Agenda de desenvolvimento com sustentabilidade para o Brasil

Presente entre as oito maiores economias do planeta, o Brasil, país de históricas e persistentes desigualdades sociais, vem apresentando dificuldades diversas em reverter essa posição econômica em melhorias na qualidade de vida da sua população. Segundo rankings elaborados pela consultoria Mercer em 2012, não constam cidades brasileiras entre as cem melhores para se viver. Rio de Janeiro e São Paulo, entretanto, estão entre as quinze cidades mais caras do mundo. Pode-se até questionar os critérios das comparações, porém é razoável supor que tais rankings afetam geralmente a percepção externa em relação a um país e pode inclusive afetar a qualidade e a quantidade dos investimentos estrangeiros no mesmo.

O Brasil é mesmo um país de grandes contrastes. Seus desafios não são pequenos, pois está claro para muitos de nós que precisamos crescer economicamente mais para distribuir renda e continuar reduzindo as estruturais desigualdades sociais herdadas. O jogo político, atividade humana antiga e objeto de grandes questionamentos morais no presente, precisa evoluir e melhorar na profundidade de suas discussões e proposições. Não devemos esperar por milagres na política. Devemos pressioná-la para que ela se renove efetivamente.

Não é novidade que a agenda dos partidos políticos brasileiros costuma funcionar a partir de ciclos bianuais. Encerrado um ciclo eleitoral, o próximo ciclo conformará novas e antigas alianças, os interesses e, invariavelmente, apequenará o debate político necessário. Nesse sentido, não se poderá esperar nada além de educação, saúde, segurança pública e agora mobilidade urbana no rol da gogologia do marketing político em 2014. Afinal, para quando poderemos efetivamente esperar melhorias nesses serviços? Creio, ademais, que o baixo crescimento da economia brasileira, o “pibinho”, também constará no rol das discussões políticas. Há quem já preveja uma crise financeira no horizonte próximo por conta da persistente sobrevalorização cambial do real frente ao dólar (cf. M. Boesler, ‘Hajime Kitano: The big surprise of 2014 may be a Brazilian financial crisis’. Business Insider, Dec. 5, 2012).

 

Talvez tais previsões catastróficas de mercado expliquem parte do nervosismo do governo federal e o sorriso amarelo de alguns governadores que não conseguem emplacar seus programas. As desculpas e as lamentações serão diversas em 2014, pois muitas promessas políticas não serão honradas e alguns pedirão mais quatro anos de mandato. Você estará realmente disposto a renovar esses mandatos, por menos letárgicos que se busquem mostrar esses governos? Certamente que as escolhas dependerão das opções do momento.

Mudanças estruturais nos modelos de crescimento econômico dos países não ocorrem instantaneamente; os ajustes ocorrem gradualmente no tempo. Pensemos rapidamente nos desafios brasileiros. A transição da ênfase no crescimento puxado pelo consumo interno para um paradigma puxado pelo investimento produtivo pode se complicar quando se analisa componentes do “custo Brasil” e a indisposição de alguns setores privados em realizar investimentos produtivos domésticos de longa maturação. Pode-se até alegar e aceitar em alguma medida que as incertezas de diversas ordens são grandes no Brasil do presente. Elas seriam menores na China? Creio que não, porém compreendo que se trata de uma ponderação complexa e que deveria considerar o fator tempo nas análises comparativas e as diferenças nos jogos políticos.

As oposições políticas estão muito fragilizadas no Brasil, o que é bastante ruim para a nossa democracia porque apequena o debate nacional. Elas são as maiores responsáveis por essa incômoda posição, pois não conseguiram construir até o momento um discurso razoável capaz de criar interlocução e sintonia com os anseios populares. A sanha moralista udenista parece ter sido a bandeira escolhida, algo que não está funcionando a contento até o momento. Os números ainda são positivos ao governismo, pois a taxa de desocupação está abaixo dos 6% e há uma sensação generalizada de relativo bem-estar. A questão é saber se tal situação se sustentará. O nervosismo governista com o pibinho revela uma resposta.

Do ponto de vista dos progressistas, governistas ou não, creio haver uma necessidade urgente de se aprofundarem debates entre 2013 e 2014 a partir de seminários e eventos político-partidários que possam mobilizar as inteligências em diversas escalas regionais. Não há motivos para se delimitarem de antemão fronteiras partidárias ou mesmo preferências ideológicas. Diversidade e riqueza de opiniões devem ser aproveitadas para que os partidos políticos brasileiros possam reformular suas perspectivas programáticas e linhas de ações ainda no curto prazo. Seria algo muito positivo se os mesmos aproveitassem para renovar efetivamente os seus desgastados e ultrapassados quadros políticos, incluindo suas práticas e costumes. Como bem podemos observar, há muito trabalho a ser feito nesse sentido.

Rodrigo Medeiros (D.Sc.)

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