Geral

Ameaçada de extinção, palmeira juçara vira alternativa para agricultores do Espírito Santo

Atualmente, uma alternativa viável para exploração da Juçara é o processamento da polpa dos frutos, obtendo uma bebida conhecida como açaí de juçara, também chamado "juçaí"

Foto: Andre Vinícius Carneiro
Apaixonados pela Palmeiras Juçara, casal de agricultores de Santa Teresa envolvem toda a família na preservação e exploração sustentável da espécie. 

“A Juçara é a rainha da floresta. É completa, perfeita!”. É com brilho nos olhos que o agricultor, surfista, ambientalista e observador da natureza, Emerson Miranda, fala da Palmeira Juçara. Há 28 anos se dedicando ao estudo, observação e conservação da espécie, a árvore faz parte da história da família de Emerson.

A paixão e dedicação do agricultor e de sua esposa, Viviane Vieira Lopes, fizeram com que o local onde moram se tornasse o primeiro sítio legalizado de extração florestal do fruto da Palmeira Juçara para fabricação de polpa em Santa Teresa.

De acordo com o agricultor, cultivar a palmeira é uma forma de gerar renda para toda a família. “A família toda participa da produção, é agricultura familiar. A gente colhe os frutos, faz os processos que têm que fazer, replantamos e agora estamos fazendo mudas para comercializar”, explicou a agricultora Viviane.

"A sensação é de dever cumprido, de muita emoção, amor, vontade de chorar. A gente vê o Brasil da forma que se encontra, com tanta gente passando dificuldade, e a gente sabe que a Juçara é fonte de renda", disse Emerson, emocionado.

Atualmente, uma alternativa altamente viável para exploração da Juçara é o processamento da polpa dos frutos, obtendo uma bebida conhecida como açaí de juçara, chamado "juçaí". A textura, cor, sabor e composições nutricionais do fruto são muito semelhantes ao açaí da espécie nativa da Região Amazônica.

“Quem gosta do açaí gosta muito da Juçara e, normalmente, quem não gosta e açaí se apaixona pela Juçara. O sabor é mais adocicado, não tem aquele sabor de terra”, disse Emerson. Confira abaixo o depoimento do casal de agricultores:

Risco de extinção

Emerson e sua família se dedicam à missão de retirar a Palmeira Juçara do risco de extinção gerando renda por meio da agricultura familiar e contribuindo para o reequilíbrio da Mata Atlântica. “Quando eu conheci a palmeira, descobri que ela já quase não existia, que estava desaparecendo. Aí eu falei com meu pai que podíamos devolvê-la para a natureza”, contou.o agricultor.

Foto: Andre Vinícius Carneiro
Palmeira Juçara: nativa da Mata Atlântica.

Um dos principais motivos para o desaparecimento da Palmeira Juçara é a extração irregular de palmito. Além do corte ilegal da juçara e a destruição da Mata Atlântica, a extinção de aves e as mudanças climáticas podem levar a espécie à extinção.

O palmito pode ser extraído de três palmeiras diferentes: da juçara, da pupunha ou do açaizeiro. A Juçara é a única espécie nativa da Mata Atlântica, enquanto as demais pertencem à região amazônica.

Uma das diferenças entre as espécies é que a Juçara possui um único tronco. Assim, ao se extrair o palmito, a palmeira morre. No caso da pupunha e do açaí, quando se extrai o palmito, a parte retirada rebrota do tronco principal. Outra diferença importante é que a juçara demora de oito a 12 anos para produzir um palmito de qualidade, enquanto o da pupunha pode ser extraído depois de 18 meses do plantio.

Para extrair o palmito juçara é necessária a derrubada dos indivíduos adultos, preferencialmente aqueles de maior porte - as palmeiras podem atingir 20 metros de altura. Essa é uma prática perigosa para a manutenção da espécie, já que quando se derrubam os indivíduos adultos, há menos plantas para produzir sementes.

Relação com a Mata Atlântica

A preservação da Palmeira Juçara está diretamente ligada à manutenção da biodiversidade da Mata Atlântica. Sua semente e seu fruto servem de alimento para mais de 48 espécies de aves e 20 de mamíferos.

Tucanos, jacutingas, jacus, sabiás e arapongas são os principais responsáveis pela dispersão das sementes. Já as cotias, antas, catetos, esquilos e muitos outros animais se beneficiam das suas sementes ou frutos. Por serem frutos muito ricos em gordura e antioxidantes, são muito procurados pelos animais.

Além de reduzir o alimento para os animais, o corte ilegal de palmito também traz um prejuízo direto para determinadas espécies que são alvo de caça. Isso porque os extratores permanecem por vários dias no interior da mata, cortando o palmito e caçando os animais. 

Turismo Sustentável

Foto: Fernando Madeira / Cine.Ema

Se viajar pelo mundo ficou mais fácil e acessível com o advento da tecnologia, os impactos negativos do turismo também aumentaram nos últimos anos. Em muitos lugares, o esforço para atrair receitas com o mercado de viagens deu lugar a uma preocupação com os efeitos adversos da atividade.

Os prejuízos que o turismo predatório pode causar vão além dos danos ao meio ambiente. Por isso, o primeiro dia de programação aberta do Cine.Ema – Festival de Cinema Ambiental do Espírito Santo –  promoveu um debate acerca do assunto, durante o Seminário 'Conexão Comunidade, Cultura e Sustentabilidade', na Reserva Águia Branca, em Vargem Alta, região serrana do Estado.

De acordo com Thays Guedes, palestrante do evento e responsável pela gestão de investimento social da Fundação Toyota Brasil, quatro pilares são fundamentais para o turismo consciente: a redução de impactos socioeconômicos, culturais, ambientais e investimento em administração responsável. 

"Apesar dos impactos negativos, o turismo também pode ser um vetor de desenvolvimento. O turismo é sim uma importante ferramente que pode unir as pessoas com o meio ambiente, principalmente quando usado para educar. Acredito muito que o turismo é capaz de fazer a reconexão das pessoas com o meio ambiente. A questão central é como as práticas de lazer e turismo podem promover a inclusão social ao mesmo tempo em que contribuem para a conservação do ambiente”, explica.

Foto: Fernando Madeira / Cine.Ema
"O turismo é capaz de promover a reconexão entre as pessoas e o ser humano", diz Thaís Guedes, da Fundação Toyota Brasil. 

Para isso, negócios locais precisam gerar receita e novos empregos ligados à atividade. O fluxo de turistas em locais de preservação ambiental também pode ajudar a criar consciência entre moradores, que passam a se esforçar mais para conservar a natureza que atrai visitantes. O turismo também pode propiciar mais investimentos estatais para projetos de conservação ambiental e aumentar a visibilidade das demandas dos moradores.

Festival de Cinema Ambiental

Pela segunda vez em Vargem Alta, o Festival de Cinema Ambiental do Espírito Santo (Cine.Ema) apresenta neste final de semana o melhor de suas obras audiovisuais na Reserva Ambiental Águia Branca, em Castelinho. A entrada é franca.

Com programação diversificada, a mostra traz filmes de ficção, animações e documentários que refletem sobre as questões ambientais da atualidade, além de música e oficinas para os alunos da rede municipal de ensino.

As ações educativas começaram na última segunda-feira (16), com cursos de vídeo ambiental e observação de pássaros dentro e fora da reserva. Já neste sábado (21), acontece as mostras competitivas de cinema, sendo uma exclusiva para o público infantil, além de seminário e shows musicais.

Foto: Fernando Madeira / Cine.Ema

O Cine.Ema é um projeto cultural nacional e multiplataforma de educação ambiental cujo objetivo é gerar consciência através do cinema, com difusão e premiação de obras audiovisuais que reflitam sobre memória, paisagens, realidades e desafios do meio ambiente de forma sensível e criativa. 

Inspirado na Pedra da Ema, ícone paisagístico e natural de Burarama, em Cachoeiro de Itapemirim, e no significado universal da Ema, mãe natureza, a Mostra Nacional de Cinema Ambiental do Espírito Santo foi realizada pela primeira vez em 2015. O projeto promove atividades formativas para crianças e adultos de comunidades que margeiam patrimônios naturais brasileiros, além de seminários ambientais reflexivos e temáticos que envolvem os desafios sustentáveis do nosso tempo. 

O Cine.Ema integra a rede de realizadores de festivais ambientais do Brasil e é o único festival de cinema anual com este recorte temático realizado no Espírito Santo.

Serviço

Cine.Ema – Festival de Cinema Ambiental do Espírito Santo
Data: até o dia 22/9
Local: Reserva Ambiental Águia Branca, em Vargem Alta
Entrada: Hotel Monte Verde Golf & Resort

Pontos moeda