TRADIÇÃO E SABOR - ESPECIAL TORTA CAPIXABA

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Tradição e Sabor: Torta Capixaba é feita a várias mãos

Conheça o ofício da catadora de sururu que começou a atividade aos 11 anos e conheça um pouco mais sobre o marisco que é ingrediente essencial na receita

Emerson Gomes Ferreira

Redação Folha Vitória

Um trabalho fundamental para a produção da Torta Capixaba é, sem dúvidas, o do catador de sururu, um dos mariscos que compõem a receita tradicional da Torta.

A Torta Capixaba é um prato que, ao longo do tempo, sofreu algumas mudanças e adaptações. Desde a chegada dos navegadores portugueses na costa capixaba, a culinária local acabou incorporando outros ingredientes com as variedades de mariscos aqui já encontradas e utilizadas pelos índios. O sururu é ingrediente utilizado desde as primeiras receitas.

Guilherme Manhãs é historiador e afirma que a tradição marisqueira do Espírito Santo remonta aos povos dos sambaquis. "Esses povos viveram aqui no nosso litoral entre 6 e 3 mil anos atrás. Eles, nossos acentrais, já consumiam os mariscos em abundância".

O sururu tem o nome científico de Mytella charruana. Ele é um molusco que aparece em quase toda a costa brasileira. Na Ilha das Caieiras e em outros pontos de Vitória, a cata do molusco chega a ser feita por famílias inteiras.

As redes são lançadas diariamente

Foto: Emerson Ferreira
Pescador lança as redes na Ilha das Caieiras. Cena comum no local

É antes do sol sair que o pescador Haroldo Ferreira vai em busca do sururu. O barco volta cheio. "Vamos por volta de cinco da manhã e retornamos  quase as 11 horas da manhã".

De lá, o produto segue para casa, onde o trabalho continua. Ele consegue tirar do mangue e limpar, por dia, mais de 10 quilos do marisco. 

Haroldo conta que há décadas ele e a esposa, que também trabalha com a pesca e limpeza dos mariscos, sobrevivem desse alimento fornecido pelo mar. "Sou muito feliz em poder sustentar a minha família com esse trabalho. Minha esposa é parte fundamental nisso tudo", comenta.

"Cada dia que boto o pé na maré eu peço permissão a Deus por estar indo e voltando para tirar o produto que eu quero".

Para muitos moradores da Ilha das Caieiras, o local é tido como uma "mãe". Eles são intimamente ligados à Ilha, a veneram, respeitam e dependem dela para buscar o sustento para os filhos. Famílias inteiras vivem da cata, ofício que geralmente é aprendido desde cedo.

São muitas Marias na Ilha das Caieiras

É o caso da pescadora Maria Teresa do Nascimento de Andrade. Ela tem 51 anos, dos quais 40 são dedicados à cata do sururu. Maria Teresa aprendeu o ofício com pai. Segundo ela, ele era vigia de uma escola municipal em Vitória e sempre que tinha um tempo livre ia pescar e a levava. Foi assim que a pescadora conheceu os pontos de pesca e outros segredos que os pescadores não revelam a qualquer um. 

"Vou sozinha, né. Eu e Deus. Volto com o barco cheio de sururu".

A pescadora conta que faz todo trabalho manualmente, inclusive a movimentação do barco. "Vou remando até as áreas de pesca, mas agora o que estou pretendendo e precisando é comprar um motor para o barco, porque a distância é muito grande".

Foto: Emerson Ferreira
Pescadora Maria Teresa exibe parte do sururu que conseguiu pegar em um dia de serviço

A história de Maria Teresa se confunde com outras dezenas de 'Marias' pescadoras, desfiadeiras e cozinheiras que moram na Ilha das Caieiras e têm nessas atividades, algo que lhes oferece uma ocupação, independência financeira e também proporciona momentos de alegria. "Eu gosto do que faço. Além de pescar, aprendi a desfiar o siri. Essa atividade quem me ensinou foi a minha avó, a Dona Marocas, que foi uma lenda aqui na Ilha", conta a pescadora com um sorriso no rosto e a roupa molhada de quem acaba de atracar o barco.

Segundo o INCAPER - Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural é muito importante o papel que as mulheres desempenham na atividade da cata do sururu, principalmente, nas etapas de beneficiamento do produto.

As condições de salinidade da água e as pedras litorâneas fornecem um ambiente para a fixação e reprodução do sururu no nosso litoral.

Pescadora fala sobre a vida e a atividade que exerce há 40 anos


Sururu também é arte

Artesãos do nosso litoral dão vida nova a partes do sururu que antes iam para o lixo. Os catadores e suas famílias estão reaproveitando as cascas do marisco para confecção de artesanatos, como objetos de decoração e utilitários, esculturas, porta-retratos, quadros e até bijuterias já são produzidos com a parte que envolve e protege o animal marinho.

Foto: divulgação PMVV
Artesanato produzido a partir das conchas do sururu

Tudo é inspirado no mar e na natureza que é generosa com o Espírito Santo. 

Com o apoio do Sebrae essa produção de artesanato local já foi exposta em feiras fora do estado. 

Festival da Torta Capixaba

O 15º Festival da Torta Capixaba promete levar milhares de pessoas para a Ilha das Caieiras entre os dias 18 e 21 de abril, período da Semana Santa.

O evento, que acontecerá das 9 às 18 horas, contará com a participação de 31 expositores, além dos restaurantes da região, que vão oferecer aos visitantes esse importante prato típico da culinária do Espírito Santo. O Festival é acompanhado de boa música, com atrações ao vivo que vão do forró ao samba e chorinho.

Foto: divulgação PMV
Barraquinhas servem a torta capixaba e outros pratos feitos com peixes e mariscos

O evento é realizado na rua Felicidade Correa dos Santos, na Ilha das Caieiras, em Vitória. A entrada é franca.

Programa especial na TV Vitória

A TV Vitória preparou um programa especial sobre a Torta Capixaba.  A equipe da TV passou vários dias percorrendo a Ilha das Caieiras conversando com moradores e personagens tradicionais para contar a história desse prato que virou um símbolo do povo capixaba.

Foto: Divulgação/ TV Vitória
Jornalista Michel Bermudes conversa com a chef Cíntia Paixão sobre curiosidades da Torta

O programa Tradição e Sabor- Especial Torta Capixaba vai ao ar domingo (14), às 10 horas da manhã, na TV Vitória/Record TV, canal 6.1.


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