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Mãe escreve carta emocionante após morte de filha em Aracruz: "Nunca verei do que ela seria capaz"

Thais Fanttini Sagrillo Zuccolotto fez um desabafo emocionante após a morte da pequena Selena, de apenas 12 anos; a menina foi alvo do atirador, de 16, que invadiu escolas de Aracruz e deixou outras vítimas

Lais Magesky

Redação Folha Vitória
Foto: Thais Fanttini Sagrillo Zuccolotto/Arquivo pessoal
Selena Sagrillo, de 12 anos, morreu vítima do atirador de 16 anos que invadiu duas escolas em Aracruz

A mãe da menina Selena Sagrillo, de apenas 12 anos, que morreu no ataque a escolas em Aracruz na última sexta-feira (25), escreveu uma carta em que lamenta e faz um desabafo de sofrimento pela perda da filha. 

A reportagem do Folha Vitória recebeu o documento da assessora da escola particular em que a menina estudava. Segundo ela, a intenção da mãe é que a mensagem da carta "chegue o mais longe que puder". Leia na íntegra:

"Escrevo este texto do computador e quarto de minha filha Selena, que agora amargam sua ausência. Escrevo, pois não tenho mais voz para falar, não tenho mais lágrimas para chorar.

O lamento, a dor e angústia que estavam no meu peito antes, agora, começam a dar lugar ao sentimento de entendimento, aceitação e saudade.

Sentada em meio ao pequeno caos criativo que era seu quarto, encontrei um texto que falou tão profundamente em meu coração que não consigo deixar de compartilhar com vocês, que tanto estão nos dando forças neste momento. O texto dizia:

'Vai ter um dia em que o mundo inteiro vai estar do seu lado, e esse dia é hoje. Eu esperei minha vida inteira. E tudo está bem. Completei meus 11 anos e tinha voltado ao bairro e a escola que cresci depois de dois anos em São Mateus (ES), e eu disse: Vai ter um dia que o mundo inteiro vai estar do seu lado, e esse dia está próximo.'

Realmente o dia estava próximo para minha filha. Havia 1 mês e cinco dias que ela havia completado 12 anos. O dia de sua morte, dia 25/11, foi também o dia do aniversário de meu pai, e seu avô Jose. Dia 01/12 será aniversario de seu outro avô, Laudérico. Daqui a trinta dias será Natal. Minha filha não verá os próximos jogos da Copa do Mundo e nunca mais se empolgará com um gol como aquele do Richarlyson, que ela achou “incrível”.

Jamais verei do que ela seria capaz. Ela estava se tornando uma mulher poderosa, alma livre, feminina. A promessa de uma vida inteira foi desfeita. Todo um futuro interrompido. A custo do ódio, do desamor, do terror. Não venho aqui clamar por retaliação, pois de ódio, estou farta.

Clamo por piedade e por segurança para nossas crianças serem as milhões de pequenas revoluções que elas poderiam ser. Segurança nas escolas, ruas, casas. Abrigadas e protegidas de todos os desterros do mundo. Longe da violência, drogas, armas e abusos.

Que a partida da Selena seja o início de uma nova revolução, assim como ela gostava, mas uma revolução baseada no amor e segurança para nossas crianças de todas as etnias, regionalidade, classe social e crença.

Esse é um lamento e um grito de uma mãe que padece com a perda de uma filha. Peço que nos mandem orações, amor, energias boas, seja qual for sua crença. Que o mundo se una pela Selena, assim como ela escreveu em seu texto, e por tantas outras Selenas pelo mundo.

Ass. Thais Fanttini Sagrillo Zuccolotto"

Foto: Thais Fanttini Sagrillo Zuccolotto/Arquivo pessoal

As outras vítimas

Foto: Divulgação | Montagem FV
Maria da Penha, Cybelle, Selena e Flávia morreram vítimas do atirador, de 16 anos

- Maria da Penha Pereira de Melo Banhos, de 48 anos (professora)

- Cybelle Passos Bezerra Lara, de 45 anos (professora)

- Selena Sagrillo Zucoloto, de 12 anos (estudante)

- Flávia Amboss Merçon Leonardo, de 36 anos (professora)

Entenda como foi o ataque em Aracruz

O ataque a duas escolas de Aracruz na última sexta-feira (25) deixou quatro mortos e outros 12 feridos. O atirador, de 16 anos e ex-aluno de uma das instituições, planejou o ataque por dois anos.

Para cometer o crime, o adolescente usou uma pistola .40, que pertence Estado e era usada pelo pai do jovem, policial militar, e um revólver calibre 38, arma particular do policial.

Foto: Reprodução

Os disparos aconteceram por volta das 9h30 na Escola Estadual Primo Bitti e em uma escola particular que fica na mesma via, em Praia de Coqueiral. 

O assassino invadiu a escola estadual com uma pistola e fez vários disparos assim que entrou na escola. Depois, foi até a sala dos professores e fez novos disparos. Na unidade, três professoras foram mortas.

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Na sequência, o atirador deixou o local de carro, do modelo Renault Duster, cor dourada e com as placas cobertas, e seguiu para a escola particular Centro Educacional Praia de Coqueiral, que fica na região. 

Na unidade, Selena foi morta. Após o segundo ataque, o assassino fugiu. Ele foi apreendido ainda na tarde de sexta.

Adolescente responderá por ato infracional

Na manhã de sábado (26), a Polícia Civil informou, por meio de nota, que o adolescente foi autuado por 3 homicídios e 10 tentativas de homicídio.

Ao ser questionada sobre a autuação pela quarta morte, a Polícia Civil explicou que o indiciamento só poderá ser feito ao final das investigações, que ainda estão no início. A autuação em flagrante difere do indiciamento, tendo em vista que se trata do momento do fato.

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