Polícia

Assassinatos cometidos por policiais crescem em 2016 no Espírito Santo

Segundo o Conselho Nacional do Ministério Público, no último ano 34 pessoas foram mortas por policiais no Estado, enquanto, em 2015, foram registradas 25 mortes dessa natureza

Fiscal de loja foi morto na noite do último dia 2 de novembro Foto: TV Vitória

O número de homicídios causados por intervenção policial cresceu no Espírito Santo em 2016. De acordo com levantamento do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), no último ano, 34 pessoas foram mortas por policiais no Estado, enquanto, em 2015, foram registradas 25 mortes dessa natureza.

Algumas dessas ocorrências tiveram grande repercussão. Um exemplo é a morte do fiscal de loja Cleverton Oliveira Cabral, de 29 anos, que foi baleado dentro de um ônibus do sistema Transcol após um policial militar à paisana ter reagido a uma tentativa de assalto. O caso aconteceu no último dia 2 de novembro.

O assaltante teria obrigado o rapaz para ajudá-lo na ação, recolhendo pertences dos passageiros. O PM, que estava nos fundos do coletivo quando reagiu, disparou contra o bandido e também na direção de Cleverton, pensando que ele fosse comparsa do criminoso. O fiscal não resistiu aos ferimentos.

A morte de Cleverton caiu como uma bomba para toda a família. "É uma dor que eu não sei mais definir como é essa dor. A noite é longa, o dia é longo. E o que mais me dói é que foi pela mão de um policial, que era para defender, mas matou ele", desabafou a mãe do rapaz, Geraldina de Oliveira.

Dona Geraldina afirma que tem tido dificuldade de levar a vida depois da morte do filho. "Às vezes dá o horário dele sair ou de chegar e eu falo: 'ah, ele vai chegar'. Mas ele não vai. Esse policial destruiu tudo. Ele não matou só o meu filho, ele me matou também. Eu estou vegetando. Eu olho todos os dias os arquivos. A minha irmã fica brigando comigo, mas não tem como. Está muito difícil", lamenta.

Outra morte envolvendo policiais militares aconteceu no dia 8 de dezembro de 2016, durante um confronto de PM's com bandidos, na rodovia ES 010, em Nova Almeida, na Serra. Os suspeitos estavam de moto e foram abordados pelos militares, que desconfiaram deles e deram sinal de parada.

O condutor da moto até encostou o veículo, mas o carona teria descido atirando. Os policiais revidaram e balearam os dois suspeitos. Um ficou ferido e o outro morreu. 

Associação

Sobre as estatísticas registradas pelo CNMP, o presidente da Associação dos Oficiais Militares do Espírito Santo, major Rogério Fernandes, diz que recebe com tranquilidade os números.

"A associação busca atender e prestar toda assessoria ao seu oficial ou ao militar que precisar. Obviamente a legislação nos impõe a investigação policial, através do inquérito policial militar ou da instauração de uma sindicância", ressaltou.

O major ressalta que é preciso separar os casos de quando o PM age em serviço e de quando ele se envolve em um conflito fora da atividade. "O policial militar de serviço que, dentro do uso progressivo da força, tem que vitimar algum infrator, está defendendo a vida de um terceiro, ou a própria vida, e está abrigado pela excludente de legítima defesa. Agora, o policial militar, enquanto cidadão que se vê vítima de um crime, também pode e deve se defender, abrigado por essas excludentes", frisou.

A falta de punição a policiais militares, segundo o major, é um equívoco da sociedade e de famílias vítimas. "Esse senso comum do cidadão, de que não há punição para policial, é um pouco equivocado, porque a Polícia Militar realmente corta na própria carne quando há um desvio de conduta", afirmou.

A produção da TV Vitória/Record TV entrou em contato com a assessoria de comunicação da Polícia Militar do Espírito Santo e cobrou um posicionamento da instituição sobre o aumento do número de mortos decorrentes de intervenção policial e sobre a situação do policial suspeito de matar o jovem dentro do ônibus, mas, até o fechamento da reportagem, não havia obtido retorno.

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