O desafio do capital baseado no conhecimento

Artigo de opinião publicado na última edição do OECD Observer (Yearbook 2013), de Andrew Wyckoff, traz interessantes reflexões sobre um importante conceito no campo da produção de bens e serviços: o capital baseado no conhecimento (KBC, em inglês). A mensagem do texto é muito clara e direta, ou seja, para se promover crescimento sustentado e empregos do futuro, os governos devem garantir uma estrutura política que ajude as empresas a investir em KBC.

O sinuoso jogo político é evocado a ter uma ética da responsabilidade à la Weber porque o futuro depende das escolhas políticas feitas no presente. Sabemos todos dos grandes avanços feitos na produção agrícola brasileira, conquistas propiciadas pelas pesquisas da Embrapa, e das terríveis dificuldades enfrentadas no presente pela indústria de transformação instalada entre nós. Nesse sentido, o setor de serviços representa uma nova fronteira dos potenciais ganhos de produtividade na nossa economia. Os desafios são enormes para o Brasil. Vejamos brevemente um gráfico exposto no artigo de Wyckoff.

 

 

O Brasil não aparece nesse quadro comparativo, porém os seus déficits recorrentes na balança comercial em setores industriais mais intensivos em tecnologia apontam para uma situação que deveria ser objeto de maior reflexão entre nós. Afinal, programas de incentivo à inovação em um contexto tão avesso a tais riscos e incertezas podem mesmo prosperar? Não representa uma novidade acadêmica o fato de a industrialização brasileira ter se dado pelo modo da substituição das importações, inclusive para setores de intensidade tecnológica média-alta e alta. Como os processos de inovação nesses setores mantiveram-se bem enraizado nos centros de pesquisa e desenvolvimento (P&D) localizados nos países desenvolvidos, não se cumpriu a promessa de “libertar” o Prometeu brasileiro.

Número preocupante divulgado pela Sociedade Brasileira Pró-Inovação Tecnológica (Protec) aponta para um recorrente e crescente histórico no nosso déficit tecnológico, aproximadamente 109 bilhões de dólares em 2012. O cálculo desse déficit tecnológico se dá a partir das somas dos saldos comerciais de bens de média-alta e alta intensidade tecnológica industrial mais o saldo nos serviços tecnológicos. Segue logo abaixo um gráfico sobre a dimensão desse problema. Não creio que a mera elevação da taxa básica de juros reduziria tal déficit; sua elevação poderia até agravá-lo por “baratear” essas mesmas importações, levando-nos adiante a um estrangulamento no balanço de pagamentos.

Por outro lado, algumas avaliações apontam que cada ano adicional de escolaridade gera retornos sociais médios de 10% na renda dos trabalhadores. Não seria então o caso de prestigiarmos realmente a formação educacional qualificada e buscarmos configurar sistemas produtivos eficientes de bens e serviços a uma nova realidade social? Vejamos dois exemplos rapidamente. Não seria bom termos menos automóveis nas ruas diariamente e melhores transportes coletivos? Deveríamos receber serviços públicos proporcionais à carga tributária arrecadada, evitando que paguemos duas vezes por serviços de baixa qualidade?

As ideias invariavelmente estiveram “fora do lugar” no Brasil em diversos momentos históricos. Creio que ainda precisamos refletir melhor sobre essas e outras questões nacionais, mas para tanto precisamos de alguma clareza no campo das ideias, além de lideranças políticas e empresariais esclarecidas e mais comprometidas com o futuro do Brasil.

Rodrigo Medeiros

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