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Mudanças no ensino e no mercado de trabalho desafiam profissionais da educação

Com a nova geração de alunos e as novas exigências dos empregadores, as instituições de ensino tiveram que mudar o jeito de ensinar

Patrícia Meireles da Silva

Redação Folha Vitória
Foto: Divulgação/ Católica de Vitória
Contato com a realidade da profissão deixa o aluno mais preparado para o mercado

O mercado de trabalho está em constante mutação. Com ele, também muda o perfil dos profissionais. A missão das instituições de ensino em formar esses futuros profissionais é uma tarefa que exige um desempenho cada vez maior.  

Jovens de 18 a 24 anos são de uma faixa etária que, historicamente, sofre mais com o desemprego. O motivo é a falta de experiência profissional, além da baixa qualificação desses jovens . A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), mostrou que o número de subutilizados nessa faixa etária chegou a 41,8%nos primeiros meses deste ano. O subutilizados são jovens que estão desempregados, desistiram de procurar uma vaga ou poderiam trabalhar mais horas do que trabalham atualmente. 

Para reverter esse quadro muitas instituições estão trabalhando as habilidades e dom dos alunos desde a primeira infância. O objetivo é tornar a criança mais proativa, participativa e, consequentemente, mais preparada para o mercado de trabalho do futuro.

Já nas faculdades, a preocupação está em investir em uma imersão cada vez maior dos alunos na realidade de suas respectivas áreas. A gerente acadêmica da Universidade Estácio de Sá, Marisa Rocha Lopes, explica que um dos desafios é relacionar a teoria com a prática. "O que trabalhamos desde o primeiro período é que esse aluno busque autonomia para continuar sempre aprendendo . Ele aprende um conceito ou vivencia uma experiência que o professor traz de uma empresa, sai da faculdade e consegue enxergar isso nos lugares".

Trazer desafios da realidade para dentro da sala de aula é uma forma de preparar os estudantes  para o que os aguarda. Isso exige um contato com a sociedade e as empresas, para entender as demandas. "A partir do momento que eu trago para dentro da instituição as demandas reais da sociedade, o aluno trabalha o conteúdo de uma forma que ele já comece a pensar nos problemas" ressalta a diretora acadêmica do Centro Universitário Católica de Vitória, Lis Helena Teixeira Paula. 

Diante da dificuldade de atender os interesses específicos de tantas empresas que mudam o tempo todo, a educação busca oferecer uma base sólida de conhecimento para os estudantes e estimular neles e vontade de aprender mais. "É preciso formar um aluno que tenha protagonismo para ir além da formação e estar sempre se atualizando. Quando formo um profissional que não aguarda de forma passiva o conhecimento, ele vai sempre buscar aprender e reaprender" , explica a diretora Lis Helena Teixeira Paula.

Renzo Vinícius Reis Pagio, 19 anos, estudante do segundo período de Farmácia, no Centro Universitário Católica de Vitória, sabe bem que precisa se preparar e muito para entrar em um mercado cada vez mais exigente e concorrido. Na opinião dele, as aulas práticas fazem toda diferença nesse preparo."Temos aulas laboratoriais toda semana e muito trabalho em equipe. É importante ter acesso a situações que de fato acontecem na realidade. Você absorve coisas dos colegas e une ao que você já tem, além de ficar mais aberto a novas opiniões ". 

Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal
Renzo está se preparando para o mercado

Durante as aulas práticas, Renzo já desenvolveu uma campanha sobre vacinação de gestantes e, atualmente, está tentando criar com os colega um aplicativo que avisa aos diabéticos a hora certa de aplicar a insulina.

Estudante do sétimo período de Administração na Universidade Estácio de Sá, Yann Martins Leal de Azevedo, de 24 anos, faz consultoria fixa para uma empresa, além de estágio na própria faculdade. Segundo ele, as aulas práticas foram fundamentais para se sentir preparado e encarar o mercado. "Hoje existe uma rotatividade muito grande e é preciso se adaptar às mudanças, nunca dizer 'eu não sei', sempre diga que vai buscar uma resposta".

Segundo Yann, os cursos complementares oferecidos com descontos para os alunos da Estácio e as atividades que os colocam em contato com a realidade de cada profissão, não deixam o estudante sair sem experiência. Ele conta que, através da universidade, teve a oportunidade de fazer uma consultoria para uma rede de lojas de alimentação saudável, elaborou uma proposta de intervenção e a empresa aceitou colocar em prática sua ideia. "A empresa não tem nenhum custo e nós podemos colocar em prática o que aprendemos".

Foto: Divulgação/Estácio de Sa
Alunos prestam serviços para a comunidade

A gerente acadêmica da Estácio, Marisa Rosa Lopes, explica que cada curso tem um laboratório específico e cada laboratório têm seu projeto de extensão, onde o professor com o aluno atende a comunidade. "O estudante vê na prática como esse profissional atua e aprende também a ser solidário, oferecendo um serviço de qualidade para a comunidade". A instituição oferece para o público serviços como fisioterapia, educação física e a assessoria jurídica, tudo gratuito.

Confira o vídeo sobre desafios na formação dos futuros profissionais

Soft Skills

A vice-presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos no Espírito Santo (ABRH-ES), Neidy Christo, afirma que o preparo ofertado pelas instituições de ensino é muito importante para a formação do futuro profissional, já que cada vez mais as empresas estão exigindo experiência desses profissionais. 

O objeto de desejo das empresas na atualidade é o profissional com as chamadas 'Soft Skills', as habilidades socioemocionais. Já foi o tempo que um currículo recheado de cursos e qualificações técnicas enchia os olhos de recrutadores. O funcionário ideal precisa ter inteligência emocional para se relacionar e conquistar objetivos. Algumas dessas habilidades são criatividade, proatividade, resiliência, resolução de conflitos, trabalho em equipe e liderança.

"A criatividade é uma das competências mais requeridas. Com essa quantidade de tecnologia, o que vai diferenciar o ser humano da máquina é a criatividade", explica Neidy Christo, vice-presidente da ABRH- ES. 

O que são as habilidades sociemocionais? Confira no áudio:

NEIDY CHRISTO ABRH

A pesquisa global Capgemini Digital Transformations Institute, realizada em 2017, revelou que 60% das empresas sofrem com a falta das soft skills nos funcionários.  Fabíola Saquetto, treinadora na área comportamental e especialista em RH há 18 anos, alerta que as faculdades precisam incluir na grade, atividades para estimular a questão comportamental. Segundo a especialista, 80% das demissões ocorrem justamente por problemas de comportamento. "Isso faz parte da vida de todo profissional. Quanto antes a faculdade incluir na grade matérias sobre comportamento, muito melhor esse profissional vai chegar o mercado".

De acordo com a Unesco, os quatro pilares da educação são: Aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver com os outros e aprender a ser. Para a especialista Fabíola Saquetto, é importante as instituições de ensino trabalharem os outros quocientes nos futuros profissionais, além do famoso QI (quociente de inteligência):

QE (Quociente emocional) : compreender e avaliar os próprios sentimentos e o sentimento do outro.

QS (Quociente espiritual): dá um propósito aos alunos, ligar a profissão a algo maior. Ajuda o profissional a encontrar sentido no que faz.

QA (Quociente da adversidade) : ensinar o futuro profissional a ter resiliência e ser realista, para não se frustrar com o mercado. 

Saiba quais são as caraterísticas essenciais nos novos profissionais:

AUDIO FABIOLA SAQUETTO




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