Atleta vai representar o Espírito Santo na ultramaratona mais difícil do mundo nos EUA

O Espírito Santo vai ter um representante na Badwater, a ultramaratona considerada a mais difícil do mundo, realizada em julho no deserto de Mojave, na Califórnia, Estados Unidos. O ultramaratonista Carlos Gusmão entra no seleto grupo de corredores escolhidos para encarar a mais dura prova de corrida do planeta. O capixaba vai percorrer os 217 quilômetros que cortam o Vale da Morte, levando a bandeira do Estado para brilhar debaixo do sol escaldante e de temperaturas que podem chegar até aos 60 graus. Além dele, apenas outros dois brasileiros foram aceitos na competição: Eduardo Calixto, de Minas Gerais, e Joilson Ferreira, de São Paulo.

O passaporte de Gusmão para a Badwater foi carimbado na última sexta-feira (22), um mês após o atleta ter conquistado a quarta colocação na BR 135 Ultramarathon, realizada nas montanhas da Serra da Mantiqueira, em Minas Gerais. A posição alcançada por ele na competição brasileira foi a porta de entrada para a sua qualificação na ultramaratona americana. Saiba como foi o desempenho de Gusmão na BR 135.

A conquista do ultramaratonista capixaba foi compartilhada pelo atleta nas redes sociais. “Congratulations! You have been accepted to compete in the 2013 Badwater Ultramarathon, presented by AdventureCORPS, Inc. You are part of a select group who will participate in what is recognized across the globe as “the world’s toughest footrace”. Foi essa a mensagem que Carlos Gusmão recebeu da AdventureCORPS, organizadora da Badwater, confirmando a sua participação no evento. Centenas de mensagens de apoio de fãs e incentivadores encheram a timeline do corredor no Facebook.

Gusmão tem 33 anos, é casado, pai de uma menina de 4 anos e, além de corredor, é professor de educação física, técnico da Equipe Ultra Sports e funcionário público. Em entrevista ao blog Corrida de Rua, o ultramaratonista revela a sua emoção de entrar para o seleto e restrito clube de atletas a encarar uma das desafiadoras provas do mundo e a expectativa de realizar o sonho de ser o 15º brasileiro e 1º capixaba a completar a prova. Confira:

Corrida de Rua – Como começou sua história com a corrida?

Carlos Gusmão – Minha vida esportiva começou aos sete anos de idade quando participei das primeiras competições de natação. Nadei pelos grandes clubes de Vitória chegando até a disputar campeonatos nacionais. Aos 13 anos, abandonei a natação para me dedicar somente ao futsal. Fui goleiro até os 17 anos conquistando diversos títulos estaduais nas categorias de base em todos os clubes em que joguei. Era conhecido como “verdinho” devido às roupas que usava. No inicio do ano 2000, empolgado com a virada do milênio e com 20 anos de idade retornei ao esporte por incentivo de um amigo que me convidou para fazer triatlhon. Me apaixonei pela modalidade e comecei a pegar por desafios. Em 2005, cheguei a completar o Iroman Brasil, mas o esporte começou a ficar caro. Em 2007, deixei o triatlhon de lado e comecei a me dedicar às corridas, principalmente às maratonas. Tinha um pensamento de que quando completasse minha 10ª maratona iria fazer uma ultra de 100km. Dito e feito! Quando completei minha décima maratona em 2010 fiz uma ultra de 62 km em Venda Nova do Imigrante e fiquei em 3º Lugar Geral. Percebi que tinha talento para as ultramaratonas. Daí não parei mais: em 2011, fui Campeão Brasileiro de Ultramaratona de 24 horas da categoria 30 a 34 anos. Em 2012, campeão da BR 217 solo. Também fiquei em 3º lugar geral nos 100 km da Volta ao Lago, em Brasília, em 4º lugar geral no Brasileiro de 24 horas e, em 2013, 4º Lugar Geral na etapa da BR 135 válida pelo Circuito Mundial em Ambientes Extremos.

Corrida de Rua – Qual caminho você precisou percorrer para conseguir vaga na ultramaratona mais difícil do planeta?

Carlos Gusmão – Conseguir uma vaga na Badwater não é fácil! Você tem que enviar um currículo para a direção da prova que atenda a no mínimo três requisitos: 1º: já ter participado da Badwater; 2º: ter concluído no mínimo três provas com mais de 100 milhas (160km); e o 3º: ter completado a BR 135 em menos de 48 horas. Como aqui no Brasil não existem provas de 100 milhas, minha qualificação veio pelo meus dois excelentes resultados na BR 135, com o tempo de 37 horas, em 2012, e 32 horas, em 2013. Além disso, atleta tem que ter experiências em outras provas. Os desafios solidários que realizei no Espírito Santo, para fazer o natal das crianças mais feliz, acredito que tenha somado pontos para ser aceito. No total, foram mais de 4 mil ultramaratonistas de todo mundo que concorreram às 90 vagas da Badwater e eu fui um dos selecionados para encarar a ultramaratona mais difícil do mundo. Este será o 35º ano da Badwater e até hoje somente 14 brasileiros conseguiram completar esta prova. Pretendo ser o 15º brasileiro e o 1º capixaba a terminar esse desafio.

Corrida de Rua – Como tem sido sua rotina de treinos para a Badwater?

Carlos Gusmão – Meus treinamentos começam a se intensificar a partir de agora, quando iniciarei meus treinamentos dentro da sauna. Começarei com 15 minutos, mas até o inicio de julho devo estar pedalando três horas dentro da sauna sob uma temperatura de 83ºC, conforme meu plano de treinamento.

Corrida de Rua – Em quanto tempo você pretende completar os 217 quilômetros?

Carlos Gusmão – Pretendo completar a Badwater em menos de 34 horas e ficar entre os primeiros colocados.

Corrida de Rua – Você está preparado para enfrentar quais tipos de dificuldades?

Carlos Gusmão – As dificuldades serão o calor e a desidratação extremos, fortes ventos com tempestade de areia.

Corrida de Rua – Você tem patrocínio? Quem vai te apoiar?

Carlos Gusmão – Fui aceito para Badwater, mas para estar lá no dia 14 julho preciso depositar o valor de U$ 995,00 até o dia 28 de fevereiro. Referente ao pagamento da inscrição. O custo do projeto está em R$ 25 mil, o que inclui as despesas de passagens áreas, hospedagem, inscrição, carro de apoio e alimentação nos Estados Unidos. Hoje não possuo um patrocínio que custeie meus treinamentos, mas existem empresas que acreditam no meu potencial e tem me ajudado a conquistar meus objetivos e são eles: Apoio Andaimes, Vila do Açaí, Academia GymClub e a MHP suplementos.

Corrida de Rua – Qual estrutura você está montando para te auxiliar durante a prova? Vai uma equipe com você?

Carlos Gusmão – Para competir nos EUA estou montando uma equipe de apoio composta por 4 pessoas que vão tomar conta de mim durante toda a prova. A equipe de apoio é item obrigatório da corrida, pois a saúde do atleta está nas mãos dela.

Corrida de Rua – A Badwater era o seu maior objetivo? Qual é o seu próximo sonho?

Carlos Gusmão – Em 2003, Sérgio Cordeiro foi o primeiro brasileiro a completar a Badwater e assisti o documentário que foi feito com ele sobre a prova na TV. Fiquei encantado com a prova e me questionei se algum dia conseguiria chegar até aquele nível. Dez anos se passaram e agora fui aceito para enfrentar o inferno, como os atletas costumam chamar o percurso. Meu objetivo é continuar correndo e me superando. Gosto de utilizar a ultramaratona como uma forma de sensibilizar as pessoas a estarem ajudando ao próximo. Para a Badwater lançarei uma campanha para arrecadar fundos para APAE. Será uma espécie de venda de quilômetros, onde venderei os Kms percorridos no deserto. As pessoas poderão comprá-los, simbolicamente, doando uma quantia para APAE. “O ser humano precisa entender e acreditar que possui uma força infinita e que só se superando, ultrapassando os limites é que nos damos conta que ela existe. “O impossível só existe para quem não acredita, por isso devemos acreditar sempre!”.

Dois brasileiros já venceram

O vencedor da Badwater em 2012 foi o americano Mike Morton, de 40 anos, que liderou de ponta a ponta, percorrendo os 217 quilômetros em 22h52min55s. O carioca Marco Farinazzo, 44 anos, único atleta que representou o Brasil no ano passado, terminou em sétimo lugar com o tempo de 27h59min58s. Foi a quarta participação dele na mais famosa ultramarathon do mundo. Em 2009, Farinazzo faturou o primeiro lugar da competição com o tempo de 23h39min18.

Dois anos antes dele, em 2007, o brasileiro Valmir Nunes já tinha entrado para a história do esporte mundial. Nunes não só venceu a prova como bateu o recorde completando o percurso em 22h51min29seg. Em 14 edições, a Badwater consagrou 12 campeões diferentes.

A mais temida ultramaratona

Reconhecida mundialmente como a “corrida a pé mais dificil do mundo”, o evento lendário coloca na disputa 100 dos maiores atletas do mundo, entre corredores, triatletas, montanhistas e alpinistas. A edição 2013 da Badwater Ultramarathon acontece entre os dias 15 e 17 de julho. Acompanhe os detalhes no site oficial.

A largada da competição é em Badwater, localizada em Death Valley, que tem a menor altitude da América do Norte, estando a 85 metros abaixo do nível do mar. A corrida termina no Mount Whitney Portal, com 2533 metros de altitude. A Badwater passa por três cordilheiras e os atletas percorrem uma soma de 3962 metros de subida e 1433 metros de descida. Os competidores passam por lugares como Mushroom Rock, Furnace Creek, Salt Creek, Devil’s Cornfield, Devil’s Golf Course, Stovepipe Wells, Keeler e Lone Pine.

Veja o vídeo:

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