TRAGÉDIA EM BRUMADINHO

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Um mês de agonia: esposa de desaparecido em Brumadinho continua sem notícias do marido

"Faço uso de remédios controlados para conseguir viver", conta Rosemar Pinheiro, que afirma também dificuldades com a vida financeira

Raissa Bravim

Redação Folha Vitória
Foto: Reprodução/Rede Social

Há exatamente um mês, o rompimento da barragem de rejeitos da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, Minas Gerais, levou mais de 160 vidas e a esperança de Rosemar Pinheiro, esposa do mecânico capixaba Uberlândio Antônio da Silva, de 57 anos, que ainda consta como desaparecido na tragédia.

Rosemar conta que não recebe informações sobre o marido desde o rompimento da barragem, mas não acredita que ele esteja vivo. "Se ele estivesse vivo, já teria se encontrado comigo há muito tempo", disse. 

A mulher afirma que recebe ajuda psicológica por parte da Vale. No último mês, Rosemar passou todos os dias atualizando a lista de vítimas da tragédia, na tentativa de informações sobre o paradeiro de Uberlândio. 

Além da angústia, Rosemar relata que está passando por problemas financeiros, pois o marido era a pessoa que trabalhava e pagava as contas da casa. "Eu recebo ajuda do ex-patrão dele, mas a Vale mesmo, não me mandou nada até agora, além da psicóloga. Eu preciso pagar as contas. Vai demorar muito até sair o atestado de óbito dele e as contas já estão chegando", conta.

Além da dificuldade financeira, a falta de informações e a tristeza pela certeza da perda do marido trouxeram problemas emocionais para Rosemar. "Não estou dormindo. Faço uso de remédios controlados para conseguir viver", disse Rosemar, emocionada. 

Questionada pela reportagem sobre o caso do marido de Rosemar, a Vale não deu retorno até o fechamento desta matéria. Por meio de nota, a assessoria de imprensa da empresa, que é responsável pela barragem que rompeu, disse que os familiares de desaparecidos podem solicitar informações por meio do canal de atendimento, no telefone 0800 031 0831.

Incertezas

Pela estimativa do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, os trabalhos deverão se estender por três a quatro meses após o rompimento.

Os rejeitos atingiram o Rio Paraopeba, e o governo de Minas proibiu o consumo da água, devido ao risco de contaminação. Não há estimativa de suspensão da medida.

Governo

O presidente Jair Bolsonaro determinou uma ação rápida após a tragédia. Ele sobrevoou a área que se transformou em um mar de lama e orientou uma força-tarefa a atuar na busca por soluções. Pelo Twitter, ele lamentou o rompimento da barragem.

“Nossa maior preocupação neste momento é atender eventuais vítimas desta grave tragédia”, disse Bolsonaro na época.

No último dia 18, foi publicada resolução no Diário Oficial da União por recomendação da Agência Nacional de Mineração (ANM). O Ministério de Minas e Energia definiu uma série de medidas de precaução de acidentes nas cerca de mil barragens existentes no país, começando neste ano e prosseguindo até 2021. A medida prevê a extinção ou descaracterização das barragens chamadas "a montante", exatamente como a que se rompeu em Brumadinho, até 15 de agosto de 2021.

Salários

Há três dias, a Vale informou ao Ministério Público do Trabalho (MPT) que vai manter o pagamento de dois terços dos salários de todos os empregados próprios e terceirizados que morreram na tragédia. Segundo a empresa, o pagamento será mantido por um ano ou até que seja fechado um acordo definitivo de indenização.

A empresa também se comprometeu a só transferir empregados após prévia consulta e concordância do trabalhador, além de consulta ao sindicato. Para a transferência, será priorizado o local de origem do empregado.

Anteriormente, a Vale se comprometeu a garantir emprego ou salário para os empregados de Brumadinho, inclusive os terceirizados, até 31/12/2019. Também prometeu pagar as despesas com funeral e verbas rescisórias das vítimas fatais, conforme certidão emitida pelo INSS.

A Vale informou que dará atendimento psicológico e fará pagamentos de auxílio-creche e de auxílio-educação, além de danos morais para cônjuges ou companheiras, filhos, pais e irmãos das vítimas. De acordo com a mineradora, os  familiares podem solicitar informações por meio do canal de atendimento (0800 031 0831).



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