Maratona Aquática: 24 horas de manifesto pelo meio ambiente
Em ato pela preservação do oceano, mais de 200 nadadores passaram dia e noite na água, na Praia de Camburi, em Vitória
Não tem horário, nem tempo ruim. Para quem é apaixonado pelo mar, a madrugada fria e a água gelada não são empecilhos para a maratona. Especialmente quando não é apenas a atividade física que está em jogo, mas sim a despoluição do litoral capixaba.
Mais de 200 atletas se revezaram, nadando em idas e vindas da areia para a ilha do Socó, na Praia de Camburi, em Vitória. Foram 24 horas de braçadas, em um manifesto pela preservação do oceano. Tudo organizado pelo ambientalista Paulo Pedrosa, de 60 anos. Boa parte deles, vividos na luta pela limpeza do mar. “Fizemos trabalhos de educação ambiental, separação do lixo orgânico e seco, falamos sobre os problemas da poluição atmosférica, sobre o esgoto lançado nos rios e no mar e sobre o resíduo sólido que a própria população joga nas ruas e na água”, conta Pedrosa.
Esta é a oitava edição da maratona. No total, os organizadores estimam que mais de mil pessoas - entre moradores e turistas - foram envolvidos nas atividades. Até porque apenas atletas acostumados à natação em mar aberto foram autorizados a entrar no mar. "Tivemos o cuidado de permitir apenas nadadores experientes, porque é perigoso. Não queríamos provocar nenhum risco à integridade física dos participantes", diz Pedroso.
Atletas de outros Estados também vieram participar da ação, como três amigos de Volta Redonda, no Rio de Janeiro. O técnico em operações Ronald Rangel e os professores Rômulo Bruno e Rodolfo Conceição vieram só para conhecer a maratona, a convite de amigos que já haviam participado de outra edição. “Fiquei feliz por ter feito novos amigos, e principalmente, por ter contribuído de alguma forma para a despoluição da Praia de Camburi”, conta Rangel.
"A madrugada não foi fácil, porque não costuma fazer frio nessa época em Vitória, e estava bastante frio. O vento também não ajudou, e a água estava gelada. Mas os nadadores não desistiram da ação", diz o organizador Paulo Pedrosa.
Entre eles, estava o aposentado Walmir Zanotti, de 77 anos, que afirma se sentir com uma saúd de ferro, e não pretende parar. "Além de fazer uma atividade que é minha rotina, ainda participo de um manifesto pelo meio ambiente", explica Zanotti.
Já Anna Laura Cabral é uma das caçulas da turma. Com apenas 17 anos, ela é maratonista aquática e já ganhou diversas competições de natação este ano. Desta vez, resolveu unir a paixão pelo esporte a uma causa que considera de fundamental importância. "Se nós, que vivemos no mar, não fizermos alguma coisa, quem irá fazer?", questiona.
De acordo com a prefeitura de Vitória, são recolhidas em média 24 toneladas de lixo, diariamente, nas praias da capital. Entre os resíduos, está guimbas de cigarro, garrafas, copos e canudos de plásticos, deixados na areia.
A maratona, que começou no sábado, terminou no final da manhã de domingo com um abraço simbólico na Ilha do Socó. O manifesto acontece na mesma semana em que moradores da região denunciaram uma estranha presença de sujeira preta na areia da Praia de Camburi.
A Secretaria de Meio Ambiente de Vitória informou que assinou um Termo de Compromisso Ambiental (TCA), juntamente com o Governo do Estado, o Ministério Público do Espírito Santo e o Ministério Público Federal para a remoção do minério de ferro sobre a areia da Praia de Camburi na porção Norte. O projeto de retirada do minério de ferro está em análise no Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (IEMA) para início da execução.
A Vale recebeu parecer dos órgãos ambientais sobre a recuperação da faixa de areia emersa no extremo norte da Praia de Camburi. A empresa está analisando os documentos para providenciar as medidas necessárias para viabilizar o início das obras de retirada do resíduo.
A Rede Vitória acaba de lançar o projeto Sereias Capixabas, que tem como objetivo divulgar e apoiar ações de educação ambiental, nos rios e no litoral capixaba.
