Entretenimento e Cultura

Magali Bif é extraordinária em 'Pela Janela'

Redação Folha Vitória

São Paulo - Havia a expectativa, no recente Festival de Gramado, que Magali Bif recebesse o Kikito de melhor atriz por Pela Janela. No final, outra atriz, também boa - Maria Ribeiro, por Como Nossos Pais -, ficou com a estatueta, mas nesta sexta, 27, se houvesse tapete vermelho na Mostra ele estaria estendido para Magali. Ela é alma do longa de Carolina Leone, que na versão internacional se chama A Window to Rosalia, Uma Janela para Rosália, que é o nome da personagem.

Rosália é uma mulher madura que trabalha numa confecção - como o garoto de O Corpo Elétrico, de Marcelo Caetano. Ela é demitida da firma e perde o chão. O marido, que vai entregar um carro na Argentina, teme deixar a mulher sozinha e a carrega. Rosália, a seu lado, vê o mundo passar pela janela do carro. O filme é sobre a volta dessa mulher à vida. Uma etapa importante do processo é a passagem por Iguaçu. O majestoso cenário das cataratas. O que ocorre ali é essencial para o desenvolvimento dramático da narrativa. A diretora e a atriz, Carolina e Magali, vão debater o filme com o público após a sessão (19h35, Espaço Frei Caneca 2). Também presente estará a produtora Sara Silveira, da Dezenove. Sara também produz As Boas Maneiras, de Marco Dutra e Juliana Rojas, outro destaque brasileiro da programação.

Também havia expectativa pela apresentação de Happy End no Festival de Cannes, em maio. O austríaco Michael Haneke nunca foi uma unanimidade, mas venceu duas vezes a Palma de Ouro (por A Fita Branca e Amor, em 2009 e 2012). Chegou com pinta de campeão, e muita gente já apostava numa terceira Palma. A expectativa durou somente até a exibição de Happy End. Recepção gelada da crítica - para Haneke, dessa vez, não houve final feliz. O filme toca numa questão visceral da 41.ª Mostra, o tema dos imigrantes. Uma empreiteira em crise, após um acidente num canteiro de obras. O patriarca está terminal, é interpretado por Jean-Louis Trintignant. Os filhos, Isabelle Huppert e Matheu Kassovitz, tentam limpar o nome da firma e mantê-la funcionando. No melhor/pior estilo de Haneke, a família é sob medida para deixar claro que, de perto, ninguém é normal.

Haneke já abordou o tema da imigração em Código: Desconhecido, com Juliette Binoche, que não é uma de suas obras mais bem aceitas - nem de público nem de crítica -, mas bate qualquer uma de suas Palmas. Há agora um desfecho que deveria ser irônico, o happy end - a relação de Trintignant com a neta e a presença do imigrante na festa -, mas se revela desastroso e contribui para o sentimento de anticlímax. Haneke usa a tragédia dos imigrantes para falar de outra coisa, o seu tema de sempre - a falência humana da sociedade europeia. É um misantropo de carteirinha. O horror, o horror.

Na série de resgate de grandes obras do cinema brasileiro, passa nesta sexta-feira, 27, no Vão Livre do Masp, às 19h30, Eles Não Usam Black-Tie. A Av. Paulista tem sido palco de tantas manifestações, pró e contra (tudo!), que será interessante rever a celebração do sindicato no momento em que a política econômica aponta para outra relação no trabalho. Leon Hirszman adapta a peça de Gianfrancesco Guarnieri, que faz o protagonista, Otávio. Feito no bojo das grandes greves do ABC, o filme, como a peça, conta a história da greve que divide uma família (o Brasil?) - Otávio lidera o movimento, seu filho Tião é contrário aos valores de solidariedade de classe do pai. A família divide-se. No desfecho, marido e mulher, Guarnieri e Fernanda Montenegro, catam feijão. Jogam fora os grãos podres. Em 1981, essa cena emblemática tinha um significado - ético, estético, político. Será no mínimo instigante revê-la hoje, e naquele lugar. Black-Tie foi restaurado digitalmente. Sua deslumbrante fotografia é assinada por Lauro Escorel Filho.

DICAS DESTA SEXTA

Django

Nada a ver com o mítico pistoleiro de Franco Nero. Django Reinhardt, o músico cigano, e o horror do nazismo. O filme que abriu o Festival de Berlim, em fevereiro. Caixa Belas Artes Sala 3, 17h40.

Cléo das 5 às 7

Duas horas na vida de uma mulher que aguarda o resultado de um exame decisivo de saúde. Corinne Marchand belíssima. Uma das obras-primas de Agnès Varda, homenageada deste ano. Cinemateca, Sala BNDES, 21 h.

Berenice Procura

Allan Fiterman adapta o livro de Luiz Alfredo Garcia-Roza sobre o assassinato de uma travesti, agora trans. O livro é dos melhores do escritor e a trans é a poderosa Valentina Sampaio. Espaço Frei Caneca 1, 21h10.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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