As eleições americanas

Estamos sendo impactados diuturnamente pela propaganda eleitoral, visando às eleições municipais no Brasil. É sempre um momento importante quando escolhemos aqueles que terão a gestão de nossas cidades, onde sentimos de perto seus resultados, bons ou ruins.

É hora, em tese, de nosso povo fazer as escolhas baseadas em competência, ética e visão de futuro, fazendo uma análise de cada candidato antes de pôr seu voto na urna. Mas ainda temos um modelo político um tanto viciado, cheio de brechas por onde candidatos pouco preparados podem ascender a posições importantes e tomar decisões ruins, resultando em perdas para toda a sociedade. As consequências quase sempre têm sido muito pequenas para eles.

Temos avançado, é verdade, com as leis de Responsabilidade Fiscal e a da Ficha Limpa, mas acho que ainda não é o suficiente para alcançarmos resultados superiores na gestão de nossas cidades. Naturalmente que o julgamento da ação penal 470, conhecida como mensalão, trará impactos positivos para o futuro de nosso sistema político, pois a questão da ética no setor público está experimentando uma reviravolta que não se via desde os primórdios de nosso país. Mas a ética na política é apenas uma premissa necessária e essencial ao bom político, que precisa ter outros atributos para que a gestão se torne eficiente.

Também creio que o eleitor está cansando de não ter uma oposição forte e combativa, entrando numa espécie de fadiga de um modelo baseado no governismo de coalisão, sem o contraditório e, portanto, deixando de prestar um serviço positivo ao país, como é a obrigação das oposições. Afinal, elas também receberam votos e têm ou deveriam ter a obrigação de corresponder à confiança dos que nela votaram legitimamente.

É neste quadro que também tenho interesse nas eleições para a presidência dos Estados Unidos, que está prestes a ocorrer. E qual a importância destas eleições?

Podemos aprender um pouco mais sobre esta grande democracia, bem mais amadurecida que a nossa, ver como ocorrem os debates, qual o posicionamento de cada lado do espectro político, ver como atuam as oposições ao governo e como este faz sua prestação de contas e suas promessas para os próximos quatro anos.

Não esqueçamos que os Estados Unidos ainda serão, por vários anos, a maior economia do mundo, com impactos importantes nos países em desenvolvimento como o nosso. Ainda que estejam passando por uma crise econômica, deverão crescer em torno de 1,5% a 2% ao ano (até mais que nosso país) e isto significa mais que um Brasil a cada ano. Não é pouco e com a redução de velocidade da China, não podemos deixar de olhar aquele mercado com o devido respeito, pois o mundo está fatalmente atrelado a estas duas locomotivas mundiais.

Além disso, os Estados Unidos têm liderado nos últimos 60 anos, as pesquisas em diferentes áreas da convivência humana, as invenções, a tecnologia, além de serem líderes em transformações sociais importantes, seja no das liberdades das mulheres, dos afro-americanos, ou de  diversas minorias, servindo de exemplo para muitos avanços também obtidos em nosso país. Daí a importância de estarmos atentos àquele país, bem como à China e à India, gigantes que estão se levantando e ocupando espaços importantes no mundo.

E o que será melhor para os Estados Unidos, a reeleição de Obama ou a vinda de um novo presidente, desta vez republicano?

Não sou analista político, nem tenho esta resposta, mas tento olhar um pouco as realidades e as promessas de cada candidato. O presidente não tem cumprido totalmente suas promessas de campanha, como por exemplo, fechar a prisão de Guantânamo, terminar as guerras, gerar empregos e reduzir a dívida do país. Muito pelo contrário, a dívida já subiu uns cinco trilhões de dólares. E, o mais importante, o desemprego está muito elevado para os padrões americanos que tem na economia um dos fatores mais importantes na escolha dos candidatos. Muito disto, é verdade, tem a ver com a falta de apoio no congresso, de maioria republicana e que tem visões diferentes para a solução dos problemas econômicos. 

A visão do presidente democrata é mais próxima da europeia, de um estado mais forte e indutor de desenvolvimento, com um viés de bem-estar social que não é o comum para o povo americano. Isto tem suas vantagens, mas também seus custos, como estamos vendo na Europa. Já os republicanos acreditam em menos estado, menos impostos e mais liberdade de ação para os empreendedores, esperando que cada um tenha seus direitos reconhecidos, mas também suas obrigações de buscar solucionar seus próprios problemas, usando o estado para melhorar a infraestrutura, a educação, a inovação e determinados serviços fundamentais. 

Há, portanto, uma diferença importante de visão de cada partido e eles debatem isso fortemente durante o período eleitoral, ainda que, após eleitos, haja uma tendência a ir para uma direção mais ou menos comum que acaba por adotar as boas soluções. Já vimos muitos presidentes democratas com ótimos auxiliares republicanos, como vimos o inverso também, numa demonstração de que o país está acima das divergências entre os partidos. Este é um bom exemplo de maturidade política que poderíamos copiar em nosso Brasil.

No cenário americano, estamos assistindo a debates que têm densidade ideológica, têm visões diferentes e uma oposição que diz o que pensa e que trás propostas. Acho isto fundamental para a escolha dos eleitores. Clint Eastwood, em sua fala na convenção republicana, disse uma frase que deveríamos repetir e praticar no Brasil:”o País é nosso e os políticos são nossos empregados” e isto significa uma consciência fundamental na cobrança de resultados de nossos administradores.

As pesquisas mostram um empate técnico entre Obama e Romney. As convenções estão a pleno vapor e ninguém é capaz de dizer quem sairá vencedor das urnas, embora na minha visão o presidente leve uma pequena vantagem dado o seu carisma pessoal, sua forma amena de defender seus pontos de vista, mesmo os mais extremados, enquanto Romney me parece mais direto, dando uma aparência mais dura à sua argumentação. Um é mais sensibilidade e ideológico, o outro é mais gestor e direto ao ponto. Quem será melhor para resolver os problemas da economia, que afinal de contas irá melhorar o nível de emprego do país e corrigir perdas no padrão de vida do povo?

Em ambas as plataformas, há uma forte promessa de incentivar as diversas formas de energias alternativas mais sustentáveis. Mas os dois candidatos prometem ir fortemente ao encontro das novas tecnologias de exploração da energia fóssil disponível na América do Norte na forma de petróleo e gás, que poderá dar ao país uma autossuficiência muito maior que a atual por muitos anos. Isto por certo irá impactar os preços do óleo mundial. O que isso significará para o Brasil? Para o nosso pré-sal? Nosso álcool? E para o meio ambiente?

Este assunto por si só já é importante o suficiente para acompanharmos as eleições daquele país, pois suas decisões não afetam somente a eles, mas poderão ter impactos sobre as demais economias do mundo.

Esperemos que vença o melhor para seu povo e que o vencedor traga as melhores soluções econômicas, reduza os impasses no congresso, para fazer aquela locomotiva acelerar e puxar o mundo junto com eles.

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