Tensões raciais explodem no poderoso 'Detroit em Rebelião'
São Paulo - É com extraordinário vigor que Kathryn Bigelow filma os conflitos raciais dos anos 1960 em "Detroit em Rebelião". A história é baseada em fatos reais e põe em foco não apenas uma rebelião de rua provocada pela violência policial, como a tortura e o massacre de um grupo de negros e duas mulheres brancas num motel da cidade.
O tom é de verismo total. A câmera precisa de Bigelow (que já conhecemos de "Guerra ao Terror", vencedor do Oscar) principia por registrar os conflitos de rua em tom documental. Não esquece sua origem. A polícia dá uma batida em uma casa noturna e prende de maneira arbitrária alguns frequentadores negros. Os outros se rebelam. Atiçada pela tensão racial da cidade, a violência se espalha como incêndio. O que temos é de fato uma guerra, um lado equipado com armas sofisticadas, o outro, com paus e pedras.
Na verdade, "Detroit em Rebelião" é um tríptico. Num primeiro quadro, a origem dos distúrbios e suas causas. No segundo, o sufocante ambiente fechado onde os rapazes negros e duas mulheres brancas são submetidos a todas as violências e torturas para identificar um suposto atirador lá escondido. No terceiro, um drama de tribunal, no qual os policiais são levados a prestar contas dos seus atos perante juízes e jurados brancos.
Bigelow alterna seu registro segundo cada qual dos momentos. O dom documental, com câmera na mão frenética, em filmagem "suja", prevalece no primeiro. No segundo, a opção é pelo espaço fechado, sufocante, cheio de angústia e medo, com tempos mais longos. No terceiro, a câmera se abre e se distancia um pouco, como testemunha do que falará a Justiça sobre tema tão escabroso.
O filme é longo (2h23) e sua ambição é grande. O ponto de vista da diretora jamais se esconde - está do lado mais fraco. Em tom de painel amplo, fala não apenas de um incidente trágico de 50 anos atrás (a rebelião se deu em 1967), como indica a permanência do racismo e da injustiça no âmago mesmo de uma sociedade que se proclama aberta, democrática e de igualdade de todos perante a lei. Essas ilusões se desfazem para quem tiver olhos para ver. Belo e duro filme, desde já candidato forte ao Oscar. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.