Polícia

Advogada presa teria mandado trechos de depoimentos de testemunhas a chefe do tráfico

Segundo denúncia apresentada pelo MPES, Patrícia Cavalcanti é a advogada com o maior trânsito entre os indivíduos apontados como líderes do PCV

Rodrigo Araújo

Redação Folha Vitória
Foto: Montagem Folha Vitória
Patrícia foi presa suspeita de facilitar comunicação entre integrantes de quadrilha

Presa nesta sexta-feira (13), suspeita de facilitar a comunicação entre integrantes de uma quadrilha que atua no tráfico de drogas no Complexo da Penha, em Vitória, a advogada Patrícia dos Santos Ferreira Cavalcanti teria repassado a um dos líderes dessa organização criminosa trechos de depoimentos de testemunhas, que eram ouvidas sob sigilo.

A informação consta na denúncia apresentada pelo Ministério Público Estadual (MPES) à 10ª Vara Criminal de Vitória, que determinou a prisão preventiva da advogada. Patrícia se apresentou, pela manhã, na sede do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), em Vila Velha. 

Depois de prestar depoimento, a advogada recebeu uma tornozeleira eletrônica e cumprirá prisão domiciliar. Além disso, a Justiça determinou a suspensão do exercício da profissão de Patrícia.

Ela e outros nove advogados são investigados pelo MPES no âmbito da operação "Armistício", deflagrada no dia 19 de junho. Os advogados são suspeitos de facilitar a comunicação entre líderes da quadrilha, denominada Primeiro Comando de Vitória (PCV), que estão presos e comparsas foragidos da Justiça.

Segundo o Ministério Público Estadual, a partir dessas trocas de mensagens, os criminosos, mesmo presos, mantinham o controle do tráfico de drogas, negociavam compras de armas e ordenavam a execução de crimes violentos, como homicídios e incêndio a ônibus.

Advogada possui maior trânsito entre líderes do PCV

De acordo com a denúncia apresentada pelo MPES, Patrícia é a advogada com o maior trânsito entre os indivíduos apontados como líderes do PCV. Segundo as investigações, ela goza de "grande prestígio" junto à quadrilha e tem total confiança de Fernando Moraes Pereira Pimenta, o Marujo, uma das principais lideranças da organização criminosa.

O Ministério Público cita que, durante uma audiência virtual, Patrícia transmitiu a Marujo trechos de declarações de testemunhas que prestaram depoimento de forma sigilosa, colocando em risco a integridade física dessas pessoas.

Segundo o MPES, também foram encontradas nos dados de nuvem de Marujo fotos da tal audiência, que teriam sido encaminhadas a ele pela advogada.

Ainda de acordo com a denúncia, pela sua posição privilegiada na estrutura do setor jurídico da organização criminosa, Patrícia não se destaca na lista de profissionais que costumam comparecer aos presídios para atender detentos.

No entanto, segundo as investigações, ela recrutou uma outra advogada para realizar o serviço. Dessa forma, as comunicações ilícitas entre presos e traficantes foragidos seriam feitas sob a gestão e influência de Patrícia.

A advogada em questão é Thelma Barcellos Bernardes, que também foi denunciada pelo Ministério Público Estadual.

A reportagem do Jornal Online Folha Vitória não conseguiu localizar a defesa dos advogados que foram alvos da operação Armistício.

Relembre a operação "Armistício"

A operação foi deflagrada pelo MPES, por meio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), no dia 19 de julho. O objetivo foi apurar crimes praticados pela organização criminosa autointitulada PCV.

Na ação, foram cumpridos 37 mandados de prisão preventiva e 13 mandados de busca e apreensão em municípios da Grande Vitória, Aracruz e São Mateus.

A operação apura a participação de advogados que se utilizam indevidamente de prerrogativas essenciais à advocacia para garantir comunicação entre lideranças criminosas que estão em unidades prisionais do Estado, além de integrantes em liberdade e foragidos do sistema judiciário. As investigações tiveram início em 2019.

As medidas judiciais de interceptações telefônicas e telemática, dentre outras diligências investigativas, culminaram na obtenção de provas de tráfico de drogas, aquisição e porte de armamentos e munições, execução e planejamento de crimes de homicídio, queima de ônibus e outras ações violentas. 

Segundo o Ministério Público, esses crimes eram executados por meio dessa comunicação exercida por advogados.

Ao todo, nove profissionais foram denunciados. Para todos eles a Justiça determinou a suspensão do exercício da advocacia, além da prisão domiciliar e monitoramento eletrônico por tornozeleira.

Dentre os crimes imputados a eles estão os de integrar organização criminosa, associação para o tráfico e tráfico de drogas. Os autos tramitam perante a 10ª Vara Criminal de Vitória.

Por meio de nota, a Ordem dos Advogados do Brasil no Espírito Santo (OAB-ES) informou que está acompanhando o caso e que tomará as providências cabíveis, observando o Código de Ética e Disciplina e as prerrogativas da advocacia.

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