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Quatro anos depois, moradores ainda enfrentam as consequências do rompimento da barragem de Mariana

Pesquisadora compartilhou resultados de análises feitas em laboratório com peixes retirados do Rio Doce contaminadoe que mostraram a presença de metais tóxicos. Além disso, a pesquisa mostra que o desastre criou um ambiente propício para o surgimento de novos seres vivos nocivos à saúde humana

Gustavo Fernando

Redação Folha Vitória
Foto: Agência Brasil

Há quatro anos, precisamente às 17 horas, o município de Baixo Guandu, no Noroeste do Espírito Santo, era atingido pela lama com rejeitos de minério, proveniente do rompimento de uma represa da Samarco em Mariana, Minas Gerais. 

O rompimento da barragem aconteceu no dia 5 de novembro de 2015 e provocou uma enxurrada de lama no distrito de Bento Rodrigues, na região Central de Minas Gerais. Os resíduos chegaram ao Rio Doce, que corta cidades mineiras e capixabas. Aqui no estado, atingiram Baixo Guandu, Colatina e Linhares, até chegar a foz do rio, na Praia de Regência, onde a lama encontrou o Oceano Atlântico que, hoje, enfrenta outra tragédia ambiental: o vazamento de óleo que atingiu o nordeste e, agora, chega ao litoral do Espírito Santo. 

A chegada

Devido as consequências devastadoras em Minas Gerais, a chegada da lama já era aguardada pelos moradores e Poder Público no estado capixaba. Mas ainda assim, a água barrenta que tomou conta do Rio Doce causou um grande abalo, não só ambiental, como social e financeiro.

Segundo a Fundação Renova, entidade responsável pela mobilização e execução da reparação dos danos provocados pelo rompimento da barragem, mais de 4.500 pessoas foram impactadas pela tragédia em Baixo Guandu. Dessas, cerca de 3.481 pessoas foram consideradas elegíveis ao Auxílio Financeiro Emergencial (AFE) e 1.257 pessoas ao Programa de Indenização Mediada (PIM).

Foto: Divulgação

Atingidos pela tragédia

Na última sexta-feira (15), o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e a Prefeitura Municipal de Baixo Guandu (ES) realizaram um evento para debater soluções aos impactos da lama. Cerca de 250 atingidos participaram da ação que contou com a participação do prefeito de Baixo Guandu, Neto Barros (PCdoB), do secretário estadual de saúde do Espírito Santo, Nésio Fernandes, da pesquisadora Dulce Pereira, além de representantes de secretarias municipais de saúde de municípios capixabas, e representantes do Ministério Público Federal.

A professora da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), ex-diplomata e pesquisadora, Dulce Pereira, fez um longo diagnóstico da situação de saúde das populações atingidas. Segundo ela, mesmo antes de consolidada a construção da barragem de Fundão, em Mariana, laudos técnicos do projeto apontavam sérios riscos, seja pela proximidade da barragem a comunidades ou mesmo o fato de a barragem de rejeitos ter sido construída ao lado de uma outra barragem de água, o que aumentava o risco de um desastre, como de fato ocorreu. “Não foi evento, foi um desastre que por diversas razões se tornou um crime”, atestou.

Segundo a Fundação Renova, até agosto deste ano, foram destinados R$ 6,68 bilhões para as ações integradas de recuperação e compensação socioambiental e socioeconômica da bacia do rio Doce, com cerca de R$ 1,84 bilhão sendo destinados para  indenizações e auxílios financeiros emergenciais. A Fundação também indenizou mais de 264 mil pessoas por danos decorrentes da suspensão temporária, por mais de 24 horas ininterruptas, no abastecimento de água. 

Foto: Movimento dos Atingidos por Barragens - MAB

Contaminação

A pesquisadora também compartilhou alguns resultados de análises feitas em laboratório com peixes retirados do Rio Doce contaminado, e que mostraram a presença de metais tóxicos em todo o organismo estudado. Além disso, segundo Pereira, o desastre acabou criando um ambiente propício para o surgimento de novos seres vivos nocivos à saúde humana. “Há vírus e bactérias que surgiram da contaminação com determinados metais tóxicos. Portanto, esse fenômeno causou mudanças químicas, físicas e biológicas em toda a bacia do Rio Doce. Além das nascentes contaminadas”.

Com relação a possível contaminação, a Renova afirma que o rio Doce é enquadrado na classe 2 pelo Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente), isto é,  a água pode ser consumida após tratamento convencional e ser destinada à irrigação. A análise da água é realizada antes de passar pelas Estações de Tratamento de Água (ETAs) e após o tratamento, na etapa que antecede a distribuição, processo que é de responsabilidade das concessionárias locais. 

Monitoramento

Após o rompimento da Barragem, o Rio Doce se tornou o mais monitorado do Brasil. Com base em mais de 6 milhões de dados coletados, o Programa de Monitoramento QualiQuantitativo Sistemático (PMQQS) mostra que as condições da bacia são hoje as mesmas de antes do rompimento. 

Segundo a Fundação Renova, os mesmos dados que permitem afirmar que a água do rio Doce está em condições semelhantes às de antes do rompimento asseguram que ela pode ser consumida após passar por tratamento nos sistemas de abastecimento dos municípios

Recuperação

Para combater os impactos causados pela tragédia, um Termo de Transação e de Ajustamento de Conduta (TTAC) foi assinado, entre várias entidades, entre órgãos da Federação, órgãos estaduais e municipais, e representantes do comitê de bacias, em março de 2016.

As ações foram divididas em duas frentes principais. A primeira foi voltada para reverter ou diminuir os impactos causados pelo rompimento, como o manejo do rejeito, reconstrução de vilas e pagamento de indenizações. A segunda, mais voltada para os danos ambientais, visou a restauração florestal, recuperação de nascentes e saneamento para os municípios ao longo do Rio Doce.


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