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Confrontos deixam alunos e professores com medo em Vitória

Em uma semana, duas escolas foram alvos de balas perdidas em Vitória. Nesta quarta-feira (15), escolas do bairro Morro do Quadro, também na capital, foram fechadas por questão de segurança

Foto: Reprodução TV Vitória

A guerra entre traficantes tem se aproximado das escolas e deixado a educação na mira dos revólveres. Em uma semana, duas escolas de Vitória foram alvos de balas perdidas. Com medo, muitos alunos estão desistindo de frequentar as aulas presenciais. 

O vidro da janela de uma escola municipal do bairro Andorinhas foi atingida por um disparo na tarde da última terça-feira (14). Por sorte, no momento do tiroteio, nenhum aluno estava na sala de aula. O fato é que a violência nas comunicadas da capital do Espírito Santo tem deixado estudantes e professores assustados. Uma das funcionárias da escola atingida pelo tiro relata que a rotina de trabalho é marcada pela insegurança. 

"Eu nunca tinha ouvido tiros. Não com essa potência. A gente percebe que são metralhadoras muito pesadas. Essa situação está muito difícil", desabafou. 

Diversas cápsulas calibres 380 e ponto 40 foram encontrados após os disparos. O poder de fogo dos criminosos amedronta a comunidade. Nesta quarta-feira (15), uma granada de fabricação caseira foi deixada próximo à escola.

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No ataque que ocorreu na terça-feira, testemunhas contaram que um grupo armado veio da direção da maré. Os criminosos já teriam chegado na rua atirando. Muitos moradores estavam no local e saíram correndo.

Uma das professoras da escola revelou que já foi orientada a abandonar a função que ocupa. "Tive uma situação na família que me pediram para largar. Mas eu não posso. Aquelas pessoas precisam da gente", afirmou. 

O diretor do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Espírito Santo (Sindiupes), João Paulo, afirma que tem conhecimento da violência que ronda as escolas. 

"O sindicato vê com muita preocupação essa questão. Temos vidas que precisam ser resguardadas. É necessário um aparato para todos os profissionais e, consequentemente, para os estudantes e a comunidade escolar", disse.

Para João Paulo, é preciso criar oportunidades para os moradores das comunidades. 

"Esperamos que sejam tomadas previdências, mas não de um dia para o outro. Policiamento ajuda, mas é necessário o envolvimento de projetos para que essas pessoas das comunidades tenham oportunidades".

Criança foi atingida por bala perdida em Jardim da Penha

Foto: Reprodução/ WhatsApp

Na última quinta-feira (09), uma menina de 10 anos foi atingida de raspão por uma bala perdida dentro de uma creche particular no bairro Jardim da Penha, em Vitória. De acordo a polícia, a criança estava na quadra da escola, quando avisou para o professor de uma dor na altura da virilha.

Ao se aproximar da menina, o professor viu uma bala no chão perto da criança. Ele acionou a direção da unidade, que entrou em contanto com a família da criança. Ela foi levada pela mãe para um hospital.

Segundo testemunhas, o disparo veio de fora da unidade. Algumas pessoas especularam que o tiro poderia ter vindo do bairro Andorinhas. Segundo a polícia, o local de onde partiu o tiro ainda é desconhecido.

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A insegurança da região de Andorinhas também é vivenciada por moradores de outras comunidades da capital. No Morro do Quadro, por exemplo, duas escolas precisaram ser fechadas nesta quarta-feira (15). 

Pela manhã, moradores fizeram um protesto na região. Dois ônibus foram apedrejados. A manifestação foi motivada pela morte de um jovem durante um confronto entre suspeitos e policiais militares que aconteceu entre a noite de terça (14) e a madrugada de quarta-feira.

Segundo a polícia, o jovem de 22 anos estava em posse de uma arma calibre 38 e um rádio comunicador. A família afirma que o rapaz era inocente. 

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Reprodução/TV Vitória
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Foto: Reprodução/ WhatsApp TV Vitória
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Waslley Leite/ TV Vitória
Waslley Leite/ TV Vitória
Waslley Leite/ TV Vitória
Waslley Leite/ TV Vitória

Os desafios impostos pela realidade faz com que muitos alunos deixem de frequentar as salas de aula com medo de serem baleados. "Crianças acabam não indo para escola. Há uma evasão enorme e isso é muito ruim, é lamentável", pontuou uma professora. 

Para a Associação de Professores de Vitória, Aguinaldo Rocha, a preocupação é grande. "A periferia está sofrendo as consequências da falta de políticas que já não ocorrem há muito tempo. A violência nas comunidades não é causa, é consequência da falta das políticas culturais, sociais, da falta de emprego", frisou.

A secretária Estadual de Direitos Humanos, Nara Borgo, afirma que as políticas públicas de enfrentamento à violência do Espírito Santo se concentram nas regiões mais carentes e são voltadas principalmente aos jovens.

"São 25 escolas em tempo integral, só na Grande Vitória são 16. Temos os cursos de qualificação do programa Qualificar ES e estamos implementando os Centros de Referência da Juventude. Temos que ter cuidados porque se costuma pensar que a criminalidade está só nas classes mais baixas, mas ela é um fenômeno mundial que está em todas as classes sociais", disse. 

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Mesmo diante do que parece ser o caos, existe pessoas que seguem esperançosas, cheias de sonhos e amor pela educação. "Nas comunidades, existem pessoas do bem. Essas pessoas precisam se sobressair", defende a professora.

*Com informações dos repórteres Douglas Camargo e Lucas Pisa, da TV Vitória/Record TV. 

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