O resultado irônico da indústria de transformação

Segundo divulgou recentemente o IBGE, a produção física da indústria de transformação no Brasil cresceu 3,5% no comparativo entre junho de 2013 e 2012. Entre os primeiros semestres de ambos os anos, houve expansão de 2,5%. Apesar da “recuperação” ter sido positiva, ainda é cedo para se pensar na sustentabilidade desse processo.

A desvalorização cambial do real teve efeito, como alguns previram, porém o irônico detectado na Carta 587 do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) merece destaque: “as faixas de intensidade tecnológica que cresceram em janeiro-junho são as produtoras de bens com déficits comerciais vultosos no primeiro semestre. Na balança dos bens de atividades de alta e média-alta intensidade, porção expressiva deles está sujeita a economias de escala e concorrência baseada em diferenciação de produtos. Assim, as importações nem sempre competem com a produção interna: parte delas complementa a mesma, como por vezes ocorre com os bens de capital”. Para fins de uma política industrial esclarecida no século XXI, tal diagnóstico é fundamental.

Nesse sentido, há muitos desafios institucionais para a gestão pública em nosso país. Segundo o Doing Business para 2013, a nossa tributação sobre o trabalho, 40,8% em relação aos lucros comerciais, é bem superior ao que se pratica na América Latina e Caribe (14,4%) e nos países que compõem a OCDE (23,8%). No total geral da tributação, o Brasil chega aos 69,3% sobre os lucros comerciais, enquanto esse número é menor na América Latina e Caribe (47,2%) e na OCDE (42,7%). O tempo gasto até o pagamento de tributos também destoa no Brasil, 2.600 horas por ano, ao passo que os tempos são 367 e 176 horas por ano respectivamente na América Latina e Caribe e OCDE. Não contamos nos últimos anos no Brasil com a melhoria substancial da qualidade da infraestrutura econômica para contrabalançar esses números adversos.

Portanto, não nos deveria causar maior espanto no presente que a substituição de importação permaneça como a tendência de um ciclo de desvalorização cambial da moeda brasileira com alguma recuperação industrial, completando-se a diversificação das demandas de consumo e investimento a partir do crescimento das importações. Reformas institucionais são necessárias se desejarmos o desenvolvimento socioeconômico.

Governos inteligentes e eficientes fazem uma grande diferença no jogo econômico global (cf. Michael Porter, ‘Competição’. Elsevier, 2009). Se o Brasil desejar efetivamente subir os degraus do desenvolvimento socioeconômico no futuro próximo, ele também precisará de uma melhor estratégia de inserção externa, comercial e diplomática. Nesse sentido, algumas escolhas excludentes precisarão ser feitas no campo da produção, sendo que a coordenação das expectativas dos agentes e a divisão do trabalho entre Estado e mercado demandarão estadistas, não apenas competência gerencial.     

Paulo Hartung é economista e ex-governador do Espírito Santo

Rodrigo Medeiros é professor do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes)

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