CORONAVÍRUS

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Médica capixaba da Fiocruz afirma que covid-19 'rejuvenesceu' no Brasil e avança cada vez mais em regiões pobres

Em entrevista ao Folha Vitória a pneumologista Margareth Dalcolmo também falou sobre a esperança de uma vacina e sobre as pesquisas que estão em curso para o tratamento da doença

Mariana Cicilioti , Iures Wagmaker

Redação Folha Vitória
Foto: Divulgação

Após completar 100 dias desde o primeiro diagnóstico confirmado de coronavírus no Brasil, registrado no dia 25 de fevereiro, o País já contabiliza até esta sexta-feira (5) 34.021 mortes e 614.941 casos confirmados da doença em todo território nacional, segundo o Ministério da Saúde.

No Espírito Santo, até a última atualização do Painel Covid-19, o número de mortes em decorrência da doença é de 737 e o de casos confirmados passa de 16 mil.

Com o avanço cada vez mais rápido da doença, especialistas demonstram preocupação com relação ao comportamento do vírus no País. Em entrevista ao Folha Vitória, a  pneumologista e pesquisadora capixaba da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Margareth Dalcolmo, disse que a teoria de que a pandemia iria se rejuvenescer no Brasil foi comprovada. 

"Essa afirmação que eu fiz em entrevistas anteriores, se tornou verdadeira. Era relativamente previsível. Não era nenhuma premonição, obviamente, mas está relacionada a composição da pirâmide populacional brasileira, que não tem uma população de idosos como têm os países europeus, onde a epidemia foi muito grave, com um número de mortes em pacientes idosos muito alto", analisou a médica.

Segundo a análise da especialista, a doença tem avançado em pacientes mais novos e atinge, principalmente, a parcela mais pobre da população.

"Embora a mortalidade continue sendo maior nas pessoas mais velhas, a morbidade da doença, ou seja, a taxa de adoecimento, é de pessoas bem mais jovens, que estão concentradas, em grande proporção, nas áreas menos favorecidas das cidades, nas comunidades e bairros mais pobres", completou.

Vacina

Apesar dos números altos e preocupantes, Margareth Dalcolmo, que atua como membro da Organização Mundial da Saúde (OMS) e é uma das especialistas do Brasil que está discutindo as medidas clínicas e os possíveis tratamentos para a covid-19, afirmou que as pesquisas em curso estão mostrando bons resultados.

"Há esperança que nós possamos ter uma vacina. Recentemente foi aprovada a vacina da Universidade de Oxford, junto com o laboratório AstraZeneca. E o Brasil, em uma negociação, que ao meu juízo foi correta, iniciará os testes também da fase três da vacina de Oxford. Nós vamos começar isso agora, coordenados pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Isso é uma esperança, sem dúvida. Há também outras vacinas em estudo no mundo. A segunda vacina mais promissora é a do NIH (Institutos Nacionais de Saúde - siga em inglês) que já começou teste em humanos, nos Estados Unidos", disse a médica.

"No momento em que a vacina se mostrar segura, nós entramos na segunda etapa do processo, que é a questão do acesso, que envolve negociação, preço e o acesso para todo mundo", completou.

Foto: Dado Ruvic

Novos estudos

Ainda segundo a especialista, a utilização de novos medicamentos e pesquisas com o sangue de pacientes que já tiveram o coronavírus podem trazer uma esperança para o tratamento da doença.

"Os estudos com transferências de plasma de pacientes curados ou convalescentes da covid-19, tem mostrado resultados promissores para casos graves, internados em terapia intensiva. A utilização de alguns anti-inflamatórios também, em associação com outros medicamentos, estão sendo testados para os casos mais graves, mas são estudos que nós temos que esperar ainda os resultados", afirmou.

Cloroquina

A médica que acabou sendo infectada pelo coronavírus recentemente e ainda se recupera dos efeitos da doença garantiu que a discussão a respeito do uso da cloroquina em pacientes de covid-19 é ultrapassada. Ela afirmou que não fez uso do medicamento e não recomenda sua utilização para o tratamento de pacientes com o novo vírus.

"A cloroquina e a hidroxicloroquina, são fármacos que até o momento não demonstraram nenhuma eficácia para covid-19. Para casos graves já foi praticamente abandonada no mundo todo e a utilização como preventiva resultou em resultados negativos. Para casos moderados não temos resultados que ela revele algum efeito", alertou.

"No início da pandemia, diante de um vírus novo,  o qual a gente não sabia nada, ela foi até um certo momento o que eu chamaria de um 'fármaco da esperança", hoje ela não é mais nada disso. Jamais prescrevi, não usei, jamais prescreveria e conclamo que as pessoas não utilizem. Que deixem para as indicações para as quais elas tem comprovadamente ação, ou seja, para as doenças autoimunes artrite, reumatoide e lúpus, por exemplo", completou a médica.













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