Polícia

Operações de segurança no Rio levaram à queda de 70% no roubo de cargas

Também fazem parte dos resultados da operação a prisão de 2.706 pessoas e a apreensão de 174 armas de fogo, 66 toneladas de maconha e 1,5 tonelada de cocaína, além da recuperação de 490 veículos

Em seis semanas de operação no Rio de Janeiro – sendo duas de preparação e quatro de ações –, o Plano Nacional de Segurança levou à queda de 70% no roubo de cargas, na comparação com a média desse ano. Também fazem parte dos resultados da operação a prisão de 2.706 pessoas (a maioria foragidos da Justiça) e a apreensão de 174 armas de fogo, 66 toneladas de maconha e 1,5 tonelada de cocaína, além da recuperação de 490 veículos.

Os dados foram divulgados pelo ministro da Justiça, Torquato Jardim, que participou hoje (30) do seminário Reage, Rio! O evento, promovido pelos jornais O Globo e Extra, debate até amanhã (31) segurança, mobilidade urbana, recuperação econômica, ética, turismo e políticas públicas em saúde e educação.

Segundo Jardim, os números compreendem toda a Operação Rio, que faz um trabalho integrado entre todas as forças de segurança e começa nas fronteiras, não se restringindo ao território do estado. “É da operação toda. Chama-se Operação Rio, mas ela começa na fronteira. É uma operação nacional, o crime não está só aqui. Como dizem os cariocas, as drogas não foram produzidas aqui e as armas não foram construídas aqui, vieram de fora. Vieram da Colômbia, do Peru, dos Estados Unidos. A operação é no fluxo para o Rio, não é para São Paulo, Brasília, Bahia, Porto Alegre. Esses números são do fluxo Rio”, explicou.

O ministro destacou que os resultados são “ótimos”, levando em conta que a operação vai atuar por 18 meses e os “números robustos” são relativos apenas a quatro semanas de ação. Jardim defendeu também que seja criado um fundo nacional para a área de segurança pública.

"O debate está presente, não é só o Congresso Nacional que tem que deliberar isso. Os estados têm que levar essa voz ao Congresso Nacional. Claro que você falar de uma despesa dessa natureza num momento em que os orçamentos públicos dos estados e da União estão como estão, deficitários, numa economia que começa agora a se recuperar, fica aquela dúvida: tem dinheiro ou não tem dinheiro? Mas eu acho que se pode fazer um fundo eleitoral de R$ 3,6 bilhões, eu acho que pode fazer um fundo de segurança pública de R$ 3,6 bilhões. Vamos rachar”, sugeriu o ministro.

Consequências da política de drogas

Na mesma mesa de debate, o coronel da Polícia Militar Robson Rodrigues, ex-comandante das unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) e pesquisador da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), disse que os índices de criminalidade voltaram a crescer desde 2015, após a queda decorrente de políticas implantadas como as UPPs e o Sistema de Metas (SIM). Mas, segundo ele, após a euforia dos bons resultados, os ganhos não foram incorporados de forma estrutural nas ações.

“O SIM era baseado em salários diretos, então em momentos de crise, onde não se tem como pagar isso, perde a motivação do policial. Nas UPPs, houve uma expansão além das possibilidades, faltou reforma policial e tinha baixa capacidade investigativa, além da debilidade do sistema de justiça criminal e corrupção e violência policial”.

O coronel falou também da seletividade do encarceramento, na qual a “cilada da guerra das drogas” levou para o sistema prisional 25% dos homens presos e 63% das mulheres. “Uma pesquisa do ISP [Instituto de Segurança Pública] sobre drogas ilícitas mostra que maconha, crack e cocaína são as drogas mais aprendidas e houve aumento da apreensão. Até 2006, a maior parte era apreendida com usuário, mas passou a ser enquadrado como tráfico depois da nova Lei de Drogas. A legislação é ambígua e deixa para interpretação do policial. Do total de 120 toneladas de drogas, 91% das apreensões entre 2010 e 2016 foram de maconha. Na motivação da letalidade, 21% está relacionado ao tráfico de droga”.

Perguntado sobre legalização das drogas, Rodrigues defendeu a regulamentação da maconha, porque “desoneraria e muito as polícias Civil e Militar para que elas pudessem focar em outros crimes que temos que priorizar, como homicídios e armas”.

“Nós estamos nessa guerra, matando e morrendo por quantidades ínfimas de maconha. Isso gera muitos debates acalorados, mas por questões práticas e pelas evidências científicas, pelo esgotamento das polícias – que envolvem mais de 80% das suas energias nesse tipo de criminalidade –, pelo menos nós temos que pensar, de uma forma racional, para achar um denominador comum”.

A pesquisadora do Instituto Igarapé Michele dos Ramos também defendeu a discussão sobre a política de drogas e afirmou que a “guerra as drogas” atinge principalmente a juventude negra do país. Ela também lembrou que o Brasil é campeão em número absoluto de homicídio no mundo, com 59.080 casos em 2015, segundo mapa da violência, e que menos de 10% são esclarecidos e levam a uma condenação.

“Também somos o quarto país em encarceramento, com 656 mil presos, e 40% aguardam julgamento. Temos uma alta taxa de letalidade policial e a estimativa do custo da violência chega a 5,9% do PIB. Na última década, tivemos a piora de todos os indicadores de violência. Os roubos vêm aumentando desde 2012 e a violência letal diminuiu de 2012 para 2015, mas voltou a subir de lá pra cá.”

Michele concluiu que a “pós-verdade é a narrativa do medo não são boas conselheiras” e defendeu a repressão qualificada e a modernização das políticas de segurança. “É preciso uma revisão da política de drogas e regulação responsável das armas e munições. Do total, 72% dos homicídios no país são cometidos com arma de fogo, e chega a quase 80% no Rio de Janeiro”.

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