"Vários cachorros morreram por negligência", afirma ex-funcionária de clínica interditada em Vila Velha
Jovem trabalhou no local por 6 meses e relata que presenciou várias irregularidades; ela chegou a ser agredida pelo veterinário depois que pediu reembolso a ele por uma cirurgia mal-sucedida feita em sua cadela
Uma ex-funcionária da clínica veterinária de André Carolino, interditada na última quinta-feira (09) no bairro Pontal das Garças em Vila Velha, devido às péssimas condições sanitárias e com cachorros mortos em freezers, declarou que o lugar não possuía as mínimas condições de funcionamento e que vários animais morreram por negligência do veterinário.
Ela falou com exclusividade para a reportagem da TV Vitória/ Record TV. A jovem de 25 anos, que pediu para não ser identificada por medo, trabalhou no local por 6 meses e contou o dia-a-dia do estabelecimento, que escondia as falhas e irregularidades dos procedimentos e não permitia acesso dos clientes para acompanhar o tratamento de seus cães e gatos internados.
Ela acredita que as mortes dos animais aconteceram, em grande parte, por negligência de Carolino. "Vários cachorros que passaram na mão dele, ele sabia que não tinha jeito. Ele sabia que eles deveriam ser encaminhados para um especialista, porque ele não sabia de tudo. Mas, mesmo assim, ele tentava arriscar a vida do animal", disse, citando pets que foram amputados depois que a cirurgia não dava certo.
Os procedimentos, segundo ela, eram acompanhados por pessoas sem nenhuma formação. "Era gente sem nenhuma formação veterinária, aplicando medicação, anestesiando os animais, acompanhando cirurgia", relata. Além disso, o pós-operatório também não era adequado. "O animal operado era confinado em um local que não era limpo, que não era esterelizado", reforça.
A moça disse que os clientes eram enganados pois não tinham acesso ao local de recuperação de seus cães e gatos. "Não havia acesso tanto para os clientes quanto para os fiscais da vigilância sanitária da Prefeitura de Vila Velha. Quando o cliente queria ver o cachorro, o animal era tirado de lá e levado até ele, na recepção. O cliente nunca entrava lá e não ficava sabendo das condições que seu animal estava", explica.
Ela decidiu fazer a denuncia depois do que aconteceu com sua cadela, que foi levada para lá, em uma noite. "Jamais indicaria aquele lugar para alguém. Mas a minha cachorra passou mal e era o único lugar que eu tinha para ir", relembra.
Após três dias da cirurgia, o animal começou a apresentar infecção no local operado. "Ela foi piorando, a cicatriz aumentava e saía muito pus. Eu a levei para outra clínica e pedi reembolso para o veterinário. Foi quando ele me agrediu", ressalta.
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A mulher afirma que no dia 1 de janeiro deste ano foi agredida pelo veterinário.
"Ele me agrediu dentro da clínica e também agrediu meu marido. Veio o primo dele na frente, ele no meio e o marido do primo dele atrás. Eu não tive reação nenhuma por não acreditar que ele iria me agredir. Não esperava isso dele", conta assustada.
Ela denunciou o caso e fez exame de corpo de delito contra o veterinário.
Veterinário teve prisão em flagrante convertida para preventiva
Na tarde desta sexta-feira (10), após audiência de custódia, o veterinário André Carolino teve a prisão em flagrante convertida para preventiva. Ele vai continuar preso no Centro Penitenciário de Viana.
Ele havia sido preso, acusado de maus-tratos, durante uma operação realizada na manhã de quinta-feira (09) no bairro Pontal das Garças. A clínica em que ele trabalhava e onde era o proprietário foi interditada.
A reportagem da TV Vitória/Record TV apurou que, no local, havia dois freezers com vários cachorros mortos congelados. Segundo a polícia, havia pelo menos 17 animais nos equipamentos.
A ação resgatou pelo menos 14 animais internados. Segundo o titular da Delegacia Especializada de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA), delegado Eduardo Passamani, foram encontradas condições insalubres de centro cirúrgico e acomodação, medicamentos vencidos, animais mortos, entre outras irregularidades.
A operação contou com a participação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) Estadual de Maus Tratos, da Assembleia Legislativa do Espírito Santo (Ales), do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Espírito Santo (CRMV-ES), além da Secretaria de Meio Ambiente, Guarda Civil Municipal (GMVV), Secretaria de Defesa Social e Trânsito, Coordenação de Posturas, da Secretaria de Serviços Urbanos e Vigilância Sanitária, todos da Prefeitura de Vila Velha.
Por maus-tratos, ele pode pegar de dois a cinco anos de prisão.
Desde 2017, André Carolino enfrenta várias denúncias junto ao Conselho Regional de Medicina Veterinária do Espírito Santo (CRMV-ES). Ele foi condenado por duas vezes por falta ética. Atualmente, existem quatro processos contra ele. Sendo julgado, ele pode ser cassado e ficar proibido de exercer a profissão.
Sobre a agressão sofrida pelo casal e relatada pela ex-funcionária, a Polícia Civil foi procurada para saber como estão as investigações. A reportagem será atualizada quando for enviada resposta.
A defesa do veterinário disse que só vai se manifestar após ter acesso aos documentos do processo.
