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Um dos principais livros de fotos de Pierre Verger ganha nova edição

Em 1954, o fotógrafo e etnógrafo franco-brasileiro Pierre Verger (1902-1996) revelou pela primeira vez seu interesse pela temática religiosa africana ao lançar, na França, o livro Dieux d’Áfrique (Deuses d’África). O trabalho representou seu primeiro contato com a cultura dos orixás e marcou um momento de transformação em sua produção ao revelar sua disposição em entender dos cultos religiosos africanos.

Com Dieux d’Áfrique, Verger intensificou sua produção escrita, o que iria reforçar ainda mais o caráter etnográfico de seu trabalho fotográfico. E isso pode ser observado especialmente em Orixás, Deuses Iorubás na África e no Novo Mundo, livro editado em 1981 e que agora ganha nova edição, depois de esgotado durante vários anos. Publicado pela Fundação Pierre Verger, o volume será lançado nesta quarta-feira, 3, no Salão Nobre da Sala São Paulo, onde vai ocorrer, a partir das 21h, um debate entre os escritores Carolina Cunha e Reginaldo Prandi, além da griô e lakekerê Vovó Cici.

Trata-se de uma coleção preciosa dos primeiros registros dos orixás na África e o chamado Novo Mundo - pesquisas etnográficas que retratam os cultos aos deuses Iorubás em seus países de origem (Nigéria, Benin e Togo) e também nas terras para onde os rituais foram levados com o tráfico de escravos, particularmente Brasil e Antilhas. A publicação reúne 250 fotos históricas, com textos sobre as cerimônias, as características de cada orixá e descritivo dos arquétipos da personalidade dos seus respectivos devotos.

"O livro Orixás também foi um dos primeiros títulos em português a abordar a temática da religiosidade afro-brasileira a partir de um atento olhar sobre aspectos históricos ligados sobretudo à cultura iorubá que, pelos vários caminhos e acasos de suas pesquisas, tornou-se o foco principal da obra de Verger", escreve Gilberto Sá, presidente da Fundação Pierre Verger, na introdução do volume.

Cerimônias. Pierre Verger era um homem tímido, contemplativo, mas afeito a pesquisas, o que resultou em um precioso acervo de mais de 62 mil itens, entre negativos, fotografias, materiais diversos, textos e livros, tudo arquivado hoje na fundação que leva seu nome, com sede em Salvador e atual responsável pela conservação e cuidado desse material.

O francês chegou ao Brasil pela primeira vez em 1946, no momento em que a Europa iniciava a experiência do pós-guerra. Em Salvador, dividiu apartamento com o arquiteto e fotógrafo Marcel Gautherot. Verger viera a convite de Assis Chateaubriand, poderoso chefão dos Diários Associados, que, interessado na qualidade da imagem conseguida pela câmera do francês, planejava contratá-lo para trabalhar na revista O Cruzeiro, o que lhe garantiria uma permissão de residência. Contratado, Verger realizou uma série de reportagens sobre a histórica Salvador e suas manifestações religiosas e culturais.

O trabalho fotográfico exibido em Orixás demonstra como Verger estava mais interessado em captar momentos e expressões que com o apuro técnico - um maior comprometimento com o factual que com regras estéticas. Há cerimônias retratadas em sequência e, em alguns casos, o fotógrafo optou por ângulos de baixo para cima, o que também indica uma posição respeitosa.

Sua relação com os rituais africanos torna-se tão íntimo que o fotógrafo assume, como seu segundo nome, Fatumbi, que significa renascido do Ifá, logo após sua iniciação como babalaô, em 1953, na África. O lançamento de Orixás abre uma série de eventos que incluem exposições, doações de fotografias, lançamentos de outros livros, seminários, workshops, ambientações em locais de acesso público e intervenções urbanas artísticas, entre outros.

ORIXÁS

Editora: Fundação Pierre Verger (308 págs., R$ 150).

Lançamento. Sala São Paulo, Salão Nobre. Pça. Julio Prestes, 16. 21h

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.