Imagine estar parado no trânsito de uma cidade como São Paulo e, ao levantar os olhos, se deparar com uma onça-pintada gigantesca estampada em um muro. Não é só arte urbana — é um grito de alerta, um convite à reflexão e, principalmente, um ato de amor à biodiversidade. Esse é o propósito do artista e ativista Fernando Berg, convidado do novo episódio do PodNatureza.

Berg começou sua jornada artística em 2011, pintando personagens urbanos. Mas a paixão pela fauna brasileira e a necessidade de transmitir mensagens mais profundas o levaram a transformar sua arte em ferramenta de conscientização ambiental.

Desde 2018, ele se dedica exclusivamente a retratar espécies nativas, muitas vezes ameaçadas, em murais de grande impacto visual e emocional.

Arte urbana como educação ambiental

“A arte de rua faz com que as pessoas pertençam ao mundo da arte. E quando essa arte mostra um animal que quase ninguém conhece, como o tatu-canastra ou a cuíca-d’água, ela também aproxima as pessoas da natureza”, explica o artista.

Além de pintar espécies pouco conhecidas, Berg busca provocar um olhar mais respeitoso e quase espiritual para com os animais.

Em muitas de suas obras, ele representa os bichos como divindades, adornados por coroas feitas com elementos da própria floresta. “Na minha cabeça, cada animal é um ser iluminado. Eles são maiores que a gente”, afirma.

Impacto social nos muros das cidades

Seus murais estão espalhados por vários biomas brasileiros reforçando o ativismo ambiental — Amazônia, Mata Atlântica, Pantanal, Cerrado — e sempre dialogam com as comunidades locais. Muitas vezes, sua arte ajuda a revitalizar áreas degradadas, como pontos viciados em descarte de lixo.

“Quando a gente pinta um animal em um espaço assim, o impacto é imediato. As pessoas começam a cuidar mais, a se sentir parte da transformação”, disse.

Parcerias com projetos de conservação

Para além da pintura, Berg também se envolve diretamente com projetos de conservação e pesquisa, como o Projeto Caiman no Espírito Santo, onde recentemente retratou o jacaré-do-papo-amarelo, espécie ameaçada e símbolo da fauna capixaba; e as saíra-apunhalada na Reserva Kaetés.

Espiritualidade e conexão com os animais

Sua arte é, ao mesmo tempo, poesia e protesto. Uma tentativa de reconectar a sociedade com o que somos: parte da natureza. “Se as pessoas pararem um pouco, observarem, elas se lembram. Basta um passarinho num fio de luz ou um peixe num rio urbano. A natureza está em todo lugar, mesmo na cidade. Basta olhar”.

🎧 Assista agora ao episódio completo no canal do YouTube Folha Vitória e inspire-se com essas histórias que conectam arte, ativismo ambiental, ciência e conservação!

Yhúri Cardoso Nóbrega

Colunista

Doutor em ecologia de ecossistemas, mestre em ciência animal e presidente do Instituto Marcos Daniel.

Doutor em ecologia de ecossistemas, mestre em ciência animal e presidente do Instituto Marcos Daniel.