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Risco de barragem romper cria 'vila fantasma' em Barão de Cocais

Atualmente, duas guaritas com vigias funcionam 24h nos dois pontos de acesso ao local. Quem passa pelo trecho entre esses dois pontos é vigiado e abordado caso pare no meio do caminho

Foto: Márcio Neves/R7

O distrito de Socorro, na cidade mineira de Barão de Cocais se transformou em uma vila fantasma após cerca de 250 moradores serem retirados de suas casas no ínicio de fevereiro pelo risco iminente de rompimento de outra barragem de rejeitos de uma mina da Vale.

A vila fica 500 metros abaixo da barragem Sul Superior da Mina de Gongo Soco, que foi construída usando a mesma técnica da barragem que colapsou e deixou centenas de mortos na também cidade mineira de Brumadinho, e está em nível de alerta máximo sob risco de romper a qualquer momento.

A comunidade do Socorro seria um dos primeiros locais afetados pelos rejeitos de minério caso a barragem se rompa. Todo o distrito foi interditado pela Defesa Civil a pedido da Vale e ninguém pode acessar a área sem autorização. Nem mesmo os moradores, que lamentam ver seus pertences e imóveis abandonados podem acessar o local.

O pedreiro Paulo Matias, por exemplo, morava na vila havia 15 anos. Hoje ele mora em um imóvel alugado pela Vale e não pode entrar em sua casa para buscar eletrodoméstico ou roupas.

"Eu queria poder voltar lá para pegar algumas coisas, mas não deixam. É muito triste ser tirado da sua casa do nada assim', diz Matias.

Quem tentou voltar ao local para buscar itens ou simplesmente ver se tudo estava no lugar, corre risco de ser preso.

Foi o que aconteceu com o aposentado Francisco Xavier, detido após ter ido até sua chácara que está na área isolada.

"Meu jardim, que eu e minha esposa cuidávamos com muito zelo, minha criação de peixes e a piscina que minhas netas adoravam estão lá abandonadas. Ainda por cima descobri que saquearam minha casa", lamenta Xavier, que hoje vive com os filhos em uma casa no centro de Barão de Cocais.

Após ser levado para a delegacia, Xavier foi interrogado por ter ido verificar se sua propriedade estava segura, e desde então passou a cobrar da Vale mais segurança com os imóveis do distrito.

Atualmente, duas guaritas com vigias funcionam 24h nos dois pontos de acesso ao local. Quem passa pelo trecho entre esses dois pontos é vigiado e abordado caso pare no meio do caminho — inclusive a reportagem do R7 foi abordada enquanto fazia as fotos desta matéria.

Desde 8 de fevereiro, a barragem Sul Superior da Mina de Gongo Soco está em alerta máximo para o risco de rompimento.

Nas últimas semanas, desde que a Vale identificou uma movimentação de taludes — paredes de terra em torno de um local escavado — na área da mina de Congo Soco, a preocupação com a barragem aumentou.

Segundo a empresa, caso um destes taludes desmorone, existe risco que o impacto provoque uma desestabilização na barragem Sul Superior e cause seu rompimento.

De lá para cá, a empresa removeu moradores de áreas diretamente afetadas por um eventual rompimento, e intensificou simulações de evacuação em áreas da cidade onde existe um tempo de fuga caso o incidente aconteça.

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