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Time olímpico de refugiados passa mensagem: 'Podemos ser tudo o que quisermos'

Redação Folha Vitória

Rio - Os milhões de refugiados espalhados ao mundo todo não podem se contentar em serem apenas pessoas esperando a hora de voltar para casa. Podem, e devem, ser aquilo que quiserem: atletas, artistas, jornalistas, médicos, advogados. É essa a mensagem que a equipe de refugiados que vai disputar os Jogos Olímpicos do Rio acredita estar passando ao mundo.

"Quando me contaram que eu ia para a Olimpíada, eu falei: 'Eu sou refugiado, não pode ser. Nunca vi acontecer. Como um refugiado Olimpíada?' O COI tirou a tristeza do nosso coração. Eu já tinha botado na nossa cabeça que a gente não pode fazer nada. Estamos lutando por todos os refugiados do mundo", garante Popole Misenga, judoca natural da República Democrática do Congo e refugiado no Brasil.

Além dele, outros quatro atletas do time de refugiados do Comitê Olímpico Internacional (COI) participaram da entrevista coletiva no começo da tarde deste sábado, a primeira promovida pela entidade internacional no parque olímpico. A presença de mais de 100 jornalistas, de diversas partes do mundo, deixou Popole radiante. "Estão todos aqui para ouvir o que nós temos para falar. O esporte nos proporcionou isso."

Na última pergunta da entrevista coletiva, um jornalista japonês lembrou Popole de algo que, até então, ele não havia se dado conta. Aquelas dezenas de câmeras estavam levando sua cara para o mundo todo. Talvez até para onde quer que estejam os seus irmãos. Quando se tocou disso, o judoca casca-grossa, que viveu na rua e passou fome no Rio, chorou.

"Tenho dois irmãos que não sei mais a cara deles assim, a gente se separou pequeno. Só o mais velho eu vou reconhecer a cara dele. Estou aqui, estou aqui no Brasil, e só estou aqui graças a uma Olimpíada. Se ele me ver pela TV, ele pode ver que o irmão dele está aqui. E lutando", afirmou, sem segurar o choro, enquanto dava um nó na garganta de muita gente.

A entrevista coletiva inteira, aliás, foi emocionante. Um momento único nos Jogos Olímpicos. Esta é, afinal, a primeira vez que uma equipe de refugiados participa. "Estou um pouco triste por não representar bandeira do País, mas vou representar todos os refugiados no mundo. Todo mundo no mundo fica falando como se os refugiados não fossem importantes. Vamos mostrar que os refugiados são capazes de fazer tudo no mundo", garantiu outra congolesa radicada no Brasil, Yolande Mabika.

Os dois atletas africanos vieram ao Rio para o Mundial de Judô de 2013 e desertaram depois de serem abandonados passando fome no hotel onde estavam hospedados. Vieram pelas ruas até serem acolhidos, no início do ano passado, pelo ex-judoca Flávio Canto. No Instituto Reação, iniciativa social do medalhista olímpico, reencontraram o judô, o esporte e a Olimpíada, "sonho de todo atleta".

As histórias deles se confundem com as de Rami Anis e Yusra Mardini, nadadores sírios que moram respectivamente na Bélgica e na Alemanha. Também eles foram acolhidos nos países nos quais se refugiaram. "Eu cheguei no clube Wasserfreunde Spandau sem nada de natação, sem maiô, óculos. Chegue e disse: 'Oi, sou nadadora, podem me ajudar?'. E eles me ajudaram. Viram meu nível, me aceitaram. Eles se tornaram minha família", contou Yusra, de 18 anos, a caçula do time. Ela fugiu de Damasco há um ano e mora em Berlim.

Todos também compartilham o sentimento de que querem ser os últimos refugiados na história da Olimpíada. "Fico triste de não estar aqui como um sírio, mas estamos representando pessoas que perderam suas vidas, sofreram injustiça. Espero que em Tóquio não haja refugiados e nós sejamos capazes de competir sob a nossa bandeira", destacou Rami.