhantes.