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'Estou desistindo da humanidade', diz irmã de Marielle sobre boatos

Desde a morte, a memória de vereadora vem sendo atacada com notícias falsas que a vinculam ao crime organizado. Nada disso, no entanto, é verdade

Anielle Silva com irmã, a vereadora Marielle Franco, morta na última quarta (14) no Rio de Janeiro.

“Estou desistindo da humanidade.” A frase, franca, é de Anielle Silva, 33 anos, irmã da vereadora Marielle Franco (Psol-RJ), assassinada no dia 14 com o motorista Anderson Pedro Gomes no bairro do Estácio, no Rio de Janeiro.

Desde a morte, a memória de Marielle vem sendo atacada com notícias falsas que a vinculam ao crime organizado. Seu partido montou uma equipe jurídica voluntária para coletar boatos e processar quem propagar as informações falsas.

Uma dessas notícias falsas afirmava que a vereadora teria sido eleita com o apoio de uma facção criminosa. Revoltada, Anielle nega a relação.

“A gente ralou muito para fazer a campanha da Marielle. Com meu salário de professora, parcelei várias vezes adesivos para fazer o corpo a corpo nas ruas”, diz Anielle, professora de inglês e literatura.

“Tudo é muito triste. As pessoas se aproveitam de um momento de muita dor para difamá-la.”

Anielle Silva, irmã de Marielle

Assim como essa, diversas outras notícias falsas foram divulgadas após a morte da vereadora e do motorista. “Tudo é muito triste. As pessoas se aproveitam de um momento de muita dor para difamá-la.”

Segundo ela, muitas pessoas criticam a irmã afirmando que ela “defendia bandidos, sem sequer saber o que são direitos humanos”.

Por meio dos trabalhos na Comissão de Direitos Humanos na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, Marielle oferecia apoio às famílias de policiais militares e civis.

Anielle afirma que levou a irmã em um ato de protesto contra a morte de policiais em Copacabana. “O que falta às pessoas é a informação.”

Perfis diferentes

Apesar da união e da proximidade, Anielle e Marielle tinham personalidades distintas. “Sou mais quieta que ela. Ao longo da vida me aproximei mais da causa das mulheres, em geral”, diz Anielle. “Não sou da política, gosto de trabalhar com adolescentes. Por isso prefiro ficar mais recolhida no meu canto.”

Após a morte da vereadora, surgiram informações de que sua irmã seria lançada como candidata a deputada estadual. Anielle nega essa possibilidade. “Não está nos meus planos. Em nenhum momento disse isso a ninguém”, afirma. “Nunca pensei nisso. Essa sensibilidade que minha irmã tinha, esse jogo de cintura, não é a minha praia.”

Segundo Anielle, a família não sabia das proporções que a morte de Marielle gerariam. “Estamos de luto, mas ao mesmo tempo acompanhando a grande repercussão e as homenagens. Ontem ela foi homenageada no show da cantora Kate Perry. Foi de grande sensibilidade.”

Anielle afirmou que a irmã não sofria ameaças nem contava com esquema de segurança por nunca ter necessitado.

“Se ela tivesse passado por isso, com certeza eu seria a primeira pessoa a saber”, diz. “Éramos bem próximas, ela me dava muitos conselhos, dávamos aulas para os jovens da Maré juntos”, afirma.

“Queria que tudo se resolvesse hoje”, afirmou sobre as investigações. “Se ela estivesse viva e visse a proporção que as causas que ela defendia tomaram, ficaria muito feliz. Mas Marielle é uma semente que vai germinar.”


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