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Negligenciar sinalização tátil prejudica deficientes visuais

A lei brasileira pauta a sinalização obrigatória para promover a integração das pessoas com deficiência por meio de normas de acessibilidade

Foto: Divulgação

Vivemos em uma sociedade regida pela informação, conhecimento e inclusão social. Isso nos leva a refletir sobre a importância do acesso e uso da informação para as pessoas com deficiência visual para construir o conhecimento, exercer a cidadania e contribuir no aprendizado ao longo da vida.

Acessibilidade não é um diferencial, mas sim um dever que toda a sociedade deve obrigatoriamente considerar, principalmente quando pensamos no acesso a locais privados e públicos e no bem-estar de todas as pessoas, independente das condições e restrições de cada um. Dentro deste cenário, os tipos de sinalização para deficientes têm um papel muito importante.

Foto: Divulgação

De acordo com o último Censo do IBGE, 45,6 milhões de pessoas declararam ter algum tipo de deficiência e, entre elas, a mais comum foi a visual. Segundo o Censo, existiam mais de 35 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência visual no país, sendo 528 mil pessoas cegas e mais de seis milhões de pessoas com baixa visão ou visão subnormal (com grande dificuldade em enxergar). Além disso, cerca de 29 milhões de pessoas declararam possuir alguma dificuldade permanente de enxergar, apesar de usar óculos ou lentes.

A lei brasileira pauta a sinalização obrigatória para promover a integração das pessoas com deficiência por meio de normas de acessibilidade. A política nacional é amparada pela Lei nº7.853/89 e pelo Decreto nº 3.298/99.

Já o Decreto-lei 5.296 de 2004 orienta projetos arquitetônicos e urbanísticos para que eles englobem os recursos que promovam a acessibilidade. O engenheiro civil Ralph Chezzi aponta as principais indicações.

“É recomendado que todos os ambientes sejam projetados com as placas em braile e que as escadas, rampas e entradas contem com o piso tátil. A ideia dessas sinalizações voltadas aos deficientes visuais é garantir a autonomia dos usuários no ambiente”, acrescenta.

Superação nas ruas

A estudante Núbia Pereira, de 31, ainda vive um momento de adaptação à realidade das pessoas que não enxergam. Vítima de um descolamento de retina após uma queda na infância, a estudante de psicologia passou a vivenciar os desafios da cegueira de forma mais aguda há dois anos, quando perdeu completamente a visão. 

Para se locomover, adquiriu a independência com a ajuda da bengala, sua parceira inseparável quando sai de casa. Para as compras, por enquanto, precisa da companhia de um parente ou amigo. “Ainda não tenho uma memória tátil muito boa. Então, sempre vou com alguém, porque não confio nos vendedores”, explica. Para a jovem, os maiores desafios no comércio são a falta de sensibilidade e de atenção dos vendedores. “Quando entramos na loja, os atendentes não se direcionam para a pessoa cega, sempre conversam com o acompanhante. É como se não estivéssemos ali. Somos invisíveis para eles”, reclama.

Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

A estudante destaca a importância da capacitação dos profissionais do comércio para atender as pessoas cegas. “Não leio em braile ainda, assim como muitos cegos também não leem. Então, a melhor forma de atendimento é a oral. E isso depende da dedicação e paciência do vendedor”, explica. Para engenheiro civil Ralph Chezzi, os desafios que os deficientes visuais encontram quando vão às compras se devem à falta de informação. 

“Você chega na loja e as pessoas não sabem como atendê-lo. É comum o vendedor puxar sua bengala ou o seu braço. Arrumar uma cadeira para a gente se sentar. Afastar-se sem avisar e deixar a gente falando sozinho. O despreparo é geral”, afirma. “O cego precisar tocar no objeto ou produto que vai comprar. Não adianta ficar descrevendo a peça que está na vitrine. A gente conhece as coisas pelo tato.”

Penalização 

As normas de acessibilidade têm a ver com inclusão social, e por estarem previstas em Lei, o não cumprimento das regras, pode gerar multas e penalizações.

A penalização e valores de multas poderão variar conforme a natureza da infração e o local. Um shopping, por exemplo, que não estiver projetado de acordo com as normas de acessibilidade poderá ser penalizado pelo Ministério Público, já um restaurante que não dispuser de cardápio em braile, poderá ser penalizado pela Prefeitura específica do município.

Entenda a sinalização em Braille

A linguagem em Braille foi desenvolvida pelo francês Louis Braille (1809-1852), que era deficiente visual, anos mais tarde, a linguagem desenvolvida por ele seria utilizada no mundo todo.

Segundo o Decreto 5.296, é obrigatório que os estabelecimentos (escolas, hotéis, hospitais, empresas, aeroportos, shoppings, entre outros), atendam às pessoas deficientes visuais ou com visão reduzida, por meio da implementação das normas de acessibilidade, que visam sinalizações específicas nos ambientes, como é o caso das placas em braile.

Foto: Divulgação

As placas em braile devem estar localizadas na entrada e saída de ambientes, nos elevadores, nos banheiros masculino e feminino, entre outros. A ideia é que os locais estejam adequados para receber todas as pessoas.

“As normas de acessibilidade têm como finalidade promover a igualdade de direitos de ir e vir nos locais, o que é uma importante expressão de cidadania”, acredita Chezzi.

As placas em braile têm como intuito gerar nos deficientes visuais maior confiança ao se locomover nos locais. Além disso, devolve à pessoa a autonomia, sem que precise da informação de terceiros para se locomover.

O trabalho da confecção das placas de braile deve atender à norma de acessibilidade NBR 9050, os materiais utilizados podem ser: PVC, acrílico, inox, aço, entre outros, e devem ser posicionados estrategicamente nos ambientes para cumprir com o propósito de orientar ao público deficiente visual.

Além das placas de sinalização, há outros tipos de sinalização específicos para atender os deficientes visuais, como:

Mapa tátil

Também devem atender às normas da ABNT 9050 (de altura, relevo dos caracteres, símbolos e cores utilizadas) orientando as pessoas cegas ou com baixa visão nos estabelecimentos públicos ou privados. “Outro requisito importante é o de respeitar a proporção geométrica no que se relaciona às dimensões do espaço”, esclarece Chezzi.

Piso tátil

Também é uma sinalização fundamental, a principal função do piso tátil é orientar o público quanto aos possíveis obstáculos pelo caminho, além disso, ajuda na identificação do início e término de rampas, escadas, degraus, na localização dos elevadores, no acesso a calçadas e em relação às mudanças de direção.

Este recurso de sinalização pode ser instalado em diversos materiais como: PVC, borracha, inox, entre outros. As cores utilizadas para compor essa sinalização geralmente são: marrom, cinza, azul e amarelo.

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