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Nova geração: escolas mudam a forma de ensinar e aprender

Instituições têm inovado e estimulado estudantes a construírem o seu próprio conhecimento

Patrícia Meireles da Silva

Redação Folha Vitória
Foto: Divulgação/ Colégio América
As salas de aula agora são mais dinâmicas, os alunos trabalham em grupos

Você é do tempo que as aulas aconteciam dentro de uma sala, com professores em pé, diante de uma lousa e alunos enfileirados? Se a resposta é sim, você faz parte do passado! As metodologias de ensino tradicionais perderam espaço. Hoje tudo é feito para envolver o aluno. Um novo jeito de ensinar e aprender.

Um dos motivos dessas mudanças é o perfil do novo aluno, hoje mais dinâmico e inquieto. Os professores e especialistas Genoveva Sastre e Ulisses Ferreira, no livro “Aprendizagem Baseada em Problemas”, afirmam que somente 10% de um conteúdo lido é assimilado pelo aluno, aumentando para 20% a capacidade de reter o conhecimento, quando o estudante escuta sobre o assunto.

No entanto, um conteúdo vivenciado, em uma simulação, pode levar o aluno a reter até 90% do que foi ensinado. Uma vez que o estudante se apropria do conteúdo para falar sobre ele, toma autoridade no assunto a partir da reflexão e vivência até o seu compartilhamento. Enfatizar a importância da experiência para o aprendizado faz parte da metodologia ativa.

Os métodos ativos transformam as escolas em um ambiente de interação, onde os alunos se sentem mais à vontade para dizer o que pensam, procurando a melhor forma de resolver os desafios. Isso não deixa que o estudante fique parado e o faz se sentir mais motivado a aprender. Na sala de aula, as mesas são transformadas em pequenas ilhas, onde os alunos ficam cara a cara com os colegas e aprendem a trabalhar em equipe. 

Essa metodologia é adotada pelo Colégio América, em Vitória. O diretor da instituição, Juliano Silva Campana, chama esse método de colaborativo. Na opinião dele esse formato de ensinar permite que cada aluno trabalhe suas necessidades individuais e, para que isso seja eficaz, a instituição limita um número de 20 alunos por turma.

“Os alunos se organizam em pequenos grupos e recebem desafios, problemas para solucionar. Cada componente tem uma função dentro da equipe. Ao resolver esse desafio eles vão entender, aplicar e consolidar o aprendizado com uma vivência prática”, explica Campana, que também é professor universitário e atua como consultor na área educacional há 20 anos. 

Na opinião do especialista, a metodologia ativa permite o professor adotar diferentes estratégias em sala de aula para que cada um alcance seus objetivos. "Desenvolver habilidades e competências pessoais é o principal ganho da metodologia ativa", pontua.

Confira os desafios dos métodos ativos nas escolas, na visão do especialista:

Juliano Silva Campana - Desafios dos métodos ativos nas escolas do Brasil


Foto: arquivo/Colégio América
A divisão dos alunos em grupos estimula o trabalho em equipe e a solução de desafios. 

O método ativo não é o único que permite a interação dos alunos.  A Metodologia Sociointeracionista defende que o conhecimento surge da interação das pessoas com o ambiente em que vivem. O aluno aprende quando está socializando com outros e trocando experiências. Esse método está relacionado também ao Construtivista, que busca criar formas do aluno construir o próprio saber. 

Há 35 anos atuando na ´área da educação, a pedagoga e diretora da Escola Lápis de Cor, Iza Rocha, ressalta que neste método há uma valorização do convívio entre as crianças no ambiente escolar, onde o professor participa oportunizando e  incentivando as situações de aprendizado. Na escola, para ajudar no desenvolvimento dos alunos, eles têm atividades como jogos e pesquisas, além de um contato direto com a natureza.

 "Partindo do princípio que você respeita o tempo da criança, não tenta apressar o processo de aprendizagem, ela estará mais preparada para as etapas seguintes. Acreditamos que a criança quando tem o contato com a natureza consegue socializar melhor, para isso temos horta, jardins e animais", ´reforça a Iza.
Foto: Divulgação/Escola Lápis de Cor
Crianças aprendem a importância da alimentação plantando na pr´ópria horta da escola 

A nutricionista Juliana Marchetti Chevrand , 35 anos, mãe do Migue, de três anos, estudante da Lápis de Cor, já vê benefícios no desenvolvimento do filho. Ela conta que matriculou o pequeno por uma recomendação do neuropediatra, por ele ter dificuldades na fala e na alimentação."A fala foi desenvolvendo super bem, por causa das atividades de interação. Na alimentação foi feito um trabalho maravilhoso e ele até aprendeu a fazer alguns pratos na aula de culinária".

Juliana ressalta ainda que o estímulo à autonomia, promovido pelo protagonismo dos alunos, mudou a rotina dela com o filho. Segundo ela, antes ele precisava de ajuda para tudo, agora já come sozinho, calça o tênis e até escolhe a roupa que quer usar para sair. "Acho que ele sendo educado dessa forma, vai desenvolver mais a personalidade e os dons dele". 

Ensino Superior

A educação superior também mudou. Em muitas instituições, os alunos são desafiados com situações reais de cada área de formação e assim se prepararam de forma mais adequada para o mercado. A salas passam a ser organizadas para serem parecidas com o ambiente de trabalho que os estudantes irão encontrar, também usando as atividades em grupo. 

Foto: Divulgação/Católica De Vitória
Estudantes encaram os desafios reais da profissão. 

No Centro Universitário Católica de Vitória, essas mudanças trouxeram inovação e transformaram a forma de preparar os futuros profissionais. “Nós usamos mais de 40 metodologias, de acordo com os cursos e com as necessidades. Não temos disciplinas (individuais), nem provas bimestrais. Os estudantes são avaliados todos os dias e trabalham com os desafios reais da sociedade. A universidade inteira é um laboratório”, afirmou Cledson Rodrigues, reitor do centro universitário e MBA em Gestão de Instituições Educacionais. 

A estudante do segundo período de psicologia da Católica de Vitória, Carin Queiroz Klueger, de 42 anos, faz um comparativo exato do antes e do depois dessa mudança do ensino. Isso porque ela já foi aluna do Centro Universitário há 15 anos, em outro curso, quando ainda era usado o método tradicional, e agora está estudando com as novas metodologias.

Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal
 Carin comemora as mudanças no ensino

"A mudança foi extraordinária! Você entra na sala e já se sente no seu escritório (risos), ficamos em 'ilhas', podemos olhar de frente para os colegas e discutir assuntos, levamos café para tomar durante a aula, nos sentimos muito à vontade, e o professor é um parceiro que está ali para nos auxiliar", contou a estudante.


Essa mudança técnica e de pensamento, exige também uma formação diferenciada. “Os professores estão sendo formados em Gestão de Aprendizagens Ativas. O professor passa a ser um gestor em sala de aula e precisa aprender junto com os alunos” pontuou o reitor Cledson Rodrigues.

Quanto à capacitação desses educadores, Cláudia Gontijo, especialista em educação da Ufes, afirma que é preciso uma formação sólida e muita troca de experiências entre os professores.. “Aqui no Espírito Santo temos várias experiências de formação continuada com professores, promovendo situações de trocas de conhecimento. As formações ajudam os professores a refletir sempre”, destacou

No vídeo o diretor da Católica fala como o método ativo beneficia o aluno:

Como inovar as aulas?

Classe invertida: Aprender o conteúdo na escola e depois fazer a famosa tarefa de casa? Não mais! Na sala de aula invertida, o aluno estuda o conteúdo em casa e o coloca em prática na escola, tendo auxílio direto do professor nos questionamento sobre o tema.

Gamificação: Uma ótima forma de estimular os alunos, é a utilização de jogos na sala de aula. A lógica dos games ajuda a simplificar os assuntos mais complexos e motiva os estudantes. Um bom exemplo, é a utilização pelos professores de plataformas onde os alunos respondem perguntas em tempo cronometrado e, posteriormente, é formado um ranking, com quem respondeu em menos tempo.

Elaboração de projetos: A divisão de alunos em equipe, para solucionar desafios e problemas, com ou sem ajuda de tecnologia. Desenvolve nos estudantes o espírito de liderança, a solução de questionamentos e problemas, autonomia e a divisão de tarefas.



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