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VÍDEO | Engenheiro questionou segurança do equipamento antes de descer em tirolesa no Morro do Moreno

João Paulo Sampaio dos Reis, de 47 anos, registrou a descida da filha e da amiga dela. O instrutor que acompanhava o grupo disse que risco era 'impossível'

Um vídeo gravado minutos antes do acidente que matou o engenheiro João Paulo Sampaio dos Reis, de 47 anos, mostra os últimos momentos da vítima. As imagens, registradas por ele, mostram a descida das duas jovens que o acompanhavam no passeio, a filha e uma amiga.

Durante a gravação, enquanto uma das meninas se preparava para descer, João Paulo questiona se haveria risco da tirolesa 'ir direto' e recebe o instrutor diz que isso é "impossível", explicando o funcionamento do sistema. "Aqui quem freia sou eu. No outro tem (sistema de freio). Está tranquilo", afirmou.

Foto: Reprodução/Facebook

O engenheiro morreu no sábado (1º) após um acidente ocorrido na tirolesa no Morro do Moreno, em Vila Velha. O equipamento não freou e ele se chocou contra uma estrutura de madeira.

Reis decidiu passar o feriado do Dia do Trabalho junto com a filha de 14 anos e uma amiga dela. Testemunhas disseram para o Corpo de Bombeiros que as duas adolescentes desceram a tirolesa antes do engenheiro e que, só mais tarde, souberam o que havia acontecido.

A vítima era engenheiro, mas trabalhava como despachante junto a Polícia Federal e ao Exército. Ele era casado e deixa dois filhos: além da adolescente de 14 anos, um menino de 8.

Durante o domingo (2), uma equipe do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Espírito Santo (Crea) esteve no Morro no Moreno para uma vistoria no local.

Bombeiro investigado e cena do acidente alterada

Um cabo do Corpo de Bombeiros será investigado pela corporação, de acordo com nota enviada pelo Corpo de Bombeiros Militar do Espírito Santo (CBMES) na noite deste domingo. Ele é sócio da empresa Eco Vertical, responsável pela tirolesa no Morro do Moreno. 

A TV Vitória/Record TV, apurou que o local do acidente foi alterado pelos responsáveis, que retiraram os equipamentos do corpo da vítima antes da chegada da polícia. A informação foi obtida junto aos bombeiros. Além disso, o capacete utilizado por Reis também não foi encontrado. Segundo policiais militares, o cabo se negou a apresentar o equipamento que havia retirado. Eles prestaram depoimento no Departamento de Polícia Judiciária de Vila Velha e foram liberados.

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O Corpo de Bombeiros, por meio de nota, esclareceu que o militar sócio do empreendimento não estava a serviço no momento do acidente e sua conduta será apurada no inquérito policial a ser instaurado pela Polícia Civil, responsável pela apuração das causas do acidente. "Caso a apuração dos fatos venha a indicar descumprimento das normas de conduta dos Bombeiros Militares, as providências cabíveis serão adotadas", conclui.

A Polícia Civil disse que o caso segue sob investigação e estará aguardando o resultado da perícia feita no equipamento. Não irá repassar mais detalhes para preservar a apuração do incidente. 

O cabo do Corpo de Bombeiros também foi procurado pela reportagem do jornal Folha Vitória, mas não retornou o contato.

Família acredita em negligência

O aposentado João Reis, 77 anos, pai do engenheiro João Paulo, acusa a empresa responsável pelo equipamento de negligência em matéria de segurança preventiva. Ele viu a morte do filho num vídeo que recebeu em rede social.

"Nesse vídeo, eu pude ver a gravidade e a falta de segurança no local. Ele gostava de praticar esportes. Ele nunca iria andar num equipamento que não tivesse segurança. Alguém deve ter dito que isso era seguro e ele foi. E não era seguro", aponta. Ele deu essa declaração para a TV Vitória ao liberar o corpo do filho no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), em Vitória, na manhã deste domingo.

Para Reis, houve um erro operacional por parte da empresa. "Foi um erro grosseiro da firma que se propõe a fazer uma demonstração de exercício. Uma tirolesa é uma demonstração de exercício. A empresa deve dar todo o apoio em matéria de segurança e prever tudo o que possa ocorrer. Essa é a função dela", frisou.

Bastante emocionado, o aposentado diz que esteve presente no nascimento de João Paulo e que agora viu sua morte por meio de um vídeo. Testemunhou o início e o fim do ciclo da vida do filho. "Para quem o viu nascer e o viu morrer através de um vídeo, não precisa falar mais nada", lamentou.

Ele acredita que a empresa já está elaborando uma narrativa diferente para eximir de alguma responsabilidade. "Eles já estão preparando a própria defesa. Inclusive, disseram que estavam entrando em contato com a família para dar todo o apoio. Até o presente momento, ou seja, 9h35 da manhã do dia 2, ninguém entrou em contato conosco", informou.

O vídeo, citado por Reis, não foi divulgado. "Ele era tudo isso: filho digno, estudioso, cumpridor de seus deveres. Infelizmente, eu o vi nascer no parto e o vi morrer no choque dele despencando plataforma abaixo", descreveu.

Tirolesa

A tirolesa foi inaugurada em dezembro de 2019. De acordo com o site oficial da Eco, a estrutura liga o topo do Morro do Moreno, onde ficam as antenas, até a Pedra da Testa – que fica na parte mais baixa do morro – por meio de um cabo de aço com um freio automático. O topo tem uma altura de 173 metros acima do nível do mar e o ponto de chegada tem 95 metros. A descida percorre um percurso de 500 metros. A velocidade da descida chega a 35 km/h.

Segundo a Prefeitura de Vila Velha, a empresa possuía licença ambiental para funcionamento. 

Nas redes sociais da empresa a informação é de que a tirolesa possui 100 metros de comprimento, e conta com o sistema de freios ABS (sistema que independe da ação humana e que oferece maior segurança). No local, pessoas que conhecem o equipamento informaram que o trajeto onde o engenheiro morreu não conta com o freio ABS e é controlado por um técnico.

Um dos responsáveis pela empresa disse que estão aguardando o resultado da perícia e que todos estão muito abalados com o ocorrido.

"Estamos aguardando o resultado da perícia pra relatar o ocorrido. Nesse momento estamos muito abalados com o que ocorreu, apesar de todos os procedimentos de segurança serem insistentemente treinados, ocorreu essa fatalidade. No momento estamos tentando contato com os familiares do rapaz para prestar nosso apoio, mas anda sem sucesso, vamos continuar tentando. Em breve falaremos abertamente com a imprensa."

A empresa se manifestou por meio de redes sociais e disse aguardar a perícia que apontará a causa do acidente para se pronunciar.


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