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'Bingo - O Rei das Manhãs" se prepara para "corrida pelo Oscar"

A Academia realiza sua 90.ª festa de premiação em 4 de março. No final de janeiro, divulga a lista de indicados

As notícias vieram em dupla, e acumuladas para o diretor Daniel Rezende no começo da semana. "Estava muito ansioso." Na quinta-feira, 14, uma comissão da Ancine, Agência Nacional de Cinema, escolheu seu longa Bingo - O Rei das Manhãs como candidato do Brasil para concorrer a uma vaga no Goya, o Oscar espanhol. Na sexta, 15, outra comissão - da Academia Brasileira de Cinema, num acordo de cooperação com o MinC - escolheu o filme do palhaço como representante do Brasil no Oscar, o de Hollywood.

A Academia realiza sua 90.ª festa de premiação em 4 de março. No final de janeiro, divulga a lista de indicados. A categoria de filme estrangeiro é a única que é preanunciada antes. Primeiro, no começo de janeiro de 2018, uma long list. Depois, com os demais indicados, a short list, a dos que vão para a festa. Feliz como estava - "Radiante!", segundo as próprias palavras -, Daniel Rezende sabe que agora terá muito trabalho pela frente. "É como começar de novo. Ninguém chega ao Oscar sem ralar. É o que vamos fazer."

O plural engloba a produtora dos Gullane, a distribuidora Warner. Rezende conversou com o repórter pouco mais de uma hora depois do anúncio feito pela comissão. Ainda estava emocionado. "Vamos ter de nos reunir para avaliar isso e traçar estratégias. É possível que, no começo da semana, a gente tenha alguma novidade nessa área." 

Por enquanto, é comemorar. "O Bingo nasceu do desejo de fazer um filme baseado na cultura pop, que não é muito visitada pelo nosso cinema. Com um personagem assim forte, a ideia que nos mobilizou foi fazer um filme denso, emocionante, aprofundando essa figura. Quando me debrucei sobre o Bozo, descobri que teríamos de ficcionalizar e criamos o Bingo. O filme é inspirado na história do Arlindo Barreto, que fez o Bozo na TV, mas não é a história dele, por isso o personagem virou o Augusto. 

O Arlindo virou pastor evangélico, mas eu não via essa como uma história de redenção. Para mim, é a história de um sujeito que vive para o palco, tem altos e baixos na vida e termina encontrando no culto evangélico o seu holofote. Não é nem essa questão de ser 171, ou não. É sujeito que precisa de um palco."

E Rezende - que já foi indicado para o Oscar de montagem por Cidade de Deus, de Fernando Meirelles - tinha essa ambição de fazer um filme bem feito, um filme do qual tivesse orgulho e orgulhasse o público. Mas ele sabia que não seria fácil. "Sabia que esse final poderia desconcertar muita gente e até provocar polêmica, nesse momento de retrocesso que vivemos. O que nunca deixei de confiar foi no boca a boca. Quem vê o filme me dá um retorno muito bom, mesmo que eventualmente não goste muito." Tivemos números que não foram muito bons, espero que a indicação renove o interesse por Bingo."

Lançado em 395 salas, Bingo foi perdendo espaço e chegou à quarta semana num número mais reduzido de salas, contabilizando - no fim de semana passado - 190 mil espectadores. É possível que o número de salas aumente, mas a decisão será tomada só na próxima semana. Nos últimos anos, as comissões que se reuniam para indicar o candidato do Brasil a uma vaga no Oscar tentavam criar a fantasia de uma escolha por unanimidade. 

Este ano, houve consenso, não unanimidade na escolha de Bingo. O atraso de uma hora da coletiva realizada na sede da Cinemateca Brasileira já indicava que a discussão da comissão devia estar animada. O roteirista Doc Comparato, que integrava o grupo, justificou a escolha em três pontos - "Expressão, realização, compreensão. Queríamos um filme que expressasse o Brasil, que fosse muito bem realizado e que pudesse ser entendido até no Japão. Bingo atendeu a todos os requisitos."

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