CORONAVÍRUS

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Afastamento de profissionais de saúde infectados pelo coronavírus gera sobrecarga no atendimento

Segundo o Painel Covid-19, 1.083 trabalhadores da área já foram contaminados no ES, o que representa cerca de um terço do total de casos confirmados

Foto: Pixabay

O número de profissionais da saúde no Espírito Santo que foram contaminados com o novo coronavírus chegou a 1.083, segundo a atualização mais recente do Painel Covid-19, da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa). Um desses profissionais morreu e 376 já foram curados.

A quantidade de profissionais de saúde infectados corresponde a aproximadamente um terço do total de pessoas que testaram positivo para o coronavírus no Espírito Santo. De acordo com o Sindicato dos Servidores da Saúde do Espírito Santo (Sindsaúde-ES), o afastamento desses profissionais tem gerado sobrecarga de trabalho para quem permanece no atendimento à população.

"As pessoas estão adoecendo por conta disso também. Você não tem mais condições de fazer seu trabalho e ter aquele repouso necessário para você se recompor. As pessoas estão fazendo um plantão atrás do outro, em situações de estresse muito grande, e isso realmente está influenciando muito na saúde dos nossos trabalhadores", afirmou a assistente social e diretora de comunicação do Sindsaúde, Maria Rita de Boni.

Para desafogar a rede pública, a Sesa deve contratar profissionais que tiveram a formatura antecipada autorizada pelo governo federal. Ao todo, 35 alunos finalistas de medicina da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) já colaram grau.

"Inicialmente a gente pode lançar mão desses profissionais, através da nossa contratação, que está sempre aberta, para fazer substituição dos profissionais que, por ventura, venham a adoecer. Também a ampliação da oferta dos serviços de saúde, em função da pandemia. Obviamente que, como são profissionais que estão saindo da academia neste momento, eles atuarão em espaços não tão na linha de frente para o coronavírus, mas para o atendimento daquelas outras demandas que ficam, neste momento, mais reservadas, ficam com mais dificuldade de acesso, porque a equipe está toda voltada para o atendimento ao corona", ressaltou o subsecretário de Vigilância em Saúde da Sesa, Luiz Carlos Reblin.

Para a diretoria do Sindsaúde-ES, as contratações de profissionais recém-formados, durante a pandemia, não seria necessária se o quadro da rede pública de saúde estivesse completo.

"Se a gente tivesse um quadro de profissionais mais efetivo, talvez não precisaria ser tanto assim. O Espírito Santo tem um número de profissionais bom, poderíamos ter mais, mas talvez se o Estado tivesse o seu quadro efetivo realmente, não precisaria estar nessa loucura toda", frisou.

Entre os mais de mil profissionais da saúde capixabas que foram infectados pelo novo coronavírus está o técnico de enfermagem Fábio Samora da Vitória, que já se recuperou da doença. Ele conta que voltou à rotina depois de duas semanas difíceis de isolamento em casa, no bairro Oriente, em Cariacica.

"De início, eu fiquei com muito medo, porque minha mãe é idosa, meu pai também. Sou uma pessoa muito família e meu medo era de contaminar eles ou já ter contaminado. Como minhas coisas foram todas separadas, talheres, roupa de banho, eu consegui vencer o covid sem contaminar ninguém", comemorou.

Segundo o técnico em enfermagem, os sintomas surgiram no último dia 13. Fábio fez exames e o resultado foi positivo para covid-19. Ele acredita que tenha contraído a doença no trabalho ou no trajeto feito de ônibus até o Hospital Infantil de Vitória, uma das unidades de referência no tratamento de infectados no estado e onde o técnico trabalha há seis anos.

"Eu apresentei tipo uma crise de sinusite, onde eu fiquei um pouco sem sentir cheiro, minha garganta ficou infeccionada. O médico entrou com antibiótico e, graças a Deus, melhorou. No sétimo dia já estava melhor. E tive dor no corpo e fiquei febril", contou.

Fábio disse ainda que a preocupação de transmitir o coronavírus para familiares foi um dos motivos que fez com que ele passasse a receber acompanhamento psicológico.

"A nossa imunidade parece que fica abalada quando a gente está triste. Mas recebi ligações, mensagens. Isso aí contribuiu muito, porque às vezes a pessoa se afasta de você".

Hotéis

O Governo do Estado estuda também a possibilidade de ofertar vagas em hotéis contratados. Elas seriam, a princípio, para profissionais que atuam nos hospitais de referência para covid-19 na Grande Vitória.

"Visando uma proteção maior dos profissionais e também das suas famílias, está sendo disponibilizada a possibilidade, para aquele profissional que queira permanecer em acomodação contratada pelo governo do Estado, que são hotéis aqui da região, que em vez de sair do seu trabalho e ir à sua residência, ele possa se dirigir ao hotel", destacou Reblin.

Entretanto, para o sindicato, essa medida já deveria ter sido adotada ainda no início da disseminação do novo coronavírus no Espírito Santo, e não durante o período considerado de pico e após a contaminação de mais de mil profissionais.

"Precisa do adoecimento das pessoas para que as ações sejam feitas? Precisa primeiro você perceber que errou para consertar? Aí vem isso que está acontecendo agora. Então eu acho que demorou demais. Como demorou demais as pessoas entenderem que tem que ficar em casa", ressaltou Maria Rita.

Com informações da repórter Fernanda Batista, da TV Vitória/Record TV 

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