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Governo do ES diz que não distribuiu vacinas vencidas

Levantamento feito pela Folha de São Paulo aponta que 159 doses fora da validade foram utilizadas em Vitória, Serra, Cariacica, Vila Velha, Guarapari, São Mateus, Linhares e Cachoeiro de Itapemirim

A Secretaria da Saúde do Espírito Santo informou que nenhuma vacina contra a covid-19 vencida foi distribuída aos municípios capixabas. Segundo informações do jornal Folha de São Paulo, as cidades de Vitória, Serra, Cariacica, Vila Velha, Guarapari, São Mateus, Linhares e Cachoeiro de Itapemirim foram algumas das cidades brasileiras a aplicarem doses vencidas da Astrazeneca. 

Segundo a Sesa, todas as vacinas enviadas pelo Ministério da Saúde que chegam ao Espírito Santo passam por rigorosa conferência e são inseridas no sistema estadual de informação, que faz o monitoramento com relação à validade e distribuição aos municípios.

"A logística de distribuição e a agilidade com que os lotes chegam ao destino tem sido um diferencial na estratégia estadual de vacinação", afirmou a secretaria, em nota.

A Sesa destacou ainda que erros no registro da vacina por parte do vacinador/digitador podem ocorrer, por ser manual e utilizado em uma fase de grande demanda por vacinação no estado. Ainda segundo a secretaria, diante das inconsistências apresentadas pelo Portal do Ministério da Saúde, podem ocorrer preenchimentos de datas equivocadas do imunizante.

"Nós temos certeza que o problema está no sistema do Ministério da Saúde, que é um sistema que tem muita inconsistência. Quando o vacinador vai registrar o lote, esse lote sai com registro equivocado, de um lote anterior, e alguém que vai fazer a análise dessa informação encontra lá uma inconsistência", destacou o subsecretário de Vigilância em Saúde do Estado, Luiz Carlos Reblin.

"Moradores do Espírito Santo, fiquem tranquilos: a vacina aplicada em vocês é uma vacina segura, dentro do prazo, e dá a resposta que nós precisamos contra a covid", completou Reblin.

A Sesa informou também que está solicitando aos municípios que façam nova conferência das doses apontadas como vencidas para orientar as medidas que serão estabelecidas a partir do resultado dessa análise.

Entenda o caso

Segundo o levantamento feito pela Folha de São Paulo, pelo menos 26 mil doses vencidas da Astrazeneca foram aplicadas em 1.532 municípios no país, entre eles, em cidades do Espírito Santo. Para chegar a essa informação, o jornal fez um cruzamento de registros oficiais do Ministério da Saúde.

Segundo a publicação, até o dia 19 de junho os imunizantes com prazo de validade expirado foram utilizados em postos de saúde, hospitais e redes de armazenamento de vacinas.

Vitória, Serra, Cariacica, Vila Velha, Guarapari, São Mateus, Linhares e Cachoeiro de Itapemirim constam na relação do levantamento, totalizando 159 doses vencidas aplicadas.

Quem lidera o número de vacinas vencidas é a Serra com 78 doses. Elas foram aplicadas no Vit´ória Apart Hospital (74 doses) e nas unidades de saúde de Cidade Continental e de Jacaraípe.

Foto: Reprodução / Youtube
Luiz Carlos Reblin negou que Estado tenha recebido doses vencidas de vacinas

As vacinas vencidas fazem parte de oito lotes da Astrazeneca importados ou adquiridos por consórcio. Os lotes do Espírito Santo foram identificados como 4120Z005* (14.abr) e CTMAV505 (31.mai). Entre parênteses está a data de vencimento.

O jornal comparou dados do DataSUS (sistema de informações do Ministério da Saúde), que reúne informações sobre a data de vacinação das pessoas imunizadas e o lote das vacinas, e do Sage (Sala de Apoio à Gestão Estratégica), que registra os comprovantes de entrega dos imunizantes contra covid-19 por Estado. Nos recibos há informações públicas sobre número de lote vacinal, data de validade, fabricante e a data de entrega.

Confira onde as doses vencidas que teriam sido aplicadas e as quantidades:

-Vitória Apart Hospital (Serra): 74 doses
-Rede de frio e armazenamento de vacinas (Cariacica): 39 doses
-Unidade de Saúde (São Mateus): 10 doses
-Central de Imunobiológicos Municipal (Vitória): 5 doses
-Hospital Santa Rita de Cássia (Vitória): 4 doses
-Policlínica Municipal Bolívar de Abreu (Cachoeiro de Itapemirim): 4 doses
-Centro Municipal de Saúde Arlinda Maria Junqueira Vionel (Guarapari): 4 doses
-Unidade de Saúde da Família Barra do Jucu (Vila Velha): 3 doses
-Unidade de Saúde da Família Cidade Continental (Serra): 3 doses
-Hospital Santa Casa de Vitória (Vitória): 2 doses
-Unidade Básica de Saúde de Jaburuna (Vila Velha): 2 doses
-Unidade Básica de Saúde de Coqueiral de Itaparica (Vila Velha): 2 doses
-Unidade de Saúde da Família de Vila Nova (Vila Velha): 1 dose
-Unidade de Saúde da Família de Araçás (Vila Velha): 1 dose
-Unidade de Saúde Shell Catarina Romanha Lorenzutti (Linhares): 1 dose
-Unidade de Saúde da Família Pedro Machado (Guarapari): 1 dose
-Unidade Regional de Saúde de Jacaraípe (Serra): 1 dose
-Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes (Hucam) (Vitória): 1 dose
-Unidade de Saúde da Família Doutor Joel Coelho Ferreira CAIC (Linhares): 1 dose

Ministério da Saúde

Por meio de nota, o Ministério da Saúde informou que nenhuma dose de vacina é entregue aos estados e Distrito Federal vencida. A pasta disse ainda que acompanha rigorosamente todos os prazos de validade das vacinas covid-19 recebidas e distribuídas pela pasta. 

O ministério ressaltou também que, conforme pactuado com Conass e Conasems, as doses entregues para as Centrais Estaduais devem ser imediatamente enviadas aos municípios pelas gestões estaduais. 

"Cabe aos gestores locais do SUS o armazenamento correto, acompanhamento da validade dos frascos e aplicação das doses, seguindo à risca as orientações do Ministério", destacou a pasta, em nota.

O Ministério da Saúde finaliza dizendo que, segundo a orientação do Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a covid-19 (PNO), caso alguma vacina seja administrada após o vencimento, essa dose não deverá ser considerada válida, sendo recomendado um novo ciclo vacinal, respeitando um intervalo de 28 dias entre as doses. O vacinado deverá ser acompanhado pela Secretaria de Saúde local.

O que dizem os municípios e hospitais do ES

Por meio de nota, a secretaria da Saúde da Serra (Sesa) informou que, com relação às três doses aplicadas na ESF de Cidade Continental e à dose aplicada na Unidade Regional de Saúde de Jacaraípe, houve um erro de registro no sistema. Segundo a secretaria, na hora de registrar o lote, o agente da saúde selecionou o número errado.

Antes, o sistema não permitia modificar o lote registrado, mas agora já é possível e a secretaria vai fazer a correção, informou a prefeitura. A administração municipal ressalta ainda que a secretaria da Saúde da Serra tem um controle rigoroso no estoque de doses, verificando a validade das vacinas.

Quanto às 74 doses aplicadas no Vitória Apart Hospital, a secretaria informou que vai investigar o que aconteceu.

A Prefeitura de Guarapari, por meio da Secretaria de Saúde (Semsa), informou que não procede a informação de que o município tenha recebido doses de vacinas vencidas.

Segundo a prefeitura, a cidade recebeu 97 frascos, o equivalente a 970 doses da vacina AstraZeneca, do lote 4120Z005, no dia 25 de janeiro, ou seja, dentro da validade. Eram frascos de dez doses, ou seja, com um frasco, seriam imunizadas dez pessoas.

Ainda de acordo com a prefeitura, esse foi o terceiro lote recebido pelo município, sendo utilizado logo que chegou, bem antes da data de vencimento (14 de abril).

A administração municipal ressaltou ainda que não há perda de vacinas em Guarapari. Sendo assim, não tem como vacinar apenas cinco pessoas com um frasco de dez, pois sobrariam cinco doses. "Não tem como um frasco estar somente a metade dele vencido, logo, tal afirmativa da matéria não procede", afirmou a prefeitura, em nota.

O município informou também que realiza o monitoramento das vacinas diariamente para que não ocorra esse tipo de situação. Disse também que as vacinas são aplicadas rapidamente para não ter grande estoque e não haver perda.

A Secretaria Municipal de Saúde de Vitória (Semus) informou, também em nota, que não há munícipe vacinado com doses vencidas.

De acordo com a prefeitura da capital, a partir da divulgação das informações sobre a aplicação de doses vencidas da vacina da AstraZeneca, a Semus realizou um amplo procedimento de re-conferência de dados no sistema nacional oficial de movimentação de insumos, o Sistema de Insumos Estratégicos em Saúde (SIES), onde ficam registradas as notas fiscais de entrada e saída das vacinas.

Segundo a administração municipal, constatou-se uma última nota de saída, datada do dia 15 de março de 2021 que, segundo a reportagem, seria referente a um lote que supostamente estaria fora do prazo de validade. Porém, de acordo com a prefeitura, se tratava de um lote que poderia ser utilizado até o dia 14 de abril deste ano.

A prefeitura disse ainda que, ao cruzar os dados e verificar a lista com as 12 pessoas que supostamente teriam sido vacinadas com o lote em questão, foi verificado no SIES que as vacinas dispensadas para as ações nos referidos serviços não foram as com vencimento em 14 de abril.

"Desde os primeiros dias de trabalho da atual gestão, o principal compromisso da administração pública da capital é assegurar o acesso, de forma igualitária, aos serviços de saúde a toda população. Assim sendo, a Semus vem disponibilizando inúmeros pontos de vacinação contra a covid-19 para o público-alvo da campanha, tornando Vitória a cidade que mais vacinou pessoas contra a Covid-19 no Espírito Santo e a 4ª capital do país", destacou a prefeitura, em nota.

Até o momento, Vitória já aplicou 290.742 doses da vacina contra a covid-19, sendo 199.550 na primeira dose, o que representa 54,5% da população, e 91.192 na segunda dose e na dose única, o que equivale a 24,9% da população.

A Secretaria de Saúde de Vila Velha informou que recebeu vacinas do lote 4120Z005, tendo a última remessa saindo da rede de frio municipal no dia 16 de março. Segundo a secretaria, todas as vacinas foram aplicadas muito antes da data de vencimento, o que desmente a publicação do veículo.

"Como mostra o próprio site da Folha de São Paulo, tivemos registros de menos de dez doses para o lote mencionado, em Vila Velha, o que mostra que essa informação é inverídica, uma vez que, um frasco da vacina contém dez doses", destacou a prefeitura, em nota.

A administração municipal afirmou também que as vacinas passam por um rigoroso processo de auditoria, em parceria entre as secretarias de Saúde e Controle.

Segundo a prefeitura, o que justifica tal dado do Vacina SUS é que, no início da campanha, os registros das aplicações das vacinas não estavam sendo realizados em tempo real, sendo o lançamento registrado no Sistema Nacional de Imunização posteriormente à data de validade da vacina.

A Secretaria de Saúde de Cachoeiro de Itapemirim afirmou que faz a conferência de todas as vacinas recebidas pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesa). Segundo a prefeitura, a Semus verificou os cartões de vacina das pessoas já identificadas e constatou não se tratar do lote citado na reportagem.

Já o secretário municipal de Saúde de São Mateus, Henrique Luis Follador, informou que, de acordo com informações da Superintendência Regional de Saúde do Norte do Estado, não houve nenhuma vacina aplicada na cidade com a validade vencida.

De acordo com a Superintendência Regional, o que houve foi um erro no sistema ou no lançamento dos lotes e instabilidade do próprio sistema SIPNI.

A direção do Hospital Santa Rita, em Vitória, informou que a vacinação contra a covid-19 realizada na unidade foi para médicos e equipes de trabalho, tanto da área de atendimento quanto administrativa.

A diretoria do hospital disse que teve conhecimento dessa suspeita na tarde desta sexta-feira, pela imprensa, e já entrou em contato com a Secretaria de Saúde de Vitória (Semus) para conferência da validade dos lotes das vacinas aplicadas nas dependências do Santa Rita, já que os imunizantes foram distribuídos pela Semus.

O hospital disse que assim que toda a checagem for feita, adotará as providências necessárias, seguindo a orientação das autoridades sanitárias locais.

Já a Santa Casa de Vitória disse que não vai se manifestar sobre o assunto, já que a vacinação é organizada pela Secretaria de Saúde da capital e que o hospital apenas cede o espaço.

A direção do Vitória Apart Hospital também foi procurada pela reportagem, mas até o momento não se manifestou.

A reportagem também entrou em contato com as prefeituras de Cariacica e Linhares, além do Vitória Apart Hospital, na Serra. No entanto, até o momento, nenhum deles deu retorno. Quando houver um posicionamento, esta matéria será atualizada.

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