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Trump diz que mudança climática não é farsa mas que não tem certeza da causa

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, recuou de sua afirmação de que a mudança climática é uma farsa, mas disse que não sabe se é provocada pelo homem e sugeriu que o clima pode voltar a ser como era antes. Em entrevista ao programa "60 Minutes", da CBS, que foi ao ar na noite de domingo, Trump disse que não quer colocar os EUA em desvantagem ao responder às mudanças climáticas.

"Eu acho que algo está acontecendo. Algo está mudando e vai mudar de volta ao que era", disse Trump. "Eu não acho que é uma farsa. Eu acho que provavelmente há uma diferença. Mas eu não sei se é causada pelo homem. Eu vou dizer isso: eu não quero dar trilhões e trilhões de dólares. Eu não quero perder milhões e milhões de empregos."

Trump chamou a mudança climática de farsa em novembro de 2012, quando escreveu no Twitter: "O conceito de aquecimento global foi criado pelos chineses e para eles a fim de tornar a produção norte-americana não competitiva". Mais tarde, ele disse que estava brincando sobre a conexão chinesa, mas continuou a chamar o aquecimento global de farsa.

"Eu não estou negando a mudança climática", disse Trump na entrevista. "Mas (o clima) poderia muito bem voltar ao que era. Você sabe, estamos falando de mais de ... milhões de anos."

Registros de temperatura mantidos pela NASA e a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica mostram que o mundo não teve um ano mais frio do que a média desde 1976 ou um mês mais frio do que o normal desde

fim de 1985.

Trump, que deve visitar na segunda-feira áreas da Geórgia e da Flórida

danificadas pelo furacão Michael, também expressou dúvidas sobre descobertas de cientistas ligando a mudança climática a furacões mais poderosos. "Eles dizem que nós tivemos furacões muito piores do que acabamos de ter com Michael", disse Trump, que identificou "eles" como "pessoas" depois de ter sido pressionado pela entrevistadora, a correspondente Leslie Stahl. Leslie perguntou ainda "sobre os cientistas que dizem que está pior do que nunca?", ao que o presidente respondeu: "Você tem que me mostrar os cientistas porque eles têm uma grande agenda política."

Os comentários de Trump vieram poucos dias depois de uma Conferência Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas emitir um alerta de que o aquecimento global aumentaria riscos relacionados ao clima para saúde, meios de subsistência, segurança alimentar, abastecimento de água, segurança humana e crescimento econômico. O relatório detalhou como o clima da Terra, saúde e ecossistemas estaria em melhor forma se os líderes do mundo pudessem de alguma forma limitar o futuro aquecimento causado pelo homem.

Citando preocupações sobre o impacto econômico, Trump disse em 2017 que os EUA deixarão o acordo de Paris. O acordo estabelece voluntariamente metas de emissão de gases de efeito estufa em um esforço para diminuir o impacto de combustíveis fósseis.

Washington

Trump disse ainda no "60 Minutes" que foi surpreendido por Washington ser um lugar difícil, enganoso e divisor, embora alguns acusem o

presidente dessas mesmas táticas. "Então eu costumava dizer que as pessoas mais difíceis são as do setor imobiliário de Manhattan e blá, blá", disse ele. "Agora eu digo que são bebês."

Ele afirmou que políticos em Washington mudaram o seu pensamento. "Este é o mundo mais enganoso e vicioso. É vicioso, é cheio de mentiras, engano e fraude", disse. "Você faz um acordo com alguém e é como

fazer um acordo com - aquela mesa."

Mattis e Arábia Saudita

Em trecho divulgado mais cedo da entrevista, Trump disse que o secretário da Defesa do país, Jim Mattis, pode estar avaliando se renunciará ao cargo e disse que vê o chefe do Pentágono como "meio que um democrata", uma crítica velada a um de seus mais populares secretários de gabinete. "Eu tenho um relacionamento muito bom com ele. Eu almocei com ele há dois dias", disse Trump. "Pode ser que ele esteja" saindo do cargo, disse Trump, respondendo a uma pergunta sobre se ele quer que Mattis saia.

"Eu acho que ele é meio que um democrata, se você quer saber a verdade", afirmou o presidente. "Mas o general Mattis é um bom sujeito. Nós nos damos muito bem. Ele pode sair. Quero dizer, em algum momento, todo mundo sai. Todos. As pessoas vão embora. Isso é Washington." Mattis, um general aposentado do Corpo de Fuzileiros Navais, não se identifica publicamente com nenhum dos principais partidos políticos.

Ontem, já havia sido divulgado o trecho da entrevista em que Trump disse que haverá "punição severa" caso investigações concluam que a Arábia Saudita está envolvida no desaparecimento e possível morte do jornalista saudita Jamal Khashoggi, que escrevia para o jornal americano The Washington Post.

Trump disse também que os EUA ficariam "muito chateados e com raiva" se os sauditas fossem responsáveis pelo caso, pontuando que atacar um jornalista é "algo realmente terrível e desagradável". O presidente norte-americano ponderou, contudo, que não é a favor de sanções porque elas custariam empregos nos EUA. "Eles (a Arábia Saudita) estão encomendando equipamentos militares", comentou, acrescentando que os EUA venceram concorrentes como China e Rússia quando negociaram a venda de US$ 100 bilhões em armas para o governo saudita no ano passado. "Boeing, Lockheed, Raytheon, todas estas empresas... Eu não quero comprometer empregos. Não quero perder um pedido como aquele", disse, referindo-se a empresas de equipamentos de defesa. Fonte: Associated Press e Dow Jones Newswires.