Dez anos do Novo Espírito Santo

Uma década é um período relativamente curto para se analisar profundamente questões complexas da evolução de uma sociedade, porém sabemos muito bem como os últimos anos foram importantes para a mudança de perspectivas capixabas. O governo estadual enfrentou naqueles tempos enormes dificuldades simultaneamente – desorganização generalizada das finanças públicas, falta de credibilidade institucional do ES, criminalidade difusa, entre outras.

A partir dos esforços de qualificados colaboradores técnicos e sob o ritmo da competente batuta de uma esclarecida liderança política, os capixabas viveram um período de melhorias gerais nas suas condições de vida. Há ainda muito a ser feito. O boom internacional dos preços das commodities exportadas possibilitou a melhora efetiva na distribuição da renda e, dadas as características da economia capixaba, aproveitou-se essa janela de oportunidade sem cair numa euforia populista de gastança desenfreada. As estruturas da máquina administrativa do governo estadual, incluindo aspectos importantes de capital humano, foram resgatadas do limbo, reorganizadas institucionalmente para o desenvolvimento e o governo foi entregue com situação fiscal equilibrada para a nova gestão em 2011.

Desde então, a administração vem reconhecendo e buscando dar continuidade aos esforços feitos. Pode-se até questionar uma suposta perda de ritmo no desenvolvimento capixaba, algo que estaria em parte explicado pela redução do crescimento econômico brasileiro e a extensão de uma interminável crise mundial do sistema capitalista. Ainda que este seja efetivamente o contexto, o acúmulo de contribuições institucionais do Novo Espírito Santo propicia um norteador de ações ao desenvolvimento estadual. Nesse sentido, destaco o moderno Plano de Desenvolvimento Espírito Santo 2025, publicado em 2006, e que revela como a política entre nós não deve ser feita apenas de negociações eleitorais de bastidores por coligações partidárias. Afinal, “vitórias de Pirro” são velhas conhecidas na historiografia humana.

Palavras do ex-governador Paulo Hartung registradas nesse mesmo plano de desenvolvimento esclarecem o futuro possível desejado pelos capixabas: “Até 2025 o Espírito Santo alcançará padrões de desenvolvimento próximos aos dos países com as melhores condições de vida na atualidade. E isto não é um sonho. É um projeto viável, como bem demonstra este Plano Estratégico de Desenvolvimento”. Não sei dizer precisamente se esse sentimento de projeto comum de futuro, com entrega tangível de realizações governamentais, permanece no imaginário capixaba no presente. Suspeito que não, pois uma recente pesquisa de opinião divulgada na mídia local aponta para expressivas frustrações nas expectativas sociais com a qualidade dos serviços públicos e de utilidade pública ofertados. Há margem inclusive nas interpretações da pesquisa para se apontar retrocessos.

Existe uma clara percepção manifestada por importantes articulistas de opinião nos diversos veículos de comunicação de que o aparelhamento político suprapartidário indiscriminado das estruturas de Estado afeta negativamente a regulação das atividades econômicas generalizadamente. Alguns preferem chamar tal fenômeno de “governabilidade”. Nesse contexto que mais se aproxima a um caos na regulação, dificilmente se poderia esperar que a economia brasileira se desenvolvesse plenamente para atender aos anseios do conjunto de expectativas da sociedade por melhorias nas ofertas de serviços públicos e/ou privados.

A crise internacional de 2008 certamente atrapalhou a velocidade das realizações previstas no Plano de Desenvolvimento Espírito Santo 2025, devendo alguns de seus pontos passar por criteriosas revisões e aprofundadas discussões no presente. Perdas fiscais recentes provocadas por decisões políticas em Brasília já afetam o curto prazo do ES. Nesse sentido, os capixabas precisam contar com governos mais eficientes, inteligentes e capazes de entregar resultados tangíveis. Esse é um enorme desafio para o Novo Espírito Santo. O ano eleitoral de 2012 infelizmente impediu essa importante discussão; marketing e discurso político superficial deram a tônica das disputas cosméticas daquele momento.

Podemos esperar por maior lucidez política dos partidos e que os mesmos promovam debates de alto nível sobre os rumos capixabas? Afinal, quais são efetivamente as grandes lideranças políticas e quais as suas propostas objetivas de enfrentamento dos desafios presentes? São nos momentos difíceis que conhecemos realmente os nossos grandes líderes políticos.

Rodrigo Medeiros

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